SHOW BREGA
Reginaldo Vasconcelos*
Alguém
me entregou um panfleto de propaganda que me chamou a atenção, pouco antes de
ser jogado fora. Já começava a amassá-lo para o descarte quando os termos do
seu conteúdo me despertaram o interesse.
Trata-se
de um show brega, que será promovido pelo Sindicato dos Bancários. Fui
bancário, e talvez o nome da instituição promovente do show me tenha evocado
doces memórias afetivas. Não. Foi a palavra “brega” que suscitou uma reflexão, preciosa
matéria-prima para a crônica.
Nos
anos finais do glorioso Século XX “brega” era um adjetivo que servia para
depreciar uma obra de arte, uma música, uma roupa, ou qualquer outra expressão
humana que saísse da caixa bem comportada do establishment cultural. Era sinônimo de "cafona", de kitsch, o termo alemão com o mesmo sentido, internacionalmente conhecido. Significava a antítese de elegância e de
bom-gosto, conforme ficou consagrado no título de novela da Globo, que foi ao ar nos anos 70: “Brega & chique”.
A
etimologia é arbitrária, e a semântica original nordestina designava o baixo
meretrício. “Vou ao brega” – era como alguém indicava que ia visitar os
cabarés, em Pernambuco ou na Bahia. Então, as músicas românticas que se tocavam ali ganharam a pecha de serem bregas, assim também as roupas e os modos da fauna humana que frequentava
aquele meio.
Girou
a roda do tempo, os costumes evoluíram, a moda se libertou totalmente, os
velhos prostíbulos viraram folclore, e a boa música brega se tornou cult, bem como se tornaram ídolos em
todo o Pais os seus cantores principais.
Waldick Soriano, Reginaldo Rossi,
Odair José, Bartô Galeno e Nelson Ned pertencem ao grupo de fundadores desse
gênero. A eles se vieram juntando outros, de Agnaldo Timóteo à Banda Calypso,
passando por Gretchen e Sidney Magal, esses já deliberadamente produzidos para
explorar o sucesso de vendas desse nicho popular.
Hoje
em dia, frequentar os shows bregas é sinal de elegância cultural, de saudosismo
sobre a música brasileira, um preito de sinergia com o vigor naïfe do povo brasileiro, entretenimento
sadio de romantismo puro, de dança colada e de alegria.
Telefonei
e descobri quem são os responsáveis pelo show. Estão de parabéns o Tomaz de
Aquino, Secretário de Cultura do Sindicato, e o radialista e promotor executivo
de eventos Alexandre Maia, fundador da célebre Aplauso Produções, o qual,
inclusive, foi condecorado pela ACLJ em 2014 com a Comenda Jornalista Durval Aires de Menezes, por ter concebido a
micareta Fortal, que ele inaugurou com o Bloco Amor Q Fica.
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