quinta-feira, 7 de setembro de 2017

ARTIGO - "O Macaco Tá Certo" (HE)


“O MACACO TÁ CERTO!”
Reginaldo Vasconcelos*


No final dos anos setenta, e até o início dos anos oitenta, a TV Globo exibia um programa humorístico, criação dos impagáveis Max Nunes e Haroldo Barbosa, chamado “O Planeta dos Homens”. Uma paródia bem humorada do sucesso dos cinemas “O Planeta dos Macacos”.

Havia um personagem caracterizado como um macaco, chamado Sócrates, que, intrigado com alguma insensatez dos homens, pedia explicações para, antes que o interlocutor pudesse explicar, repetir o bordão, que se tornou popularíssimo: “Não precisa explicar, eu só queria... entender!”.

Eu estou justamente igual ao Sócrates, pois quando o Rodrigo Janot apresentou sua denuncia contra o Presidente Temer, ele o fez baseado unicamente na gravação que Joesley Batista fez com o Presidente. Não promoveu nenhuma investigação, nem solicitou à Polícia Federal que o fizesse.

Declarou reiteradamente que não tinha nenhuma prova contra o Temer, e chegou a afirmar ser quase impossível conseguir tal comprovação, que adjetivou de “prova satânica” (eu conheço a chamada “prova diabólica”, mas, vá lá, existe uma certa sinonímia).



Pois muito bem. Agora que o Joesley Batista se declara formalmente mentiroso, com Nota Oficial e tudo (depois de inúmeras demonstrações de não ser um cultor da verdade), e que a sua delação derreteu por absoluta falta de credibilidade, vem o Xerxes das flechas de bambu se apressar em dizer que, embora a delação tenha perdido qualquer valor, que as provas continuam válidas.




Provas? Que provas?

“Não precisa explicar, eu só queria... entender!”.



COMENTÁRIO:

Ao que me parece, caro Ellery, tudo que se aproveita de toda essa verborragia de quatro horas, entre Joesley Batista e Ricardo Saud, é a constatação de que um Procurador Federal, assessor de Rodrigo Janot, Procurador-Geral da República, está envolvido na trama para preparar um flagrante contra Temer. Esse é o único aspecto gravíssimo dessas falas grampeadas.

Não houve de fato nenhuma afronta ao Supremo Tribunal Federal, mas apenas bravatas tresloucadas e imaginosas de poderem eles corromper alguns Ministros, contratando para tanto o advogado José Eduardo Cardoso – que, se sabe, chegou a ser sondado nesse sentido, mas, já muito escaldado, recusou a proposta, certamente milionária.

Enfim, o que se ouve nessa gravação da conversa entre Batista e Saud é a mesma parlapatice desvairada que se verificou na conversa grampeada entre Lula e Dilma, em que este chama os Presidentes do Senado e da Câmara de “fodidos”, os Ministros de Supremo de “acovardados”, e de “ingrato” o Procurador Rodrigo Janot. E ninguém se manifestou em desagravo às instituições vilipendiadas.

Tanto no caso Lula-Dilma, como neste Joesley-Saud, verificam-se as alucinações de quem teve a mente corrompida pelos anos no poder total, e que entra em estado de delírio quando o seu castelo está ruindo. Do tempo dos Césares a Adolfo Hitler, a História está repleta de casos assim, em que poderosos, caindo em desgraça, ficam meio ensandecidos ante a dura realidade nova.   

Na gravação da conversa entre Joesley e Temer, aquele, então um dos maiores empresários do País, é recebido pelo Presidente da República, e passa a constrange-lo com declarações e perguntas comprometedoras, a que este responde de forma seca e monossilábica, como quem apenas tenta se desvencilhar de um chato importuno, que não se quer desacatar.

Agora está patente que o objetivo daquela gravação era ambidestro: de um lado, transformar Janot em herói nacional, e de outro lado livrar os irmãos Batista da persecução penal, pois esses, saindo do episódio lépidos e fagueiros, seriam, em futuro próximo, os empregadores generosos de Procuradores da República aposentados. Tudo isso urdido pelo tal Marcelo Miller, que fazia, com muita eficiência, o meio-de-campo nas conversas.

Bem, por um critério minimamente justo, para descolar Marcelo Miller de seu chefe Rodrigo Janot vai ser preciso fazer o mesmo entre Michel Temer e seu homem de confiança, Rodrigo Rocha Loures – que foi corrompido e recebeu dinheiro, mas o guardou para si, até que fosse preso e devolvesse o numerário.

Por fim, quando Janot diz que a rescisão da delação premiada celebrada com os irmãos Batista não anularia as “provas” obtidas, ele está dizendo que as declarações dos referidos delatores não serão automaticamente dadas por não lidas”, e desentranhadas dos autos – embora estes percam os benefícios obtidos com a delação.

É verdade. Mas, para desespero da oposição, e dos obtusos (ou maliciosos) analistas da Globo News, isso não quer dizer que as tais “provas” não restem mortalmente feridas pelos fatos novos, desmoralizadas, desqualificadas, podendo ao final ser desconsideradas por futuros julgadores. Agora, caro Ellery, o “Sócrates”  pode entender tudo.

Reginaldo Vasconcelos
       

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