sexta-feira, 15 de setembro de 2017

ARTIGO - Um Peso, Duas Medidas (HE)


UM PESO, DUAS MEDIDAS
Humberto Ellery*



“Não carregueis convosco dois pesos um pesado e o outro leve, nem tenhais à mão duas medidas, uma longa e a outra curta. Usai apenas um peso, um peso honesto e franco, e uma medida, uma medida honesta e franca, para que vivais longamente na terra que Deus vosso Senhor vos deu. Pesos desonestos e medidas desonestas são uma abominação para Deus vosso Senhor”. Deuteronômio (25, 13-16)


A tradição judaico-cristã admite que o Antigo Testamento, que os judeus chamam de Torá – a Lei; e para os cristãos é o Pentateuco, do grego, “cinco rolos” (de papiro), surgiu 1.200 anos antes de Cristo, escrito pelo profeta Moisés.

Cerca de oitocentos anos depois (400 aC) Sócrates formulou a sentença de que não devemos usar um peso e duas medidas, querendo mostrar que diante de uma mesma situação (um peso) não devemos adotar duas condutas diferentes (duas medidas), definindo como deve ser a Justiça.

Acredito que uma leitura desatenta do Livro do Deuteronômio levou muita gente, ao querer chamar a atenção para uma injustiça, dizer que estaria o julgador usando “dois pesos e duas medidas”. Ora, se nós temos dois pesos certamente obteremos duas medidas diferentes. Óbvio.

Todo esse prolegômeno é para chamar a atenção para dois fatos semelhantes que estão tendo tratamentos completamente diferentes. O primeiro diz respeito à famosa gravação do Joesley com o Presidente Temer, quando o Joesley diz que: “Estou bem com o Eduardo”, e o Temer responde; “Tem que manter isso, viu?”. Imediatamente o Janot interpretou como a compra do silêncio do Eduardo Cunha, e, ainda, uma insofismável ação de obstrução da Justiça. Daí a mídia (Rede Globo, principalmente) “caiu de pau” em cima do Temer exigindo sua renuncia e prisão, no que foi acompanhada por muitos ingênuos, inclusive o FHC.

Agora que explodiu a gravação do Joesley com o Ricardo Saud, que se deu no dia 17 de março, (conversa mantida dez dias antes do início das negociações formais com a PGR, em 27 de março), em cujo diálogo (“o Janot sabe de tudo...”) o açougueiro criminoso diz claramente que o Janot, por intermédio de seu lugar-tenente Marcelo Miller, sabia da intenção de gravar o Temer (que acontecera em 7 de março),  não vejo a mídia dar o mesmo destaque ao significado claríssimo dos fatos: a tal gravação com o Temer, que não prova crime nenhum, tratou-se de uma armação capitaneada pelo Janot, apoiada pelo Fachin,  e respaldada pelos petistas, esquerdistas et caterva, para derrubar o Presidente Temer, e quase deu certo.



Agora, que o Janot viu sua casa cair, apressou-se em denunciar  Lula, Dilma e seus asseclas, para fazer uma ação diversionista e tentar mostrar sua imparcialidade. Durante tantos anos como PGR nunca viu nada de irregular na conduta dos bandidos petistas, e agora, a menos de dez dias do fim do mandato, descobriu que o maior ladrão político da história da humanidade (conforme o jornal The Economist) é o homem que o levou ao posto que não soube honrar. 

Antes de concluir, preciso esclarecer porque jamais confiei no Janot. Tenho por princípio desconfiar sempre dos arrogantes (etimologicamente do latim adrogantia, pretensão orgulhosa, atribuir-se qualidades sem fundamento, insolência), e sempre ter boa vontade com os humildes. Ao longo da minha vida alguns poucos “humildes” têm me enganado, uma vez que é fácil fingir-se de humilde sem sê-lo. Mas os arrogantes nunca me decepcionam.

Concluo agora com uma ilação (também tenho direito). O Janot sonhava em ser senador por Minas Gerais quando viu no Joesley o caminho para concretizar seu sonho. Tinha nas mãos um bilionário altamente “generoso” com políticos, enrolado com 245 crimes, cuja prisão pela soma das penas máximas chegava a impressionantes dois mil e quinhentos anos, oferecendo-se para fazer uma delação premiada. Pediu então ao criminoso que lhe trouxesse as cabeças do Temer e do Aécio.

O Temer, pelo alto significado de se mostrar como um grande Torquemada incorruptível e destemido que enfrentava ninguém menos que o Presidente da República, e o Aécio para tirá-lo da disputa pela vaga de Minas Gerais no Senado Federal. Para financiar a campanha ele tinha uma mercadoria valiosíssima para o criminoso: sua liberdade total, sem sequer ser denunciado. Quanto terá valido esse prêmio?

Será que esses passarinhos vão cantar? Vamos dar tempo ao tempo...





COMENTÁRIO:

Nelma Kodama, doleira presa, uma nissei que foi amante e cúmplice de Alberto Youseff, em uma única frase – como bem convêm à cultura oriental – sintetizou toda a realidade nacional, que depois de sua judiciosa sentença, a cada dia se confirma: “O Brasil é movido a corrupção. Se parar a corrupção, para o Brasil”.

De fato, está ficando evidente ao povo da “planície” – nós, os cidadãos comuns, que trabalhamos duro e pagamos impostos –  vigora uma ética espúria no “andar de cima”, entre políticos e grandes empresários brasileiros, que não se compadece com o que preceitua a moral pública e o ordenamento jurídico do País.

Todos nós sempre desconfiamos de que muitas das carreiras políticas, mormente as de ascensão vertiginosa, e as que tomaram cunho profissional, navegam pelas águas turvas das negociatas. Também deduzíamos que grande parte das fortunas brasileiras têm origem ilícita.

Fica claro agora que essa promiscuidade entre grandes empresários e gestores públicos não era considerada irregular, pois era a máquina que movia a República, como denunciou Nelma Kodama. Vem assim de longe, e somente apareceu agora porque as esquerdas assumiram o poder e não tiveram capacidade de delinquir com “eficiência” – foram com muita sede ao pote, rasgaram o véu, deixaram o rabo na ratoeira, “estouraram a boca do balão”.

E as coisas somente mudarão para o futuro se houver uma reforma profunda, um grave rompimento institucional, com estado de sítio, fechamento do Congresso, dissolução dos tribunais nomeados, enfim, uma revolução moral, uma faxina jurídica, um levante militar, pois, tanto no grand monde como no submundo delitivo, “está tudo dominado”.

Reginaldo Vasconcelos     


  

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