O
DOM SEBASTIÃO DE CURITIBA
Humberto
Ellery*
Quando D. Sebastião, neto e sucessor de D.
João III, rei de Portugal, desapareceu misteriosamente, aos 24 anos de idade,
combatendo os sarracenos na batalha de Alcácer-Quibir, subiu ao trono seu
tio-avô D. Henrique I, o Rei Cardeal.
Com a morte deste, e com a dificuldade de
definir um herdeiro, o espanhol D. Felipe II, da casa dos Habsburgos, que era
viúvo de uma filha de D. João III, assumiu o poder e anexou Portugal à Espanha,
para tristeza do povo lusitano.
Como o corpo de D. Sebastião nunca apareceu,
os portugueses o imaginavam vivo e sonhavam com sua volta em breve para retomar
o trono e restaurar a independência de Portugal. Surgiu assim o Sebastianismo, e D. Sebastião recebeu
os agnomes de “O Desejado”, e “O Adormecido”.
Mesmo após a retomada do trono português
sessenta anos depois, com D. João IV (fundador da dinastia dos Bragança), essa
lenda persistiu por quase três séculos, dando margem a que surgissem farsantes
que, se passando por D. Sebastião, enganassem o povo. O mais famoso foi um
calabrês chamado Marco Túlio Catizone, que, mesmo sem falar português, enganou
muita gente em Veneza, e ficou conhecido como o D. Sebastião de Veneza.
Incrivelmente, esse sentimento atravessou o
Mar Tenebroso e chegou até nós, herdeiros dos lusitanos, que estamos sempre
sonhando com um D. Sebastião dos trópicos. Foi assim que surgiu o “Queremismo”,
que nos deu o D. Sebastião de São Borja, depois, montado numa vassoura, tivemos
o D. Sebastião de Campo Grande, em seguida tivemos o D. Sebastião das Alagoas,
e por último o D. Sebastião de Garanhuns. Deu no que deu!
Pois não é que já está em plena gestação, lá
na terra das araucárias, o D. Sebastião de Curitiba? É bem verdade que o Álvaro
Dias lançou seu nome apenas a Senador, mas o rapaz está sonhando mais alto,
quer ser Presidente da República. Se ele se contentasse em ser apenas senador
traria um enorme ganho para o estado do Paraná, haja vista que os outros são o
Roberto Requião e a Gleisi Hoffmann. Não é muita vantagem ser melhor que esses
dois, mas já é um ganho.
O seu grito de guerra, visando atrair para si
as preferências do eleitorado é: “querem acabar com a Lava-Jato”. Observem a
semelhança com o “não me deixem só!”, do Collor de Mello. Eu já assisti a esse
filme. E o artista morre no fim!
Por último, resolveu confrontar o Presidente
Temer, para se apresentar como seu contraponto, exatamente como “O caçador de
Marajás” fez com o Sarney. As críticas não precisam nem ser coerentes. O povão
quer é sangue.
Analisem comigo sua recente manifestação
criticando o aumento das alíquotas do PIS/Cofins sobre os combustíveis, feitas
via facebook, passo a passo:
1. Desviam 200 bilhões por ano praticando
corrupção.
“Desviam” quem, cara-pálida? O sujeito
está indeterminado. Além do mais, de onde saiu esse valor tão alentado? Quem
calculou, utilizando qual método de mensuração? Sabe a quem compete combater a
corrupção? Ao Ministério Público Federal. Como um valor tão grande passa todo
ano despercebido pelo MPF?;
2. Deixam de aprovar no Congresso medidas
anticorrupção.
O que o Congresso faz ou deixa de fazer tem
alguma coisa a ver diretamente com o Presidente? Já ouviu falar em Montesquieu
e a divisão dos poderes? Será que está se referindo às tais dez medidas? Um
amontoado de medidas inócuas, tanto que o MPF está empreendendo o maior combate
à corrupção da História sem precisar de nenhuma das tais desmedidas,
sendo que pelo menos quatro são absolutamente fascistas, como:
a) praticamente
a extinção do Habeas Corpus;
b) a
ampliação absurda das condicionantes da prisão preventiva;
c) o
teste aleatório de honestidade;
d) e
a admissão esdrúxula de provas ilícitas, quando colhidas de “boa-fé”.
3. Gastam mais do que devem inclusive via emendas
milionárias para parlamentares a fim de comprar o apoio parlamentar para livrar
o Temer da acusação legítima de corrupção.
O Governo Federal herdou do PT a maior
recessão da história, um déficit público gigantesco, promoveu um
contingenciamento de quase 50 bilhões de reais, inclusive em emendas parlamentares
obrigatórias e não obrigatórias, não tem mais onde cortar gastos sem
comprometer o funcionamento mínimo do governo. Das emendas liberadas mais de
60% foram destinadas à área da saúde, e o restante para educação e
infraestrutura. Se você acha que é legítima uma denuncia baseada apenas em
delações de um criminoso confesso, (que seu chefe premiou com um perdão
judicial, sem apresentar nem denuncia) sem nenhuma prova material, é porque seu
senso de justiça diverge diametralmente dos ditames do nosso arcabouço
jurídico.
4. E agora querem colocar a conta disso tudo no
nosso bolso aumentando impostos.
Qual a sua sugestão? Dar pedaladas fiscais?
Alterar a meta do déficit? Sabe as consequências? Ou é melhor aumentar uma
alíquota de um imposto de combustíveis que terá um impacto limitado na inflação
que continua em queda?
O nome do partido do Álvaro Dias, que pretende
sair candidato a Presidente da República com o Catão das Araucárias, por
enquanto, candidato a senador, é Podemos. Tomara que depois de eleitos não
queiram mudar a primeira consoante de Podemos, que é oclusiva bilabial surda,
por outra consoante, esta fricativa labiodental surda: “Fodemos”.
COMENTÁRIO:
Encontrei na página 139, do livro “Sanguessugas
do Brasil”, de Lúcio Vaz, duas passagens em que, na época, o deputado Álvaro
Dias (hoje senador) é citado em relação a investigação sobre a distribuição de
remédios e ambulâncias no Estado do Rio Grande do Norte, através da
Fundação Aproniano Sá.
“Uma
parcela desse material (medicamentos) foi utilizada com objetivos
eleitorais, outra nem sequer chegou ao destino. Duas emendas da bancada do Rio
Grande do Norte haviam colocado um milhão e oitocentos mil reais na fundação.
Individualmente, a maior contribuição havia sido do deputado Álvaro Dias
(PDT): um milhão e seiscentos mil reais. Duas das emendas que beneficiaram a
fundação, uma da bancada e outra de Álvaro Dias, destinaram 800 mil reais
para a compra de ambulâncias no Estado”.
Pergunta-se: Por que um deputado paranaense
destinaria emenda para o Estado do Rio Grande do Norte? Os remédios e as
ambulâncias foram objeto de investigação. No livro não consta acusação formal
contra a pessoa do deputado, mas fica sempre uma interrogação nessa história.
José Augusto Câmara
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