UM ERRO BENDITO
Cássio Borges*
O
Açude Castanhão sempre foi inviável, desde o momento em que foi concebido, no ano
de 1985. Repito, no ano de 1985. Antes, não havia registro dessa obra nos anais
e publicações do DNOCS (grande instituição, odiada por carteis locais, com jogos
de interesses pessoais envolvidos) e da SUDENE (com esta, praticamente, conseguiram
acabar).
Tudo
era mentira, no final da década de 80 e início da década de 90, para atender a
interesses subalternos dos seus idealizadores, promotores e seguidores. Era avassaladora a propaganda e o marketing que se
faziam em torno desta obra. Não vou citar nomes, mas registrei, a bem da História, todos estes fatos, e os documentei em livro, com argumentos técnicos
convincentes para a posteridade. A sociedade os julgará.
Se
fizermos uma análise hidrológica insuspeita, com dados reais e não fabricados,
chegaríamos à conclusão de que o referido reservatório já deveria estar seco
desde o início do ano de 2015. Ele só continua com água até os dias atuais por
causa de um erro inconcebível de gestão. Bendito erro! Mas, que erro foi este?
Já
escrevi três artigos no Jornal “O Povo” a este respeito. A capacidade
hidrológica desse reservatório (que depende das chuvas em sua bacia
hidrográfica) é, na realidade, de 2,4 bilhões de m³ de água e não 6,7 bilhões
de m³. Ou seja, para efeito de “regularização de vazões”, a sua capacidade de
acumulação é de 4,4 bilhões de m³ e não 6,7 bilhões de m³.
Esses
2,3 bilhões de m³ foram concebidos, adicionalmente, pelo extinto DNOS, para
controlar as enchentes no Baixo Jaguaribe ou, melhor dizendo, para “amortecer”
as enchentes no Baixo Jaguaribe. É o chamado “volume de espera”, para “amortecer”, ou reduzir o “pico das enchentes”
no Baixo Jaguaribe. Esse “volume de espera”, obviamente, deve, sempre que
possível, estar seco, pois se vier uma onda de cheia (hidrógrafa) maior do que
2,3 bilhões de m³, os diques de proteção à barragem, que são de terra, correm o risco de romper, causando uma tragédia
no Baixo Jaguaribe. Portanto, do ponto de vista hidrológico, o Açude Castanhão
tem duas funções: a de “regularizar vazões” e a de “controlar enchentes”. É
como se fossem dois açudes em um só, no mesmo local.
Esta
acumulação adicional de 2,3 bilhões de m³ de água do volume de espera, no bom
inverno de 2009, temerária e propositadamente foi cheio pelos gestores desse
açude, quando tudo deveria ter sido feito para deixa-lo seco, sempre que
possível. Esta é a filosofia do “volume de espera” para controlar enchentes.
Ganharam
com isto mais 2,3 bilhões de m³ para seu volume de regularização de vazões, mas
correram o risco dos diques (de terra) de proteção à barragem transbordarem e
romperem, caso tivesse havido, naquela ocasião, uma chuva de 100 ou 120
milímetros, como as que ocorreram, nesta ordem de grandeza, em Granja e outras
regiões do Ceará, no último dia 30 de junho.
É
com este volume de 2,3 bilhões de m³, como disse acima, temerariamente
acrescidos aos 4,4 bilhões de m³, que chegamos com água naquele reservatório
até os dias atuais. Também tivemos uma ajuda de São Pedro com o inverno deste
ano de 2017, pois os demais açudes da Região Metropolitana de Fortaleza
“pegaram”, relativamente, bastante água, apesar das chuvas terem sido em torno
da média e nos dando, assim, mais tranquilidade na gestão da água na R.M.F. até
o final deste ano.
Em face do exposto, pergunto: Será que podemos dizer que estamos no sexto ano de seca, apesar do aporte de mais de 2,5 bilhões de m³ de água em todo o Estado?
Em face do exposto, pergunto: Será que podemos dizer que estamos no sexto ano de seca, apesar do aporte de mais de 2,5 bilhões de m³ de água em todo o Estado?
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