PUSILÂNIME
Humberto
Ellery*
Foi com essa palavra – pusilânime – que uma
parte da mídia brindou o Senador Tasso Jereissati, quando propôs abandonar o Governo
Temer e aventar uma composição com o Rodrigo Maia.
Fazia muito tempo que eu não ouvia essa
palavra, que chama a atenção pelo que ela tem de eufônica; aliás, eu gosto
muito das palavras proparoxítonas, são palavras fortes, expressivas, ótimas
para usar em discursos. Pena que algumas delas tenham uma conotação tão negativa,
como energúmeno, e medíocre, por exemplo, ótimas para esse tempo em que se
apresentam tantos “analistas”, “cientistas políticos”, “especialistas em
generalidades”, transbordado de sapiência e deitando falação, principalmente na
GloboNews.
A palavra pusilânime significa covarde,
medroso, frouxo e vem do latim pusillis
(diminutivo de pullus, filhote de animal) que significa fraco, pequeno; juntamente
com a palavra animus, que significa
alma, espírito; portanto seu significado original é “alma pequena”. Certamente
foi a isso que Fernando Pessoa se referiu quando, para enaltecer a bravura dos
marujos portugueses, que com muita coragem se lançaram ao Mar Tenebroso
no século XVI (o século dos descobrimentos) e desvendaram a nós 2/3 do mundo
como hoje o conhecemos. Não resisto à sua poesia;
Ó mar
salgado, quanto do teu sal
são
lágrimas de Portugal.
Por te
cruzarmos, quantas mães choraram,
quantos
filhos, em vão, rezaram!
Quantas
noivas ficaram sem casar.
Para
que fosses nosso, ó mar!
Valeu
a pena? Tudo vale a pena
Se a
alma não é pequena (...)
Ocorre que chamar um tucano de pusilânime é
muito pouco. Eles são também desleais, arrogantes e pretenciosos.
Antes de continuar quero deixar bem claro que
(até por falta de opção) já votei em vários deles: o FHC, o Alckmin, o Aécio, e
o próprio Tasso, já votei nele para governador e para senador, e acrescento que
não me arrependi.
Mas me atrevi a criticá-lo, de forma até mais
ácida do que costumo, porque “prefiro os
que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem”,
como dizia Santo Agostinho.
Resolvi fazê-lo agora porque, a par de tantos “predicados”,
nunca tinha percebido nos tucanos uma tão grande incapacidade de perscrutar o
cenário político. Não, eu não tenho bola de cristal, e quem disser que sabe o
que vai acontecer na política amanhã, está, no mínimo, mal informado. Mas não
custa desenhar os diversos cenários possíveis, antes de tomar decisões tão
drásticas quanto postergáveis, desnecessárias no curtíssimo prazo.
Para o Temer ser apeado do poder a Câmara dos
Deputados terá que decidi-lo numa votação em plenário, quando 2/3 dos senhores
deputados terão que votar favoravelmente à aceitação da denúncia da PGR. Isso
significa 342 deputados votando contra o Temer. Será que a oposição consegue
numero tão expressivo?
Claro que não é impossível, mas é muito
difícil. Nessas votações a Câmara normalmente se divide em quatro grandes
grupos, a saber: 1º) Os deputados da base aliada (votam sempre com o governo);
2º) Os deputados da oposição (votam sistematicamente contra o governo); 3º) Os
deputados que “precisam ouvir suas bases, seus eleitores”; e 4º) A “turma
da boquinha” (quanto é que eu levo nisso?).
Os da primeira turma são em maior numero que
os da segunda. Ponto. A quarta turma já está recebendo suas emendas
parlamentares, caso resolvido. A preocupação seria com a terceira turma, esta
vai perceber que o povo não foi para as ruas, como durante o “Fora, Dilma”; a
situação econômica do País está melhorando sensivelmente (é a economia,
estúpido); existe disseminada no País uma opinião de “ruim com ele, pior
sem ele”, fora um certo fastio da sociedade com relação à participação no jogo
político.
Outra coisa muito importante: a denúncia do
Janot é absolutamente inepta, baseia-se unicamente na delação do Joesley,
contrariando o § 16 do Art. 4º da Lei 12.580/13, que reza “nenhuma sentença
condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações do agente
colaborador”, diferentemente da denúncia da Janaína, do Bicudo e do Reale Jr.
contra a Dilma, que era consistente e fundamentada, e quem vai defender o Temer
não é o Eduardo Cardoso, mas o Antônio Claudio Mariz de Oliveira (quanta
diferença!).
Quanto a serem arrogantes e pretenciosos,
basta olhar para a cara deles!
COMENTÁRIO:
Como sempre, muito bem colocados os brilhantes
argumentos de Humberto Ellery, um dos mais ilustrados e mais assíduos
colaboradores deste Blog.
Porém, nesse artigo, ele procura dentes em
cágado quando espera que a política contemple as mesmas virtudes de que se
compadecem outras instâncias de vida civil.
Entendo que a ética não é outra coisa senão a
disposição pessoal de firmar e cumprir compromissos. E cada compromisso,
explícito ou implícito, tácito ou escrito, é como uma das camadas de uma
hipotética “cebola social”.
No seu cerne está a ética jurídica, que nasce
do pacto tácito que cada pessoa de bem assume para viver em sociedade: observar
as normas que nos códigos legais são minuciosamente estipuladas.
Sobre esse cerne, várias camadas da cebola
simbólica sobrepõem-se. Tem-se a ética profissional, a ética da amizade, a ética
religiosa, a ética familiar, dentre outras, que têm uma hierarquia própria e
que cada uma deve ser atendida até o limite das éticas principais.
Pois a política é uma camada ética que não
pressupõe a lealdade absoluta, razão pela qual tendem a evita-la as pessoas
afeitas a rígidos princípios de moral. A política é essencialmente amoral.
O político é potencialmente um poltrão, é
naturalmente um trânsfuga, é um pusilânime clássico, e isso não fere a sua
ética porque não se pactua entre eles o contrário. São parceiros e aliados até
um certo ponto de resistência – e se a pessoa do povo se espanta, isso é pacífico
entre Suas Excelências.
O PSDB, à medida que constata o isolamento do
Presidente Temer, dá sinais de que vai abandoná-lo, evitando receber um “abraço
de afogado”. Dilma abandonou o Lula quando este queria voltar ao Palácio do
Planalto. Temer abandonou a Dilma, quando ela caiu em desgraça. Agora ele será
abandonado. Faz parte do script. É simples
assim.
Reginaldo Vasconcelos
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