GERALDO-CACETE
(Crônica para a História da Televisão Cearense)
Vianney Mesquita*
O sábio avalia o ignorante porque já foi
ignorante. O ignorante, no entanto, não pode avaliar o sábio, uma vez que
jamais foi sábio. [SADI
DE SHIRAZ, poeta persa (iraniano); Shiraz, 1210-1291].
Indicado
e conduzido pela Prof.a. Docente-Livre Adísia Sá até o Prof. Dr. Carlos d’Alge
– aos quais sou eviternamente agradecido - fiquei na TV Educativa do Ceará – Canal 5, onde d’Alge era superintendente,
de outubro de 1976 até fevereiro de 2005, quando fui acometido de infarto agudo
do miocárdio, do que resultou aposentadoria.
Nessa
época, não se cogitava em concurso público, especialmente para fundações sob o
regime de CLT, de sorte que ali entrei (como todo o mundo entrava) pela janela
– até porque não havia portas, somente compostas pela marcenaria reparadora da Constituição
Cidadã em 1988. Ali exerci a função de redator, como jornalista
profissional, operando na feitura dos telejornais, ao dividir o regime de
trabalho de 40 horas semanais com o magistério da Universidade Federal do Ceará,
sobrando 20 horas para dedicar à Emissora.
Nos
seus começos (7 de março de 1974), a TV Educativa do Ceará – inaugurada por César Cals de Oliveira Filho, chefe do
“Governo da Confiança” - pertencia à Fundação Educacional do Estado do Ceará –
FUNEDUCE, da qual era parte, também, a UECE. Na sequência histórica,
entretanto, essa Instituição foi bipartida, ensejando duas entidades em regime
fundacional – a Fundação de Teleducação do Ceará – FUNTELC e a Fundação
Universidade Estadual do Ceará – UECE, conforme sucede até o momento. Em 1993,
no Governo de Ciro Ferreira Gomes, a
então TV Educativa mudou a denominação-fantasia para TV Ceará - Canal 5, pertencente
à mencionada FUNTELC, numa como homenagem à TV Ceará – Canal 2, que houvera se
desconstituído.
No
tempo relatado, o público da TV Educativa – Canal 5 – hoje chamado de stakeholders pela Ciência da
Administração – era de duas seções, configurando, primeiramente, a equipe da
Pedagogia, com os então chamados professores-autores (os quais preparavam as teleaulas)
e seu grupo de apoio, com vistas ao ensino a distância.
Este
era a “fina flor”, a “aristocracia”, a “nata” da Estação, os donos da situação,
constituído por docentes, a maior parte compartindo seu ofício com o magistério
na UECE, uma parcela absolutamente separada socialmente, pois sequer (em tese)
se dirigia aos demais, somente os olhava à sorrelfa - a não ser quando a
comunicação era vinculada a tratos profissionais. Era a vera câmara da Rainha Elizabeth II
tupiniquim.
O
outro segmento – evidentemente, sem fazer referência aos componentes das
diretorias e seus funcionários – era formado pelo pessoal técnico, a maior
parte do qual procedente da então desativada TV Ceará – Canal 2 (Rede Tupi de
Televisão), a primeira televisão do Estado, inaugurada em 1960.
Essa,
pois, era a turma do papoco, em geral
e com muitas exceções (e isto se impõe que eu relate), deselegante, grosseira,
mal-acostumada com a bagunça, pornográfica, semiapedeuta, produtora de
comportamentos aos quais eu não era afeito, moleque e com aqueles vezos da
ambiência teatral, em que tudo se afigurava natural, mesmo que certas condutas
resultassem desrespeitosas, exceto, evidentemente, os caracteres de pessoas
cujos procedimentos, conquanto insertas na dita esfera, eram vazados na decência
e inseridos nos perfis da urbanidade.
Extraio
nesta história modelos dessas restrições – e por isso dois deles estão aqui na
Academia Cearense de Literatura e Jornalismo. Pinço, pois, o Ricardo Guilherme, uma das maiores
inteligências que já tive a dita de deparar, autor teatral de escol, ainda hoje
a pleno emprego, o qual veio a ser meu aluno na UFC (também o foi Ary Sherlock) e, algumas vezes, até me
ajudou a ministrar conteúdos ligados ao Jornalismo, Cinema e Teatro (conforme o
fez, também, o enorme Guilherme Neto),
desde que se lhe aprestou o uso da razão.
