Sobre o jornalismo
AZUL e o AMARELO
Geraldo Jesuino*
1 - Jornalismo AZUL
Li
nas “Páginas Azuis” do Jornal O Povo
de segunda-feira, 20 do corrente mês, depoimento do ex-aluno, colega de
trabalho e amigo dileto Ronaldo Salgado.
Ao
ser questionado sobre o que o inquieta na prática do jornalismo atual,
respondeu quase aquilo que, de muito, nos acostumamos a ouvir quando lhe privamos
alguns instantes de prosa: “ – O abandono do fazer jornalístico no sentido
estrito do termo. [...] Alguém pode dizer: as coisas mudaram. Sim. Mas a
essência do jornalismo não pode mudar”.
A
entrevista estampa, talvez, o único título que lhe faz sentido [O Jornalismo
quixotesco], pois proposta a estampar as verdades e os sonhos deste visionário
e incorruptível cavaleiro que empunha a voz, a pena, o diploma e a alma em prol
de um jornalismo que parece fugir ao ritmo dos novos tempos como fugia o vento
sem melindrar os moinhos/dragões da saga do cavaleiro da triste figura.
O
“alguém” imaginário da reposta de Ronaldo Salgado, no entanto, parece estar
mais próximo do espírito do tempo [ou mais “antenado” como se diz atualmente] com
suas ideias de coisas mudadas, em detrimento dos ideais conservadores,
irredutivelmente cultivados pelo agora aposentado, mas não inerte, paladino
Jornalista [Com J em caixa alta].
2 - Jornalismo AMARELO ( CLIQUE SOBRE AS IMAGENS PARA AMPLIÁ-LAS)
Há
um personagem de Histórias em Quadrinhos [que os americanos do Norte teimam em
nomear como o primeiro personagem do quadrinho moderno (?)] criado pelo ilustrador
Richard Felton Outcault, em 1895, que ficou famoso por causa da cor do seu
camisolão chinês: amarelo.
Não
alcançou projeção com o seu nome, Mickey Dungan, que quase ninguém conhece, mas por seu apelido, Yellow Kid (aqui, Garoto Amarelo),
galgou patamares de popularidade mundial.
Sua história e trajetória se
confundem com o sensacionalismo e os deslizes éticos aos quais se permitiam os magnatas
da imprensa (Pulitzer x Hearst), na desenfreada luta pelos leitores imigrantes
de baixa renda e quase nenhum domínio do idioma ianque. Daí, gerou-se o termo Yellow Journalism, o “jornalismo
amarelo”, depois adequado para “imprensa marrom”, que se aplica não apenas ao jornalismo
sensacionalista, mas, e principalmente, àquele onde a ética é, quase
naturalmente, escamoteada; em outras palavras, o jornalismo sem a sua antiga e
verdadeira essência.
Li na sexta-feira, 24 deste
março, a página esportiva dos dois principais jornais desta nossa cidade de
Fortaleza e fiquei atônito com a “mudança das coisas”. Vi a notícia da vitória
da Seleção Canarinha [também em tempo de mudança, inda bem que para melhor]
sobre aquele Uruguai que lhe tirou, em pleno Maracanã, o título de campeão
mundial da copa de 1950.
Meu estarrecimento se deu
diante de algo inusitado que tenho dificuldade de definir, pois ao fazê-lo, possivelmente
arriscaria alguns valores que ainda detenho como sagrados e, certamente,
avançaria a minha postura crítica além do que me permito.
Vi o que, em análise técnica,
poder-se-ia chamar de “notícias compartilhadas”: a mesma matéria, com
pequeníssimas e, mal elaboradas e/ou disfarçadas modificações, publicada em
periódicos concorrentes.
3 - Jornalismo TRANSPARENTE
Em outros tempos, quando daqueles
valores e propósitos defendidos pelos quixotescos profissionais que aos poucos
vão abandonando o espaço do fazer e do ensinar jornalístico, tal ocorrência se
revestiria de consequências severas, teria outros nomes e cobraria as atitudes
éticas às quais não se cogitava precedentes.
A integridade do profissional
e da instituição seriam impostas como legado primordial de respeito ao leitor e
à honra do Jornalismo sério, justo, livre e transparente.
Nestes dias de tempos mudados,
cabe-nos apenas o estranhamento (?).
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