quinta-feira, 6 de julho de 2017

HIDROLOGIA - Um Erro Bendito (CB)


UM ERRO BENDITO
Cássio Borges*


O Açude Castanhão sempre foi inviável, desde o momento em que foi concebido, no ano de 1985. Repito, no ano de 1985. Antes, não havia registro dessa obra nos anais e publicações do DNOCS (grande instituição, odiada por carteis locais, com jogos de interesses pessoais envolvidos) e da SUDENE (com esta, praticamente, conseguiram acabar).

Tudo era mentira, no final da década de 80 e início da década de 90, para atender a interesses subalternos dos seus idealizadores, promotores e seguidores. Era  avassaladora a propaganda e o marketing que se faziam em torno desta obra. Não vou citar nomes, mas registrei, a bem da História, todos estes fatos, e os documentei em livro, com argumentos técnicos convincentes para a posteridade. A sociedade os julgará.

Se fizermos uma análise hidrológica insuspeita, com dados reais e não fabricados, chegaríamos à conclusão de que o referido reservatório já deveria estar seco desde o início do ano de 2015. Ele só continua com água até os dias atuais por causa de um erro inconcebível de gestão. Bendito erro! Mas, que erro foi este?

Já escrevi três artigos no Jornal “O Povo” a este respeito. A capacidade hidrológica desse reservatório (que depende das chuvas em sua bacia hidrográfica) é, na realidade, de 2,4 bilhões de m³ de água e não 6,7 bilhões de m³. Ou seja, para efeito de “regularização de vazões”, a sua capacidade de acumulação é de 4,4 bilhões de m³ e não 6,7 bilhões de m³.

Esses 2,3 bilhões de m³ foram concebidos, adicionalmente, pelo extinto DNOS, para controlar as enchentes no Baixo Jaguaribe ou, melhor dizendo, para “amortecer” as enchentes no Baixo Jaguaribe. É o chamado “volume de espera”, para “amortecer”, ou reduzir o “pico das enchentes” no Baixo Jaguaribe. Esse “volume de espera”, obviamente, deve, sempre que possível, estar seco, pois se vier uma onda de cheia (hidrógrafa) maior do que 2,3 bilhões de m³, os diques de proteção à barragem, que são de terra,  correm o risco de romper, causando uma tragédia no Baixo Jaguaribe. Portanto, do ponto de vista hidrológico, o Açude Castanhão tem duas funções: a de “regularizar vazões” e a de “controlar enchentes”. É como se fossem dois açudes em um só, no mesmo local.

Esta acumulação adicional de 2,3 bilhões de m³ de água do volume de espera, no bom inverno de 2009, temerária e propositadamente foi cheio pelos gestores desse açude, quando tudo deveria ter sido feito para deixa-lo seco, sempre que possível. Esta é a filosofia do “volume de espera” para controlar enchentes.
Ganharam com isto mais 2,3 bilhões de m³ para seu volume de regularização de vazões, mas correram o risco dos diques (de terra) de proteção à barragem transbordarem e romperem, caso tivesse havido, naquela ocasião, uma chuva de 100 ou 120 milímetros, como as que ocorreram, nesta ordem de grandeza, em Granja e outras regiões do Ceará, no último dia 30 de junho.

É com este volume de 2,3 bilhões de m³, como disse acima, temerariamente acrescidos aos 4,4 bilhões de m³, que chegamos com água naquele reservatório até os dias atuais. Também tivemos uma ajuda de São Pedro com o inverno deste ano de 2017, pois os demais açudes da Região Metropolitana de Fortaleza “pegaram”, relativamente, bastante água, apesar das chuvas terem sido em torno da média e nos dando, assim, mais tranquilidade na gestão da água na R.M.F. até o final deste ano. 

Em face do exposto, pergunto: Será que podemos dizer que estamos no sexto ano de seca, apesar do aporte de mais de 2,5 bilhões de m³ de água em todo o Estado?



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