QUE OS MORTOS
ENTERREM OS MORTOS
Rui Martinho Rodrigues*
Que os mortos enterrem os mortos. Líderes e
partidos morreram politicamente. O Congresso, o Poder Executivo e o Judiciário
estão desacreditados, vivendo em estado comatoso. O Brasil precisa cuidar dos
vivos. Perder tempo com os mortos transforma o País num velório. Mágoas,
agressividade e antagonismo extremados fazem parte do luto. Cadáveres insepultos
exalam mau cheiro. Os mortos vivos estão cooperando entre si para evitar o
próprio enterro, mas, diante do público, os que se associaram, em passado
recente, para praticar ilícitos, agora travam uma guerra de acusações e
desmentidos.
Os brasileiros não devem cair no logro da operação
diversionista dos zumbis. Precisamos olhar para a frente, reconstruir partidos,
buscar novas lideranças, debater programas realistas, sem a influência da
demagogia produzida pelos interesses corporativistas, paradigmas desmoralizados
em razão dos fatos, mas acalentados por jovens rebeldes sem causa, por
ressentidos explorados politicamente, por velhos intelectuais prisioneiros de
paradigmas equivocados, e por carreiristas inescrupulosos.
Alimentar ilusões românticas e demagógicas
que, como uma Torre de Babel, prometem nos levar para o céu, arruína a economia
e incendeia os ânimos da sociedade. A sustentabilidade financeira das propostas,
a definição das fontes de recursos a serem utilizados, o fim das mentiras
chamadas de “contabilidade criativa”, a atração de investimentos e a
produtividade devem ser as preocupações dos brasileiros. Não existe desfrute
sem custos. Não existem direitos sem obrigações ou ônus. Não bastam leis para
garantir o bem-estar. Normas jurídicas não geram meios materiais, não devem ser
confundidas com viabilidade financeira e administrativa.
Não existe a possibilidade de ruptura radical
com a realidade social. A túnica de Clio, a deusa História, não tem emendas,
isto é, não existem descontinuidades históricas radicais. Nem partidos nem
líderes messiânicos podem ser salvadores da pátria. Mentiras e ilusões podem
vencer eleição, mas não podem resolver problemas materiais.
Não existe paraíso a ser desfrutado, bastando
que o conquistemos pelas armas ou pela via eleitoral. Precisamos pensar como
Churchill que, realisticamente, no começo da II GM, disse aos britânicos que não
tinha vitória fácil, só oferecia um caminho de sangue suor e lágrimas. Não se
resolverá o endividamento de todos os entes federativos, que cresce
vegetativamente em ritmo acelerado; nem a falta de investimentos em serviços
essenciais ou em investimentos econômicos; nem em segurança pública sem muito
sacrifício. Não podemos depositar as nossas esperanças no aumento indefinido da
carga tributária nem no endividamento. A soteriologia política secular é engano
ou farsa.
Porto Alegre, 18 de setembro de 2017
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