domingo, 24 de setembro de 2017

CRÔNICA - Eu Ando na Linha (JPG)


EU ANDO NA LINHA
João Pedro Gurgel*


Muitas pessoas devotam seu ódio a quem está preso. Não importa qual crime, quais circunstâncias nem qual contexto. Se está na cadeia, é porque “não presta”, e assim, nenhuma humanidade deve ser oferecida, pois “gente ruim não tem salvação”.

A argumentação de quem é pró-desumanização é forte. Contudo, para os que ainda acreditam no bem da humanidade, há esperança, e, devo falar em minha maior inspiração para uma Justiça Criminal humana, que não vem de um jurista, nem de um cientista, mas sim do músico Johny Cash.

Johny Cash foi um cantor americano, contemporâneo de Elvis Presley, que, como muitos, compunha canções sobre o estilo de vida americano. Sucessos como “I Walk The Line” (Eu ando na linha), que falam sobre uma vida recatada, ir à Igreja, sonhar em pegar na mão da amada, e temas fins.

Contudo, o sucesso de Cash foi tão estrondoso que logo o dinheiro e a fama fizeram com que sua vida estivesse em um contexto diferente daquele das letras de suas músicas. Agora, imperavam o vício das drogas, a promiscuidade, o mundo libertino em torno dele.

Em meio à depressão que acompanhou a derrocada pós-vício, as cartas mais lindas e inspiradoras de fãs vinham de lugares inusitados: das prisões mais sombrias dos EUA. Sim, aqueles homens tinham perdido a esperança em si mesmos. Contudo, eles encontravam na música de Cash o desejo de um dia serem puros, terem uma família, enfim, andar na linha novamente.

Foi então que Cash quis voltar, mas, dessa vez, diferente: iria tocar nos presídios. E assim foi. A contragosto das gravadoras certinhas da época, Cash gravou um CD ao vivo dentro da prisão, trazendo festa, alegria e esperança para centena de pessoas, outrora “condenadas”.

Folsom Prison Blues”, produzido nessa fase, foi o maior álbum de sua carreira, que deixou marcado o legado de um homem que venceu a si mesmo e que, naquele momento, queria ajudar outros a também se superarem.


Não sei o que o futuro me reserva no Direito Penal, que tanto amo. Mas, como jurista, devo admitir que o conhecimento só fará sentindo se um dia tiver um pedaço do coração desse ídolo, falecido em 2003, o inabalável Johny Cash.



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