QUE OS MORTOS
ENTERREM OS MORTOS
Rui Martinho Rodrigues*
Que os mortos enterrem os mortos. Líderes e
partidos morreram politicamente. O Congresso, o Poder Executivo e o Judiciário
estão desacreditados, vivendo em estado comatoso. O Brasil precisa cuidar dos
vivos. Perder tempo com os mortos transforma o País num velório. Mágoas,
agressividade e antagonismo extremados fazem parte do luto. Cadáveres insepultos
exalam mau cheiro. Os mortos vivos estão cooperando entre si para evitar o
próprio enterro, mas, diante do público, os que se associaram, em passado
recente, para praticar ilícitos, agora travam uma guerra de acusações e
desmentidos.
Os brasileiros não devem cair no logro da operação
diversionista dos zumbis. Precisamos olhar para a frente, reconstruir partidos,
buscar novas lideranças, debater programas realistas, sem a influência da
demagogia produzida pelos interesses corporativistas, paradigmas desmoralizados
em razão dos fatos, mas acalentados por jovens rebeldes sem causa, por
ressentidos explorados politicamente, por velhos intelectuais prisioneiros de
paradigmas equivocados, e por carreiristas inescrupulosos.

Não existe a possibilidade de ruptura radical
com a realidade social. A túnica de Clio, a deusa História, não tem emendas,
isto é, não existem descontinuidades históricas radicais. Nem partidos nem
líderes messiânicos podem ser salvadores da pátria. Mentiras e ilusões podem
vencer eleição, mas não podem resolver problemas materiais.

Porto Alegre, 18 de setembro de 2017
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