Preceitos Ecológicos
do Padre Cícero
Paulo
Tadeu*
Relembro uma época em que a minha aldeia era ecologicamente mais correta
e, por desleixo, este panorama se perdeu na poeira do tempo, deixando atrás de
si um rastro de desolação que aumenta com o passar dos dias.
Tal ocorreu, porém, não por falta de alerta. Foi
este o sentimento que tive ao ler, outra vez, no Blog do Padre Cícero – editado por Daniel Walker – os Preceitos Ecológicos que o “Santo
Nordestino” nos legou há mais de 100 anos, e os relacionei com a Campanha da
Fraternidade de 2017 (CNBB), cujo tema é Fraternidade:
biomas brasileiros e defesa da vida, vinculado ao lema Cultivar e guardar a criação. (Gn 2,15).
Cada pessoa tem sua aldeia, que lhe serviu de berço. A minha é Palmácia que – conforme
observou a Editora de O Estado VERDE, Tarcilia Rego – “mesmo estando na APA do
Maciço de Baturité, sequer aparece no Atlas dos Municípios da Mata Atlântica”.
A convite da Arcádia Nova Palmaciana (Científica e Literária; sou um de seus
árcades), ela visitou a “Terra dos Palmeirais” e viu a degradação ambiental, a
começar pela Sede, onde o histórico “Açude
da Comissão, além da falta de chuva, sofre com a influência das construções
de casas em seu leito e entorno”, disse. Tem razão. No passado, havia na
entrada da Cidade a pequena Vila Popular,
de Ari Braga, constituída por algumas casinhas conjugadas que não obstruíam
o acesso ao dito Açude nem atalhavam a sua bela visão. O local era chamado de Prainha.
Na Palmácia da minha infância, a flora e a
fauna eram pujantes. Nos quintais apareciam cágados, tatus, teiús... Aves proliferavam,
como relata Dom Antônio de Almeida Lustosa, no seu livro Notas a Lápis, 1949: “As andorinhas, em nuvem, enchem o céu de
Palmácia de alarido festivo e rufar de asas. Fazem suas excursões pelo espaço e
pousam, de quando em quando, no telhado da matriz”. Hoje, lamentavelmente,
proliferam mosquitos... Flora devastada. Alguns olhos d’água extintos. Onde estão as ingazeiras da mata ciliar do riacho
Canabrava? Este a poluição
transformou em depósito de lixo, secou, desapareceram peixes, como os piabuçus
e muçuns, e as cacimbas de areia.
Não se observaram os Dez Preceitos Ecológicos, do Padre Cícero: “1 - Não derrube o mato
nem mesmo um só pé de pau. 2 - Não toque fogo no roçado nem na caatinga. 3
- Não cace mais e deixe os bichos viverem. 4 - Não crie o boi nem o bode
soltos; faça cercados e deixe o pasto descansar para se refazer. 5 - Não plante
em serra acima nem faça roçado em ladeira muito em pé; deixe o mato protegendo
a terra para que a água não a arraste e não se perca a sua riqueza. 6 -
Faça uma cisterna no oitão de sua casa para guardar água de chuva. 7- Represe
os riachos de cem em cem metros, ainda que seja com pedra solta. 8 - Plante
cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá ou de outra árvore
qualquer, até que o sertão todo seja uma mata só. 9 - Aprenda a tirar
proveito das plantas da caatinga, como a maniçoba, a favela e a jurema; elas
podem ajudar a conviver com a seca. 10 - Se o sertanejo obedecer a estes
preceitos, a seca vai aos poucos se acabando, o gado melhorando e o povo terá o
que comer. Mas se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar
um deserto só”. Quanta atualidade!
COMENTÁRIO:
Em
aditamento ao procedente e oportuno texto do meu conterrâneo e colega de
Arcádia Nova Palmaciana, Paulo Tadeu Sampaio de Oliveira (o árcade Arthur
Zéfiro), expresso o fato, devidamente registrado na História do Brasil, de que,
a instâncias do Imperador Dom Pedro II, foi instituída pelo Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro - IHGB, a Comissão Científica de Exploração das
Províncias do Norte, em ato de 1856.
Referido
grupo de cientistas esteve no Ceará de 1859 a 1861, representando as áreas
científicas de Botânica, Geologia/Mineralogia, Zoologia, Astronomia e
Etonografia, sendo composto pelos pesquisadores Francisco Freire Alemão e
Cisneiros, Guilherme Capanema, Giaccomo Rajagabaglia, Manuel Ferreira de Lagos,
Antônio Gonçalves Dias e José Reis de Carvalho.
Anos depois, em 1878, como indicação dos estudos procedidos pela Comissão Científica, foi iniciada a construção do Açude a que Paulo Tadeu muito bem se refere, terminada em 1881, quando foi inaugurado, havendo tomado o nome de "Comissão".
Anos depois, em 1878, como indicação dos estudos procedidos pela Comissão Científica, foi iniciada a construção do Açude a que Paulo Tadeu muito bem se refere, terminada em 1881, quando foi inaugurado, havendo tomado o nome de "Comissão".
É
uma barragem pequena e servia – antes, evidentemente, da irresponsabilidade
antrópica – de balneário e pesca esportiva e, por que não dizer – até de
subsídio alimentar para a pequena população da minha Palmácia de então, ao sopé
do Santo Cruzeiro e fundos da chamada Fábrica do Mestre Juca, da Casa do
"Seu" Paixão e Dona Marieta e residência do Dr. Arruda, onde moram,
hoje, meu primo e ex-prefeito Francisco Paulo Campos Lima e sua Zaíra Pinheiro
Lima.
Eu próprio, numa certa manhã de Quarta-Feira Santa, de folga das aulas da Escola Industrial de Fortaleza, cheguei a pegar, ali, de anzol, cerca de sete quilos de tilápia, de cem a quatrocentos gramas. Lembro-me de que, ao chegar à praia do Açude da Comissão, estava lá o Paulino Inácio, interessante figura do folclore local, e perguntei: "Está beliscando?” A isto ele respondeu: – “Belisca mais do que tamborete lascado!” Era beliscão demais!
Hoje o Açude está todo assoreado, com edificações no leito e no entorno, com sujeira generalizada, verdadeira imundícia, reclamando uma ação efetiva da Prefeitura, agora sob a batuta do meu primo David Campos, de quem esperamos, todos os palmacianos, uma providência ligeira.
Parabéns, Paulo Tadeu, por trazer uma matéria ligada à nossa Terra, e, oportunamente, vinculada à Campanha da Fraternidade, em defesa de um sub-bioma tão importante para o citadino palmeirense.
Vianney
Mesquita
Em aditamento ao procedente e oportuno texto do meu conterrâneo e colega de Arcádia Nova Palmaciana, Paulo Tadeu Sampaio de Oliveira (o árcade Arthur Zéfiro), expresso o fato, devidamente registrado na História do Brasil, de que, a instâncias do Imperador Dom Pedro II, foi instituída pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro - IHGB, a Comissão Científica de Exploração das Províncias do Norte, em ato de 1856.
ResponderExcluirReferido grupo de cientistas esteve no Ceará de 1859 a 1861, representando as áreas científicas de Botânica, Geologia/Mineralogia, Zoologia, Astronomia e Etonografia, sendo composto pelos pesquisadores Francisco Freire Alemão e Cisneiros, Guilherme Capanema, Giaccomo Rajagabaglia, Manuel Ferreira de Lagos, Antônio Gonçalves Dias e José Reis de Carvalho.
Anos depois, em 1878, como indicação dos estudos procedidos pela Comissão Científica,foi iniciada a construção do Açude a que Paulo Tadeu muito bem se refere, terminada em 1881, quando foi inaugurado, havendo tomado o nome de "Comissão".
É uma barragem pequena e servia - antes, evidentemente, da irresponsabilidade antrópica- de balneário e pesca esportiva e, por que não dizer - até de subsídio alimentar para a pequena população da minha Palmácia de então, ao sopé do Santo Cruzeiro e fundos da chamada Fábrica do Mestre Juca, da Casa do "Seu" Paixão e Dona Marieta e residência do Dr. Arruda, onde moram, hoje, meu primo e ex-prefeito Francisco Paulo Campos Lima e sua Zaíra Pinheiro Lima.
Eu próprio, numa certa manhã de Quarta-Feira Santa, de folga das aulas da Escola Industrial de Fortaleza, cheguei a pegar,ali, de anzol, cerca de sete quilos de tilápia, de cem a quatrocentos gramas. Lembro-me de que, ao chegar à praia do Açude da Comissão, estava lá o Paulino Inácio, interessante figura do folclore local, e perguntei: "Está beliscando?" A isto ele respondeu: - "Belisca mais do que tamborete lascado!" Era beliscão demais!
Hoje o Açude está todo assoreado, com edificações no leito e no entorno, com sujeira generalizada, verdadeira imundícia, reclamando uma ação efetiva da Prefeitura, agora sob a batuta do meu primo David Campos, de quem esperamos, todos os palmacianos, uma providência ligeira.
Parabéns, Paulo Tadeu, por trazer uma matéria ligada à nossa Terra, e, oportunamente, vinculada à Campanha da Fraternidade, em defesa de um sub-bioma tão importante para o citadino palmeirense.
Palmácia, bela cidade, uma pena que a violência nos afaste de lá!
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