domingo, 19 de março de 2017

CRÔNICA - Show Brega (RV)

SHOW BREGA
Reginaldo Vasconcelos*


Alguém me entregou um panfleto de propaganda que me chamou a atenção, pouco antes de ser jogado fora. Já começava a amassá-lo para o descarte quando os termos do seu conteúdo me despertaram o interesse.

Trata-se de um show brega, que será promovido pelo Sindicato dos Bancários. Fui bancário, e talvez o nome da instituição promovente do show me tenha evocado doces memórias afetivas. Não. Foi a palavra “brega” que suscitou uma reflexão, preciosa matéria-prima para a crônica.



Nos anos finais do glorioso Século XX “brega” era um adjetivo que servia para depreciar uma obra de arte, uma música, uma roupa, ou qualquer outra expressão humana que saísse da caixa bem comportada do establishment cultural. Era sinônimo de "cafona", de kitsch, o termo alemão com o mesmo sentido, internacionalmente conhecido. Significava a antítese de elegância e de bom-gosto, conforme ficou consagrado no título de novela da Globo, que foi ao ar nos anos 70: “Brega & chique”.

A etimologia é arbitrária, e a semântica original nordestina designava o baixo meretrício. “Vou ao brega” – era como alguém indicava que ia visitar os cabarés, em Pernambuco ou na Bahia. Então, as músicas românticas que se tocavam ali ganharam a pecha de serem bregas, assim também as roupas e os modos da fauna humana que frequentava aquele meio.

Girou a roda do tempo, os costumes evoluíram, a moda se libertou totalmente, os velhos prostíbulos viraram folclore, e a boa música brega se tornou cult, bem como se tornaram ídolos em todo o Pais os seus cantores principais. 

Waldick Soriano, Reginaldo Rossi, Odair José, Bartô Galeno e Nelson Ned pertencem ao grupo de fundadores desse gênero. A eles se vieram juntando outros, de Agnaldo Timóteo à Banda Calypso, passando por Gretchen e Sidney Magal, esses já deliberadamente produzidos para explorar o sucesso de vendas desse nicho popular.

Hoje em dia, frequentar os shows bregas é sinal de elegância cultural, de saudosismo sobre a música brasileira, um preito de sinergia com o vigor naïfe do povo brasileiro, entretenimento sadio de romantismo puro, de dança colada e de alegria.

Telefonei e descobri quem são os responsáveis pelo show. Estão de parabéns o Tomaz de Aquino, Secretário de Cultura do Sindicato, e o radialista e promotor executivo de eventos Alexandre Maia, fundador da célebre Aplauso Produções, o qual, inclusive, foi condecorado pela ACLJ em 2014 com a Comenda Jornalista Durval Aires de Menezes, por ter concebido a micareta Fortal, que ele inaugurou com o Bloco Amor Q Fica.


     

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