Elogio aos Doutores
e outras Mensagens
(Antônio Martins Filho)
Vianney Mesquita*
Porre de livros – ressaca de cultura! (Dito popular).
Há
exatos 35 anos, o Reitor Antônio Martins Filho – tipógrafo aos 11 anos –
iniciou a Coleção Alagadiço Novo, da Casa de José de Alencar da U.F.C., editando
livros de qualidade, todos saídos das oficinas da sua Imprensa Universitária. Inaugurou
o empreendimento o clássico Iracema,
após o qual, até o passamento do Reitor-Fundador da Universidade Federal do
Ceará, em 2002, foram produzidas muitas dezenas de trabalhos de literatura –
verso e língua prosa – ensaios acadêmicos e noutros gêneros passíveis de
publicação para recheio da cultura do nosso Estado e do País.
Tivemos
a grata experiência de editar, por duas vezes, com o selo da expressa Coleção, Resgate
de Ideias – Estudos e Expressões Estéticas (1996, 192 p) e A
Escrita Acadêmica – Acertos e Desacertos (1998, 204 p), este em
parceria com o Reitor José Anchieta Esmeraldo Barreto, bem como de assessorar o
Dr. Martins Filho no preparo de algumas edições.
O
volume de número 60 da Alagadiço Novo (1995) é este do título destas notas,
para o qual escrevemos, a rogo do Autor, as guarnições do livro, expressas no
texto seguinte, com algumas modificações, a fim de adaptar a escrita à
atualidade, haja vista o dinamismo da Língua Portuguesa.
Falece
razão a quem preludia, retirando do leitor o hours d’ouevre do repasto principal, adiantando tramas e narrando
lances, de sorte a desprover o texto do virgíneo estado em que o quis deixar
seu autor.
Assim
como não se conta filme, é inconveniente se proceda a comentários, conquanto
ligeiros, acerca do conteúdo intrínseco deste livro. É a mais nova produção de
enorme bom gosto, da lavra de um escritor que já nos deixa epônimo, mercê da
copiosidade de sua qualificada produção nos mais diversificados temas e motivos
humanos.
Isto
porque a obra martinsiana escrita –
eis o novo epônimo – é, apenas, a “estrelita” Antares ante a incomensurável
grandeza de Belteljauza, tal a magnitude de seu labor intelectual configurado
na inefável acumulação dos seus feitos. Non
omnia moriar – falou Ovídio para Antônio Martins Filho, n’ As Metamorfoses. Como ocorreu com Públio
Ovídio Nasão, nosso autor “jamais morrerá completamente”.
Eis
que o “Cardeal John Henry Newman do Século XX” fez universidades, transpondo o trivium e o quadrivium, que continham as
Sete Artes Liberais. O “Johann Fust do Cariri” doa aos acervos da Humanidade,
seus e doutros, livros a mancheia...
para o povo pensar (Castro Alves), muito além da Bíblia de Mogúncia.
Legou-nos, o “Abraão moderno”, uma prole de intelectuais, homens e mulheres de
bem, muito mais do que um solitário Isaac. Deixa-nos, entre a multiplicidade de
legados, que custarão a caber em codicilos e testamentos, o exemplo de coragem,
denodo e determinação, “vivendo como cigarra” – disse, remetendo-se a Jean de
La Fontaine.
Não
é, porém, numa aba francesa de livro que se pretende, como se fora um CD-ROM,
armazenar toda a excelsa produção do Prof. Antônio Martins Filho. Todos cantam
em metro e prosa a excepcional faculdade do Autor de reter ideias e fatos, não
se sabendo de que processos mnemônicos se utiliza para uma retentiva tão
segura, a mesma que James Amado divisou em Graciliano Ramos, nas evocações do
cárcere. Sua memória, cujo conteúdo ele se apresta a registar em escritos de
arte, ciência e até de tecnologia, é uma fotografia de perfeita definição, um hot medium, na acepção mcluhaniana,
também materializada nesta seleção de escritos esparsos que houve por muito bem
editar.
Umberto
Eco abona este salutar expediente, quando diz que as próprias coletâneas [...] podem ser encaradas como uma galáxia de
observações não totalmente desconexas, entre as quais quem lê poderá
estabelecer as ligações que lhe pareçam oportunas.
Elogio aos Doutores e outras Mensagens reúne escritos estéticos, ensaios, textos de
história e historiografia, grandes coisas, muitos fatos, imensos homens, numa
seleta de interessante e diversificada temática, reavendo excertos inéditos ou
de há muito publicados em media
impressos de pequena circulação. É livro de matéria vária que, além de enfeixar assuntos de grande interesse e valor,
encerra a vantagem de, como numa obra do mais difícil dos gêneros – o conto – ter
o leitor, a cada curto segmento, a oportunidade de rematar um tema, porquanto
não há liames rígidos entre as partes do todo.
Honra-nos
aos cearenses esta pertença à espécie de Antônio Martins Filho, que nos oferta
este regalo da maior acuidade intelectual em plena quadra do Advento – dezembro
de 1995.
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