domingo, 16 de julho de 2017

ARTIGO - Deformadores de Opinião (HE)


(DE)FORMADORES DE OPINIÃO
Humberto Ellery*



Eu fico deveras impressionado com a enorme quantidade de pessoas que, abrindo mão de formar suas próprias convicções, abraçam como suas as opiniões de “especialistas”, “cientistas políticos” e comentaristas em geral, das diversas redes de TV, jornais e revistas.

Recentemente, ao me acercar de um grupo de amigos que discutiam acaloradamente a respeito da sentença do Tribunal Superior Eleitoral, contrária à cassação da chapa Dilma/Temer, um deles repetia, ipsis litteris, as  palavras de um conhecido jornalista da GloboNews, que na noite anterior se manifestara veementemente contrário à decisão do Tribunal.

Quando meu amigo concluiu o replay eu prontamente manifestei minha discordância, defendendo a tese, afinal vitoriosa, de que ao TSE não caberia cassar a chapa Dilma/Temer.

O meu amigo cruzou os braços sobre o peito e, numa atitude entre desafiadora e debochada, perguntou-me: “quer dizer que você se acha melhor que o Merval Pereira?”

Engoli em seco e comecei a responder à provocação dizendo: “Meu amigo, eu não me acho melhor do que ninguém, inclusive o Merval tem um galardão com o qual eu não posso nem sonhar, pois ele é um ‘imortal’ da Academia Brasileira de Letras. Mas eu prefiro pensar com a minha própria cabeça do que com a de qualquer outro, pois quem anda na cabeça dos outros é piolho”.

É verdade que quando da eleição do citado jornalista para a ABL, vários intelectuais retomaram uma velha discussão a respeito dos critérios para o ingresso na Casa de Machado de Assis, uma vez que a “produção literária” do Merval se resume a dois livros completamente desimportantes no cenário editorial brasileiro, sendo um deles apenas uma coletânea de artigos seus, e o outro um apanhado de algumas reportagens feitas em coautoria.

A intelectualidade gaúcha foi a que mais protestou, por achar que o grande Moacyr Scliar merecia ser substituído por um intelectual à sua altura, requisito que o Merval fica muito longe de preencher.

Feita essa digressão, e voltando àquela discussão entre amigos, relembrei aos circunstantes que, entre outra baboseiras, o Merval afirmou que o TSE era uma jabuticaba, pois só no Brasil existe um tribunal eleitoral, e tendo em vista que historicamente só cassa vereadores, prefeitos, deputados e governadores, e como não servia para cassar um Presidente da República, então não deveria existir pois “não serve pra nada”. 

Só não fiquei mais indignado com essa afirmação tão estúpida, e até o perdoo, porque sei que isso não é uma opinião dele, mas da Rede Globo, fortemente engajada no projeto “Fora, Temer”, e a quem obedece cegamente, um mero porta-voz da empresa, para manter seu enorme salário.

A existência ou não de um tribunal para cuidar apenas de questões eleitorais é uma questão a ser discutida, mas afirmar que não serve para nada, somente porque não condenou quem ele queria, e por conta disso seria melhor que o Tribunal Eleitoral não existisse, fez-me lembrar de Danton, quando este afirmou que “a Revolução não precisa de tribunais, precisa de mais guilhotinas”  uma das quais cortaria o seu pescoço). 


Lembrei ainda do celerado Che Guevara (grande herói dos jovens universitários, que, estupidamente, carregam sua foto no peito), quando, em La Cabaña, ele gritou para um funcionário do Judiciário cubano: “Eu não preciso de provas para executar um homem. Apenas saber que preciso fazê-lo”. E seguiu fuzilando... até ser fuzilado. 



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