UM PESO, DUAS MEDIDAS
Humberto Ellery*
“Não carregueis convosco
dois pesos um pesado e o outro leve, nem tenhais à mão duas medidas, uma longa
e a outra curta. Usai apenas um peso, um peso honesto e franco, e uma medida,
uma medida honesta e franca, para que vivais longamente na terra que Deus vosso
Senhor vos deu. Pesos desonestos e medidas desonestas são uma abominação para
Deus vosso Senhor”. Deuteronômio (25, 13-16)
A tradição judaico-cristã admite que o Antigo Testamento, que os
judeus chamam de Torá – a Lei; e para os cristãos é o Pentateuco, do grego, “cinco
rolos” (de papiro), surgiu 1.200 anos antes de Cristo, escrito pelo profeta
Moisés.
Cerca de oitocentos anos depois (400 aC) Sócrates formulou a
sentença de que não devemos usar um peso e duas medidas, querendo
mostrar que diante de uma mesma situação (um peso) não devemos adotar duas
condutas diferentes (duas medidas), definindo como deve ser a Justiça.
Acredito que uma leitura desatenta do Livro do Deuteronômio levou
muita gente, ao querer chamar a atenção para uma injustiça, dizer que estaria o
julgador usando “dois pesos e duas medidas”. Ora, se nós temos dois pesos
certamente obteremos duas medidas diferentes. Óbvio.
Todo esse prolegômeno é para chamar a atenção para dois fatos semelhantes
que estão tendo tratamentos completamente diferentes. O primeiro diz respeito à
famosa gravação do Joesley com o Presidente Temer, quando o Joesley diz que: “Estou
bem com o Eduardo”, e o Temer responde; “Tem que manter isso, viu?”. Imediatamente
o Janot interpretou como a compra do silêncio do Eduardo Cunha, e, ainda, uma
insofismável ação de obstrução da Justiça. Daí a mídia (Rede Globo,
principalmente) “caiu de pau” em cima do Temer exigindo sua renuncia e prisão,
no que foi acompanhada por muitos ingênuos, inclusive o FHC.
Agora que explodiu a gravação do Joesley com o Ricardo Saud, que se
deu no dia 17 de março, (conversa mantida dez dias antes do início das
negociações formais com a PGR, em 27 de março), em cujo diálogo (“o Janot sabe
de tudo...”) o açougueiro criminoso diz claramente que o Janot, por intermédio
de seu lugar-tenente Marcelo Miller, sabia da intenção de gravar o Temer (que
acontecera em 7 de março), não vejo a mídia dar o mesmo destaque ao
significado claríssimo dos fatos: a tal gravação com o Temer, que não prova
crime nenhum, tratou-se de uma armação capitaneada pelo Janot, apoiada pelo
Fachin, e respaldada pelos petistas, esquerdistas et caterva, para derrubar o Presidente
Temer, e quase deu certo.
Agora, que o Janot viu sua casa cair, apressou-se em denunciar Lula, Dilma e seus asseclas, para fazer uma
ação diversionista e tentar mostrar sua imparcialidade. Durante tantos anos
como PGR nunca viu nada de irregular na conduta dos bandidos petistas, e agora,
a menos de dez dias do fim do mandato, descobriu que o maior ladrão político da
história da humanidade (conforme o jornal The Economist) é o homem que o levou
ao posto que não soube honrar.
Antes de concluir, preciso esclarecer porque jamais confiei no
Janot. Tenho por princípio desconfiar sempre dos arrogantes (etimologicamente
do latim adrogantia, pretensão orgulhosa, atribuir-se qualidades sem
fundamento, insolência), e sempre ter boa vontade com os humildes. Ao longo da
minha vida alguns poucos “humildes” têm me enganado, uma vez que é fácil
fingir-se de humilde sem sê-lo. Mas os arrogantes nunca me decepcionam.
Concluo agora com uma ilação (também tenho direito). O Janot
sonhava em ser senador por Minas Gerais quando viu no Joesley o caminho para
concretizar seu sonho. Tinha nas mãos um bilionário altamente “generoso” com
políticos, enrolado com 245 crimes, cuja prisão pela soma das penas máximas
chegava a impressionantes dois mil e quinhentos anos, oferecendo-se para fazer
uma delação premiada. Pediu então ao criminoso que lhe trouxesse as cabeças do
Temer e do Aécio.
O Temer, pelo alto significado de se mostrar como um grande
Torquemada incorruptível e destemido que enfrentava ninguém menos que o
Presidente da República, e o Aécio para tirá-lo da disputa pela vaga de Minas
Gerais no Senado Federal. Para financiar a campanha ele tinha uma mercadoria
valiosíssima para o criminoso: sua liberdade total, sem sequer ser denunciado.
Quanto terá valido esse prêmio?
Será que esses passarinhos vão cantar? Vamos dar tempo ao tempo...
COMENTÁRIO:
Nelma Kodama, doleira presa,
uma nissei que foi amante e cúmplice de Alberto Youseff, em uma única frase –
como bem convêm à cultura oriental – sintetizou toda a realidade nacional, que
depois de sua judiciosa sentença, a cada dia se confirma: “O Brasil é movido a corrupção. Se parar a corrupção, para o Brasil”.
De fato, está ficando evidente
ao povo da “planície” – nós, os cidadãos comuns, que trabalhamos duro e pagamos
impostos – vigora uma ética espúria no “andar
de cima”, entre políticos e grandes empresários brasileiros, que não se
compadece com o que preceitua a moral pública e o ordenamento jurídico do País.
Todos nós sempre desconfiamos
de que muitas das carreiras políticas, mormente as de ascensão vertiginosa, e
as que tomaram cunho profissional, navegam pelas águas turvas das negociatas.
Também deduzíamos que grande parte das fortunas brasileiras têm origem ilícita.
Fica claro agora que essa
promiscuidade entre grandes empresários e gestores públicos não era considerada
irregular, pois era a máquina que movia a República, como denunciou Nelma Kodama. Vem assim de longe, e somente apareceu agora porque as esquerdas
assumiram o poder e não tiveram capacidade de delinquir com “eficiência” – foram com muita sede ao pote, rasgaram o véu, deixaram o rabo na ratoeira, “estouraram
a boca do balão”.
E as coisas somente mudarão
para o futuro se houver uma reforma profunda, um grave rompimento institucional, com estado de sítio, fechamento do Congresso, dissolução dos tribunais nomeados, enfim, uma revolução moral, uma faxina jurídica, um levante
militar, pois, tanto no grand monde como no submundo delitivo, “está tudo dominado”.
Reginaldo Vasconcelos
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