sábado, 16 de setembro de 2017

CRÔNICA-POESIA - Cochilo Sagrado (VM)


Cochilo Sagrado*
Vianney Mesquita*


O sono é um mergulho na Eternidade. (Coelho Neto).

Onde Deus possui um templo, possuirá Satanás uma capela. (Robert Burton).


Desde 2005, quando fui acometido e operado de infarto agudo do miocárdio, amiudei o comportamento de praticar as caminhadas, ao andar (eu e minha Help), em uma hora, seis mil metros em três dias da semana, perfazendo, pois, hebdomadários dezoito e mensais setenta e dois quilômetros.

Antigamente, não havia tal costume, o qual se foi proporcionar após os estudos procedidos pelo educador físico estadunidense Kenneth Cooper, que, em 1968, publicou o livro Aeróbica, originando a ginástica aeróbica – atividade ocorrente apenas em lugares onde bem circula oxigênio  de começo dirigida às Forças Armadas dos EEUU, depois entornada pela maioria dos países do Ocidente e, hoje, com variações, praticada em todo o Globo.

O leito dos andantes, objeto primeiro dessas linhas, coincide com as calçadas do Lago do Jacareí, na Cidade dos Funcionários-Cambeba, aqui em Fortaleza, neste tempo do ano contendo mais lama do que água, pois os esgotos das vizinhanças afluem todos para lá, às vistas e narinas das autoridades que, aqui-acolá, andam por ali, mas somente no tempo de eleição.

A despeito dessa circunstância, é impossível não se reconhecer a beleza do lugar, cheio de marrecas, socós, galinhas-d’água, patos (como a Janaína e o -de-Abreu) e muitas outras aves aquáticas, além de bem-te-vis, rolinhas, sabiás, campinas e outros tantos miúdos da orquestração matinal da Mãe-Natureza, de Arnold Toynbee.

Tão seco está, porém, que, como diz seu Maia, industrial (paraibano) que pratica essa conduta salutar revigorada dos anos 1970 em diante, os carás, quando passam uns pelos outros reclamam da poeira... O Lago, enfim, é muito mais sujo do que gravata de trocador e cordão de amarrar pato.

Essa caminhada é uma verdadeira aula de hilaridade com aqueles mais industriosos na graça pegando os mais tolos para Cristo. Nunca vi uma hora passar mais ligeiro! Não são pescadores, mas há uns dois ou três que mentem mais do que cachorro de acuar alma, em particular na pabulagem de riqueza. Parece que estou é vendo a cara deles, um dos quais porta um cacetinho para bater (matar!) em gato!

Quem disser besteira na frente do srs. Fernando, Custódio, Washington e alguns outros resta liquidado, pois a hora que eles fazem só tem intermitência até o outro dia, quando do início de outra sessão. Seu Sombra – que nunca termina de contar histórias do Reino Unido – sofre mais do que couro de pisar tabaco.

Dona Fátima, torcedora do Ceará, anda mais ligeiro do que as mãos do Gedel Dantas contando dinheiro “honesto”. Quando o Ceará perde, o que não é essa raridade toda, sofre mais do que caixão de figueiro dos anos 60, no tempo do FRIFOR! Ela só se conformou quando disseram que o Fortaleza, nosso Íbis, desceu para a quarta divisão (não está longe o leão capado), e, então, for desclassificado, vai para o Intermunicipal. – “Intermunicipal” não, – disse um interlocutor – ele vai é para o Intercolegial até se acabar ...” Enquanto isso, outro diz que [...] o Ferroviário é como sabonete – só tem nome no começo: ganha uma empata duas e perde o resto ....

O Damasceno apanha mais do que o cão para ir à Missa, com aquele andar mais errado do que joelho de galinha, mais desnorteado do que “avoo” de anum, quando disse, por exemplo, que “o cara tem mais de dez “domicídio”. Haja, Deus! O Sr. Raimundo, então, sempre mais por fora do que Coração de Jesus, apanha mais do que mala velha pra largar a poeira; dá um livro de quinhentas páginas em letra oito e espaço simples. Faço como o Ibrahim Sued: “depois eu conto”...

Agora foi o advogado Antônio Custódio Matos Neto, que passou de Cristo para Dimas, o bom ladrão, divisado pelo lusitano João Batista da Silva Leitão de ALMEIDA GARRET, n’O Mártir do Gólgota. Aliás, muitas pessoas pensam, equivocamente, que os nomes do Bom Ladrão e de Gestas, o outro, estão na Bíblia. Ele agora teve mais azar do que eu, quando encontro o engenheiro Miranda já na segunda volta. (Também experimentou sorte, entretanto, pois bom ladrão não vai para a Lava-Jato).

Ocorreu que, no Terço dos Homens, na nossa Paróquia da Gloria, realizado às terças-feiras, ele teve a desdita de ser flagrado pelos Drs. Washington e Mesquita (este o Padroeiro das Marrecas) cochilando já do quarto mistério e foi até o fim do terço: dormiu mais do que calango atrás de retrato de santo na parede; mais folgado do que pitomba em boca de banguelo.

Então, por que o sucesso ocorrera no dia 12 passado, terça-feira, já na quarta seguinte topei a risadaria por causa desse “escorrego sonífero-oracional.” Em razão de ele haver passado, no conjunto da negrada, de alfa para ômega, dediquei-lhe este soneto para amatar a sanha dos seus detratores cooperianos.



COCHILO SAGRADO


Rezar para o cristão é inexcusável,
Achega em oração ao cristológico,
Para obter a graça inestimável,
Privado de um pensar demonológico.

Dormir, a seu turno, é indispensável,
É um determinismo fisiológico,
Obrigatoriedade indescartável
Do natural sistema biológico.

Se de tal modo aconteceu na Igreja –
E por qualquer alegação que seja –
Quem reza e dorme, a um tempo, chega ao pódio.

De reza e sono – dupla benfazeja –
Ninguém, em lance algum, jamais se peja,
Por que motivo pejar-se o Custódio?
  




*Soneto composto para Antônio Custódio Matos Neto, que, pelo fato de estar muito cansado, pegou uma piaba durante o Terço dos Homens, na Igreja de N. S.ra. da Glória, em Fortaleza-CE, no dia 11 de setembro de 2017, terça-feira.



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