segunda-feira, 10 de julho de 2017

ARTIGO - Pusilânime (HE)


PUSILÂNIME
Humberto Ellery*


Foi com essa palavra – pusilânime – que uma parte da mídia brindou o Senador Tasso Jereissati, quando propôs abandonar o Governo Temer e aventar uma composição com o Rodrigo Maia.

Fazia muito tempo que eu não ouvia essa palavra, que chama a atenção pelo que ela tem de eufônica; aliás, eu gosto muito das palavras proparoxítonas, são palavras fortes, expressivas, ótimas para usar em discursos. Pena que algumas delas tenham uma conotação tão negativa, como energúmeno, e medíocre, por exemplo, ótimas para esse tempo em que se apresentam tantos “analistas”, “cientistas políticos”, “especialistas em generalidades”, transbordado de sapiência e deitando falação, principalmente na GloboNews.

A palavra pusilânime significa covarde, medroso, frouxo e vem do latim pusillis (diminutivo de  pullus, filhote de animal) que significa fraco, pequeno; juntamente com a palavra animus, que significa alma, espírito; portanto seu significado original é “alma pequena”. Certamente foi a isso que Fernando Pessoa se referiu quando, para enaltecer a bravura dos marujos portugueses, que com  muita coragem se lançaram ao Mar Tenebroso no século XVI (o século dos descobrimentos) e desvendaram a nós 2/3 do mundo como hoje o conhecemos. Não resisto à sua poesia;

Ó mar salgado, quanto do teu sal
são lágrimas de Portugal.
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
quantos filhos, em vão, rezaram!
Quantas noivas ficaram sem casar.
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena  (...)


Ocorre que chamar um tucano de pusilânime é muito pouco. Eles são também desleais, arrogantes e pretenciosos.

Antes de continuar quero deixar bem claro que (até por falta de opção) já votei em vários deles: o FHC, o Alckmin, o Aécio, e o próprio Tasso, já votei nele para governador e para senador, e acrescento que não me arrependi.

Mas me atrevi a criticá-lo, de forma até mais ácida do que costumo, porque “prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem”, como dizia Santo Agostinho.

Resolvi fazê-lo agora porque, a par de tantos “predicados”,  nunca tinha percebido nos tucanos uma tão grande incapacidade de perscrutar o cenário político. Não, eu não tenho bola de cristal, e quem disser que sabe o que vai acontecer na política amanhã, está, no mínimo, mal informado. Mas não custa desenhar os diversos cenários possíveis, antes de tomar decisões tão drásticas quanto postergáveis, desnecessárias no curtíssimo prazo.

Para o Temer ser apeado do poder a Câmara dos Deputados terá que decidi-lo numa votação em plenário, quando 2/3 dos senhores deputados terão que votar favoravelmente à aceitação da denúncia da PGR. Isso significa 342 deputados votando contra o Temer. Será que a oposição consegue numero tão expressivo?

Claro que não é impossível, mas é muito difícil. Nessas votações a Câmara normalmente se divide em quatro grandes grupos, a saber: 1º) Os deputados da base aliada (votam sempre com o governo); 2º) Os deputados da oposição (votam sistematicamente contra o governo); 3º) Os deputados que “precisam ouvir suas bases,  seus eleitores”; e 4º) A “turma da boquinha” (quanto é que eu levo nisso?).

Os da primeira turma são em maior numero que os da segunda. Ponto. A quarta turma já está recebendo suas emendas parlamentares, caso resolvido. A preocupação seria com a terceira turma, esta vai perceber que o povo não foi para as ruas, como durante o “Fora, Dilma”; a situação econômica do País está melhorando sensivelmente (é a economia, estúpido); existe disseminada no País  uma opinião de “ruim com ele, pior sem ele”, fora um certo fastio da sociedade com relação à participação no jogo político.

Outra coisa muito importante: a denúncia do Janot é absolutamente inepta, baseia-se unicamente na delação do Joesley, contrariando o § 16 do Art. 4º da Lei 12.580/13, que reza “nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações do agente colaborador”, diferentemente da denúncia da Janaína, do Bicudo e do Reale Jr. contra a Dilma, que era consistente e fundamentada, e quem vai defender o Temer não é o Eduardo Cardoso, mas o Antônio Claudio Mariz de Oliveira (quanta diferença!).


Para concluir, só mais uma palavrinha a respeito de Lealdade: como esperar lealdade do FHC, por exemplo, que abandonou o Serra em 2002 e falou “agora é a vez do Lula”, e o Tasso que abandonou o Serra para apoiar o Ciro?

Quanto a serem arrogantes e pretenciosos, basta olhar para a cara deles!




COMENTÁRIO:

Como sempre, muito bem colocados os brilhantes argumentos de Humberto Ellery, um dos mais ilustrados e mais assíduos colaboradores deste Blog.

Porém, nesse artigo, ele procura dentes em cágado quando espera que a política contemple as mesmas virtudes de que se compadecem outras instâncias de vida civil.

Entendo que a ética não é outra coisa senão a disposição pessoal de firmar e cumprir compromissos. E cada compromisso, explícito ou implícito, tácito ou escrito, é como uma das camadas de uma hipotética “cebola social”.

No seu cerne está a ética jurídica, que nasce do pacto tácito que cada pessoa de bem assume para viver em sociedade: observar as normas que nos códigos legais são minuciosamente estipuladas.

Sobre esse cerne, várias camadas da cebola simbólica sobrepõem-se. Tem-se a ética profissional, a ética da amizade, a ética religiosa, a ética familiar, dentre outras, que têm uma hierarquia própria e que cada uma deve ser atendida até o limite das éticas principais.

Pois a política é uma camada ética que não pressupõe a lealdade absoluta, razão pela qual tendem a evita-la as pessoas afeitas a rígidos princípios de moral. A política é essencialmente amoral.

O político é potencialmente um poltrão, é naturalmente um trânsfuga, é um pusilânime clássico, e isso não fere a sua ética porque não se pactua entre eles o contrário. São parceiros e aliados até um certo ponto de resistência – e se a pessoa do povo se espanta, isso é pacífico entre Suas Excelências.

O PSDB, à medida que constata o isolamento do Presidente Temer, dá sinais de que vai abandoná-lo, evitando receber um “abraço de afogado”. Dilma abandonou o Lula quando este queria voltar ao Palácio do Planalto. Temer abandonou a Dilma, quando ela caiu em desgraça. Agora ele será abandonado. Faz parte do script. É simples assim.    

Reginaldo Vasconcelos
   

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