OS PARTIDOS E SUA REPRESENTATIVIDADE
Arnaldo Santos *
No artigo anterior examinamos as ações fora da curva
do Congresso Nacional e do poder judiciário, diante da
crise de (des)governo do Presidente Temer, em razão da corruPTopatia, que
atinge o chefe do Executivo e parte dos seus Ministros, na perspectiva da democracia no século XXI.
Iniciamos perguntando aos deputados e senadores, por
que teimam em manter uma legislação eleitoral e partidária que já se provou
falha do ponto de vista ético-político, corrupta sob o aspecto eleitoral, e
antidemocrática na perspectiva da participação popular, já que, embora não
proíba, tira do cidadão comum à possibilidade de êxito eleitoral nas disputas.
Desde a redemocratização nos anos 90 ficou
demonstrado que os partidos já não mais representam a sociedade brasileira. A
eleição do então Presidente Collor pelo inexpressivo
PRN evidenciou essa falta de representatividade, pois tanto o
candidato quanto o partido não tinham qualquer relação e representatividade com
a sociedade.
Com os avanços científicos e tecnológicos dos
últimos 30 anos, o fenômeno da comunicação online, alterando
substancialmente as relações sociais e as novas formas de organização da
sociedade, tornaram os partidos dissociados dos novos interesses, valores e
paradigmas da Nação, em razão de uma ação política antiética e corrupta,
quando em sua essência a política deve ter um sentido oposto a tudo isso.
As transformações pelas quais a sociedade brasileira
passou desde a Constituição de 1988 vão da permissão para utilização de células
tronco para fins científicos, a interrupção da gravidez de bebês anencéfalos,
passando pela legalização de união homoafetiva, com direito a herança após o
falecimento de um dos membros da união.
Por que insistir em uma forma de organização
político-partidária, que além de não mais representar a sociedade com seus
novos paradigmas socioculturais, impede a renovação da representação
legislativa, perpetuando no poder verdadeiras castas de fariseus hipócritas,
corrompendo todas as estruturas éticas e morais do poder, e ainda subtrai
bilhões e bilhões do povo brasileiro pela corrupção?
Para não ficarmos apenas na reflexão crítica sobre a
falência da forma atual em vigor, sugerimos com urgência um debate sobre a
formulação de um novo modelo de representação política, consoante com a
sociedade civil e suas organizações, já que o Congresso Nacional provou não ter
interesse em alterar o status quo.
O momento é oportuno para que, com a mesma ênfase e
entusiasmo que parte da sociedade tem ido às ruas protestar contra o Governo e
pedir o impeachment do Presidente
Temer, se inclua nessa pauta uma reforma político-partidária
e eleitoral que contemple um novo modelo de representação.
Uma legislação que permita que os estudantes secundaristas
e universitários, pelas suas várias organizações, como a UNE e os DCEs, possam
apresentar candidatos para o Legislativo e o Executivo. Assim teríamos
a renovação da representação política da sociedade, e novas
lideranças surgiriam com esse novo modelo.
Outra mudança que entendemos igualmente importante, para o aprimoramento do processo político eleitoral brasileiro, pode ser a
adoção da eleição do Presidente da República, dissociada da eleição de Deputado
Federal e Senador, para que assim com o Congresso já eleito a sociedade possa
conhecer qual a posição da maioria dos congressistas, em relação ao programa de
governo do Presidente eleito. As eleições coincidentes, como são atualmente, já
se comprovou que só servem para que o presidente se torne refém dos deputados e
senadores, e o Congresso se torne um balcão de negócios.
O mesmo valeria para as associações comunitárias,
sindicatos dos trabalhadores e empregadores, associações e comunidades
religiosas. Afinal os parlamentos estão cheios de representantes desses
seguimentos, via partidos, em geral de aluguel. A recém-eleição do Presidente
da França, Emanuel Macron, é um exemplo de que experimentar novas formas de
organização partidária, fora do modelo tradicional, pode ser um bom começo. Esse
debate é urgente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário