terça-feira, 7 de março de 2017

RESENHA - Texto de Quarta Capa (VM)


ANTOLOGIA ILUSTRADA
DOS CANTADORES
Vianney Mesquita*


Eu me chamo Zé Limeira,
De lima, limão, limansa
As estradas de São Bento
Bezerro da vaca mansa.
Valha-me, Nossa Senhora,
Ai que eu me lembrei agora:
Tão bombardeando a França!

(ZÉ LIMEIRA. Teixeira-PB -1866/1954)


Este livro de Otacílio Batista Patriota e Francisco Linhares, em segunda edição (1976), talvez seja o único ensaio profundo, digno deste adjetivo, acerca da poesia popular brasileira, traçado por ensaístas-cantadores.

Devassando os íntimos registros do tempo, da Antiguidade, como da Idade Média e da Renascença, Linhares e Batista perscrutam o passado e o projetam no presente, acompanhando, com absoluto conhecimento de causa, os estádios da poesia oral dos violeiros, emboladores e cantadores, por meio da maquinaria das épocas, não apenas narrando fatos e invencionices e apontando datas e pessoas, como também os vinculando às realidades sociais, políticas, econômicas e psicológicas na memória dos diversos ciclos da História. E isto torna o ensaio trabalho de ciência, bem como de pão e circo, de enorme valor, tanto para simples deleite como a fim de embasar estudos e pesquisas em diversos setores de investigação de nossa cultura popular.

Antologia Ilustrada dos Cantadoresum dos referenciais das Edições UFC em seus 38 anos de história - contribui para preservar os valores das pessoas do campo, que têm no metro um dos seus mais lídimos representantes e cujo fascínio lhes permite sobreviver, conquanto as fulgurações das modernas descobertas no terreno das comunicações e na seara das novas tecnologias de informação lhes tenham infligido duro castigo, em especial após o advento do transístor, da televisão e do computador em rede mundial, com seus extraordinários (quase inacreditáveis) desdobramentos.

Este livro do Dr. Linhares e do paraibano Otacílio, como produção lúdica e interpretativa da poesia matuta, mais ou menos semelhante em seus aspectos gerais, em todo o Mundo, é obra de referência obrigatória para todos aqueles que procuram examinar o assunto sob quaisquer ângulos de análise.

Além disso, a Antologia reúne as mais gaiatas estrofes do cancioneiro de viola do Brasil, um retrato colorido de pessoas e coisas do mato, distantes da escola e dos comportamentos citadinos, que bem pode transportar a maioria dos leitores às suas legítimas origens beiradeiras.


Extraído, com modificações, de Resgate de Ideias – Estudos e Expressões Estéticas. Fortaleza: Casa de José de Alencar (UFC), 1996.



Nenhum comentário:

Postar um comentário