O NOVO TEMPO
E A POLÍTICA
Rui Martinho Rodrigues*
Vivemos um novo tempo. A Pós-modernidade é
caracterizada pela instabilidade das referências, o relativismo cognitivo e
axiológico, a inovação tecnológica constante e o fim do segredo. A imprevisão
tornou-se aguda.
Compreender o mundo e exercer liderança tornou-se mais
difícil. Intelectuais, políticos, sindicatos e partidos sofrem descrédito
crescente. A transparência do novo tempo, expondo o lado podre das lideranças e
instituições muito contribuiu para isso. A complexidade do mundo e a difusão de
informações evidenciaram a fragilidade das narrativas ideológicas.
Falar em pobreza comparada, sob o nome de
desigualdade, quando o que interessa é a pobreza objetiva, revelada pelos
indicadores tais como os de esperança de vida, escolaridade e acesso aos bens
que significam conforto, continua seduzindo os que padecem de indigestão de
letras. Mas a desilusão com os que aparentam virtude, seguindo o conselho de
Maquiavel (1469 – 1527), é um fenômeno crescente.
Estatizar a solidariedade, retirando-a de
sobre os próprios ombros, convence cada vez menos. O exercício do poder pelos
que se presumem sábios e virtuosos perde credibilidade. São os que se propunham
a governar como os reis filósofos da República de Platão (427.
a. C – 347.C.). Manipulam as massas. Prometem bem-estar. Fingem representar,
mas querem dirigir. Perderam credibilidade no mundo inteiro.
No Brasil tudo é mais agudo. A instabilidade
das referências dissolveu a separação dos poderes. O Judiciário legisla e
executa. A difusão da informação desmascarou os que se passavam por defensores
dos fracos e oprimidos. O assassinato de reputações voltou-se, como um
bumerangue, contra quem o praticava.
Os estranhos no ninho da política – ou quem
nele habitava como um corpo estranho – desgastaram-se menos. Os anticorpos da
velha política atacam violentamente os corpos estranhos no seu território, para
o que não faltam bons argumentos. Estranhos não sabem navegar no organismo
invadido. São incompetentes. Mas o que o espírito do novo tempo deseja é
ruptura com o mecanismo carcomido. O Brexit e a eleição de Donald Trump,
respectivamente no Reino Unido e nos EUA, tornaram evidente a opção pela
ruptura, não uma escolha pela competência (desacreditada).
Líderes e instituições em crise política,
econômica e ética representam o abismo. Mas do caos nasce a luz? Então a
história está grávida. Não se sabe quão demorado e doloroso pode ser o parto.
Velhas doutrinas falharam. Os sem-doutrina mostram-se despreparados, a não ser
que o único preparo necessário seja a disposição para romper com as velhas
doutrinas, que tanto infelicitaram o mundo, e ousar inovar.
Crise é impasse e
oportunidade. Temos perdido muitas oportunidades. Um fantasma, porém, ronda a
política. Tolerado pelos que percebem a desmoralização generalizada como nivelando
todos por baixo; amparado pelos que perderam o acesso às tetas oficiais;
idolatrado pelos iludidos com a ideia mágica do bem-estar sem investimento e
sem produtividade. A Lava Jato poderá exorcizá-lo? Depende do STF.
Porto Alegre, 27 de julho de 2018.
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