ESQUERDA, DIREITA
OU VOLVER?
Rui Martinho Rodrigues*
A política é a arte do possível e aliança se
faz com o diferente. Os limites de manobra, porém, são imprecisos e ocultam
armadilhas. A arte do poder envolve considerável margem de imprevisibilidade.
Personagens inteligentes e hábeis podem pisar em laços. A sagacidade da raposa,
de que Maquiavel (1469 – 1527) falava é necessária.
Ciro Gomes, com sua inteligência, facilidade de
expressão e ânimo declarações contundentes, desfruta das vantagens e
desvantagens de tais atributos. Compreendeu bem a dinâmica do processo
político. Percebeu o deserto de líderes do momento e a lacuna da conjuntura
política, decorrente disso. Foi cortejado e cortejou integrantes do PT, como o
senador Jaques Wagner, e de outros partidos de tendência socialista.
Lula, todavia, colocou obstáculo em seu
caminho. O caudilho de São Bernardo não perdoa quem tem potencial de
crescimento, podendo ameaçar o seu reinado. Stalin (1878 – 1953) cresceu dentro
do PCUS porque se fez de medíocre, obtendo o cargo que foi negado a outros,
porque havidos como capazes.
Desiludido com os socialistas, Ciro buscou apoio
dos partidos do chamado “centrão”. Assumiu, sem hesitação, o risco eleitoral da
aproximação com figuras desgastadas pelos escândalos por ele mesmo tantas vezes
profligados, desprezando ainda o contraste ideológico entre as duas tentativas
de aliança. O acordo não saiu.
O mestre florentino, aqui citado, recomendava,
a esperteza da raposa, para evitar os laços e a força do leão, para afugentar
os lobos. Ciro foi mais leão do que raposa. Afugentou o “centrão” e as
esquerdas.
O ex-ministro Delfim Netto, cuja inteligência,
saber e facilidade de expressar argumentos bem articulados, saiu do governo
Figueiredo e elegeu-se deputado sucessivas vezes, sem precisar fazer campanha.
Quando Lula foi eleito Delfim o apoiou. O
grande economista sabe que aliança se faz com o diferente e é da essência da
política. Não sabe, porém, quais são os limites para tais manobras. Depois da
aliança com os governos do PT Delfim ficou sem mandato. Fora da polaridade
esquerda e direita, perdeu a confiança dos antigos eleitores, mas não ganhou o
apoio dos novos aliados. A esquerda não perdoa.
A polarização do momento não é receptiva aos
roteiros sinuosos. Uns são reconhecidos como direita, outros como esquerda e
outros como volver. O isolamento destes é a tendência do momento. A eleição de
1989 e a atual têm alguma semelhança. A estrutura partidária e o tempo de
televisão de nada valeram aos candidatos que mais contavam com tais trunfos:
Ulysses Guimarães (1916 – 1992) e Aureliano Chaves (1929 – 2003) tiveram
votação pífia, apesar de ainda não existirem as redes sociais. O tempo de
televisão, proporcionado pelos acordos, não vale o preço que está sendo pago.
Inteligência
e agilidade podem trazer desvantagens. Quintino Cunha, repentista hábil, não
deixou nada escrito. A agilidade desvia da reflexão. A capacidade dos Ferreira Gomes,
demonstrada na liderança construída no Ceará, precisará de cautela para evitar
os laços. Ciro já está carimbado como volver e a força do leão não afugentará
os lobos nacionais. O Brasil não é o Ceará.
Porto Alegre, 20 de julho de 2018.
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