Outro
é Amaro Penna, o Peninha, músico, violonista, compositor,
gente, na escorreita expressão da
palavra, hoje também detentor de título de imortal da ACLJ, consoante sucede
com o mencionado Prof. Ricardo Guilherme.
Vêm,
ainda, na sua maior parte, vinculados ao Departamento de Telejornalismo, Alcyon
Lemos e Maia Ferreira, hoje, amigos de minha intimidade, Oliveira Filho, jornalista, ator de novelas radiofônicas e
advogado; Godofredo Pereira de Sousa, meu compadre, jornalista e professor da
UFC; Everardo Sobreira, radialista
da melhor felpa, advogado de elevado nível e docente da UFC; Heraldo Meneses; e
tantos outros. Um destes é o moradanovense Sebastião
Belmino Barbosa Evangelista, móvel deste escrito, meu amigo, moleque “safado”,
incontinenti nas piadas, decentes ou não, meu contemporâneo no Curso de História
da UECE e irmão do Marcos Belmino, o Ponhonhon (falecido), e que hoje ainda é
capaz de “fazer hora” até com o juiz Sérgio Moro.
A
trupe a que ora me refiro era o segmento
intervalar, digamos assim, do
ajuntamento pedagógico, configurado nos professores-autores do ensino a
distância, em relação ao bloco do segundo
tempo da TV do intelectual guaiubense
Manuel Eduardo Pinheiro Campos (Manuelito, Manecão) – a raça do papoco, há pouco referida.
De
tal modo, conquanto não privassem os jornalistas da total benquerença dos
adeptos de Jean-Jacques Rousseau e Lev Semenovith Vygotsky (muitos dos quais de araque, do Paraguai ou Roscoff), não os aborreciam, conforme acontecia
(salvante, evidentemente, as muitas exceções) com a camada de técnicos,
auxiliares e tantos profissionais arrolados pela legislação do radialismo
nacional, provindos da Televisão do Indiozinho, da
qual os tuxauas paulofreireanos
guardavam o devido afastamento.
O
Seu Geraldo, que a canalha logo
apelidou de Geraldo-Cacete, procedia
do interior do Ceará e era o vigia noturno da TV Educativa. Ele sempre portava
um pedaço de pau, quando de suas andanças pelos lados de fora da Emissora. Era
interessante nas suas conversas matutas e todo mundo caçoava dele, quando, por
exemplo, ao atender ao telefone, saudava o cliente, dizendo:
–
“ALÔ! É DA CANAL CINCO!”.
De
certa feita, ele criticava os noticiários sobre as navegações interplanetárias
dos soviéticos e estadunidenses, ao exprimir como mentiras a ideia de que o
homem jamais foi à Lua, como era consabido pelo Mundo inteiro, em especial com
a visita da Apollo Onze ao Satélite terrestre, em 20.07.1969, por Neil Armstrong e Edwin Aldrin.
–
Deixa de ser besta, Geraldo, que o homem não quer mais saber de ir à Lua; ele
vai agora é ao Sol!
Enraivecido,
então, o Geraldo-Cacete disse de
imediato:
–
Só se for pra tocar fogo com o Sol naqueles avião véi deles!
A
isto, pois, o Belmino ajuntou:
–
Geraldo, tu é de lascar! Os astronautas não vão “de dia”, que eles não são
abestados! Eles vão é “de noite!”
O
Geraldo, então, respondeu, convencido:
–
AH, SENDO ASSIM, EU FICO CALADO!
COMENTÁRIO:
Lendo “Geraldo-Cacete (Crônica para a História
da Televisão Cearense)”, de Vianney Mesquita, lembro que eu tive o programa “Pense!”,
na TV União, em 2005. Cheguei até a gravar dois programas em Paris: um, com o
escultor brasileiro Jaildo Marinho, na Torre Eiffel e Museu do Louvre; outro,
com a escultora francesa Roseline Granet, em seu atelier.
Totonho Laprovítera.
Nenhum comentário:
Postar um comentário