“O MACACO TÁ CERTO!”
Reginaldo Vasconcelos*
No
final dos anos setenta, e até o início dos anos oitenta, a TV Globo exibia um
programa humorístico, criação dos impagáveis Max Nunes e Haroldo Barbosa,
chamado “O Planeta dos Homens”. Uma paródia bem humorada do sucesso dos cinemas
“O Planeta dos Macacos”.
Havia
um personagem caracterizado como um macaco, chamado Sócrates, que, intrigado
com alguma insensatez dos homens, pedia explicações para, antes que o
interlocutor pudesse explicar, repetir o bordão, que se tornou popularíssimo: “Não
precisa explicar, eu só queria... entender!”.
Eu
estou justamente igual ao Sócrates, pois quando o Rodrigo Janot apresentou sua
denuncia contra o Presidente Temer, ele o fez baseado unicamente na gravação
que Joesley Batista fez com o Presidente. Não promoveu nenhuma investigação,
nem solicitou à Polícia Federal que o fizesse.
Declarou
reiteradamente que não tinha nenhuma prova contra o Temer, e chegou a afirmar
ser quase impossível conseguir tal comprovação, que adjetivou de “prova
satânica” (eu conheço a chamada “prova diabólica”, mas, vá lá, existe uma certa
sinonímia).
Pois
muito bem. Agora que o Joesley Batista se declara formalmente mentiroso, com
Nota Oficial e tudo (depois de inúmeras demonstrações de não ser um cultor da verdade),
e que a sua delação derreteu por absoluta falta de credibilidade, vem o Xerxes
das flechas de bambu se apressar em dizer que, embora a delação tenha perdido
qualquer valor, que as provas continuam válidas.
Provas?
Que provas?
“Não
precisa explicar, eu só queria... entender!”.
COMENTÁRIO:
Ao
que me parece, caro Ellery, tudo que se aproveita de toda essa verborragia de
quatro horas, entre Joesley Batista e Ricardo Saud, é a constatação de que um
Procurador Federal, assessor de Rodrigo Janot, Procurador-Geral da República,
está envolvido na trama para preparar um flagrante contra Temer. Esse é o único
aspecto gravíssimo dessas falas grampeadas.
Não
houve de fato nenhuma afronta ao Supremo Tribunal Federal, mas apenas bravatas
tresloucadas e imaginosas de poderem eles corromper alguns Ministros,
contratando para tanto o advogado José Eduardo Cardoso – que, se sabe, chegou a
ser sondado nesse sentido, mas, já muito escaldado, recusou a proposta,
certamente milionária.
Enfim,
o que se ouve nessa gravação da conversa entre Batista e Saud é a mesma
parlapatice desvairada que se verificou na conversa grampeada entre Lula e
Dilma, em que este chama os Presidentes do Senado e da Câmara de “fodidos”, os
Ministros de Supremo de “acovardados”, e de “ingrato” o Procurador Rodrigo
Janot. E ninguém se manifestou em desagravo às instituições vilipendiadas.
Tanto
no caso Lula-Dilma, como neste Joesley-Saud, verificam-se as alucinações de
quem teve a mente corrompida pelos anos no poder total, e que entra em estado de
delírio quando o seu castelo está ruindo. Do tempo dos Césares a Adolfo Hitler,
a História está repleta de casos assim, em que poderosos, caindo em desgraça,
ficam meio ensandecidos ante a dura realidade nova.
Na
gravação da conversa entre Joesley e Temer, aquele, então um dos maiores
empresários do País, é recebido pelo Presidente da República, e passa a constrange-lo
com declarações e perguntas comprometedoras, a que este responde de forma seca
e monossilábica, como quem apenas tenta se desvencilhar de um chato importuno,
que não se quer desacatar.
Agora
está patente que o objetivo daquela gravação era ambidestro: de um lado,
transformar Janot em herói nacional, e de outro lado livrar os irmãos
Batista da persecução penal, pois esses, saindo do episódio lépidos e
fagueiros, seriam, em futuro próximo, os empregadores generosos de Procuradores
da República aposentados. Tudo isso urdido pelo tal Marcelo Miller, que fazia,
com muita eficiência, o meio-de-campo nas conversas.
Bem,
por um critério minimamente justo, para descolar Marcelo Miller de seu chefe
Rodrigo Janot vai ser preciso fazer o mesmo entre Michel Temer e seu homem de confiança,
Rodrigo Rocha Loures – que foi corrompido e recebeu dinheiro, mas o guardou
para si, até que fosse preso e devolvesse o numerário.
Por
fim, quando Janot diz que a rescisão da delação premiada celebrada com os
irmãos Batista não anularia as “provas” obtidas, ele está dizendo que as
declarações dos referidos delatores não serão automaticamente “dadas por não
lidas”, e desentranhadas dos autos – embora estes percam os benefícios obtidos
com a delação.
É
verdade. Mas, para desespero da oposição, e dos obtusos (ou maliciosos) analistas
da Globo News, isso não quer dizer que as tais “provas” não restem mortalmente feridas
pelos fatos novos, desmoralizadas, desqualificadas, podendo ao final ser desconsideradas por futuros julgadores. Agora, caro Ellery, o “Sócrates” pode entender tudo.
Reginaldo
Vasconcelos
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