A VIDA
E O TEMPO
Arnaldo
Santos*
Quando nascemos, ainda de olhos fechados, e
antes mesmo do primeiro choro, como que anunciando nossa existência, um
horizonte de amplas perspectivas e múltiplas variáveis que não sabemos nem podemos
imaginar, se abre ante nós, consubstanciado no que a Natureza universalizou por
meio da VIDA.
Desde aquele sublime instante, não importa se
numa sala de cirurgia de um hospital ou em qualquer outro lugar, onde pessoas
de várias gerações se emocionam e celebram a vinda de um novo rebento,
inicia-se uma saga que conceituamos como A VIDA E O TEMPO.
Os primeiros dias, meses e anos sequentes são
de expectativas, preocupações, planos e sonhos de todos os que nos cercam, até chegar
o dia em que passamos a reflexionar nos próprios sonhos, guardando a
consciência do devir a ser por nós constituído.
Na tenra idade, mesmo quando não somos muito
favorecidos pelo meio de onde viemos à Terra, os sonhos são sempre alegres e
coloridos, o céu constantemente azul e muito estrelado, e o Sol parece ser
ainda mais dourado, nos fazendo introjetar uma percepção do mundo, segundo a
qual o espaço vislumbrado se mostra tão tropical quanto o é do lado de baixo do
equador. E pode ser. Por que não?
Assim, a vida sequencia até nos
conscientizarmos do tamanho do desafio de constituir a perspectiva de
possibilidades a nós indicada, a depender, quase unicamente, das escolhas e
atitudes de cada qual perante a vida, no decurso da trajetória existencial. O
relógio, entrementes, não se peja de marcar o quanto, e com qual intensidade,
estamos consumindo do estoque a nós reservado pela Mãe-Terra, na expressão de
Arnold Toynbee.
Nessa caminhada vital, no curso de
significativo intervalo, sequer percebemos a inexorável finitude. Movidos, então,
por uma combinação de sentimentos, misturando ignorância e prepotência,
comportamento peculiar aos jovens, invariavelmente, desafiamos o próprio
existir, quando, muita vez, sob a mais absoluta inconsequência, nos expomos a
graves riscos, submetendo-nos a erros francamente evitáveis.
Nesse período, as sábias e bem-intencionadas
lições de nossos pais, na maioria dos casos, são por nós descartadas, pela
ideia de as considerarmos ultrapassadas, quadradas, caretas, extemporâneas, sem
o menor sentido. Nossa arrogância é de tal ordem, ao ponto de nos fazer
convictos de que não precisamos de nada, tampouco de ninguém, muito menos de
proteção, seja daqui de baixo ou mesmo do Alto. Ainda bem que os pais são
assim! Eles nos devotam um amor que nem capazes somos de sentir na sua real
dimensão. Mesmo nos amando sem o estabelecimento de qualquer condição,
ordinariamente não os valorizamos.
De tal modo, prosseguimos, no tentame de
escrever uma história, única, irrestritamente singular, de sorte que a não
podemos delegar a qualquer outro autor. Então, trilhamos os próprios caminhos,
abrindo sendas no meio da densidade de incertezas, demarcando cada capítulo com
as tintas do pouco ou muito aprendizado que a vida teima em nos ensinar, ainda
que não sejamos alunos dos mais aplicados.
Eis, entretanto, que, um dia, aliás, simbólico
e belo – representativo da aparição de Nossa Senhora de Fátima – aos 13 de
março de 2017, como de costume, nos levantamos cedo e, perante o espelho, nos
demos conta de que já havíamos vivido os mais rápidos 62 anos de uma
existência. Meio atarantado, então, indagamos: Oh, tempo! Para que tanta
correria? Precisa de tudo isso? É, todavia, quer queiramos ou não, a
inexorabilidade temporal. Não há de se externar revolta!
Pela atual expectativa existencial divisada
cientificamente pelo IBGE, 74 anos, nessa conjuntura estranha e turbulenta, se
tivermos experimentado a sorte de descender de uma boa cepa genética, e se
houvermos vivido saudavelmente até aqui, já consumimos mais de dois terços de
tudo o que a Natureza nos deixou como reserva para existir.
Ainda perante o célebre “Espelho Meu”, como
que demandando a decifração dos enigmas da saga (A VIDA E O TEMPO), percebemos
que as pálpebras estão em queda livre, contornadas pelos sulcos do tempo
decorrido. A pele já não amostra o mesmo viço do espaço transato, tampouco o
rosto expressa brilho igual àquele divisado outrora. Com efeito, sob o influxo
da consciência de que já despendemos quase toda nossa reserva temporal, por
alguns segundos, cerramos os olhos, tendo sido a cabeça envolvida por um
turbilhão de pensamentos, nos remetendo às mais diversificadas emoções.
Os primeiros pensamentos aportados à mente
tendem a nos conduzir pelas apertadas trilhas do coração, onde se escondem,
espremidamente, as sensações de melancolia, pontuadas por algumas reações de
revolta e arrependimento, pelo que fizemos ou que deixamos de fazer. Afinal,
nos apercebemos mais de perto da corrida final. Porque a Natureza é sábia,
cuida logo de eliminar do nosso meio interior tais impressões negativas, para,
em seguida, despertar uma vontade inexplicável de estabelecer novo futuro, mais
edificante.
Desde então, fomos invadido por
agradabilíssimas emoções, dando-nos conta de quantos amores vividos, em maior
ou menor intensidade, dos belos sorrisos das mulheres amadas, adornos dos
caminhos até aqui percorridos, transformando, com seus ósculos ardentes e
apaixonados, o calor físico de suas pessoas, os dias e noitadas experimentados
em pura felicidade, pois, além de aquecerem o leito e nos envolverem em
delícias indecifráveis, são parte inseparável da nossa história!
Agradecido e cheio de ternura, lembramo-nos da
bela família que Deus nos permitiu constituir, dos filhos saudáveis, cidadãos e
cidadãs que esses amores nos legaram, dos poucos ou muitos amigos que fizemos e
trouxemos para nossa pequena igreja, das alegrias vivenciadas no decurso de
toda essa trajetória, graças à maior riqueza de que um homem é merecedor,
configurada no dom da vida com saúde. Daí, por conseguinte, nos plenificarmos
de energia, para iniciar outra caminhada, na perspectiva de desbravar esse novo
ofício, após a colheita dos frutos de tudo o que foi semeado até aqui.
Ao termo desse súbito momento de introspecção
à frente do espelho, contemplando a beleza e a aspereza, refletidas na imagem
do que é ter vivido 62 anos, graças a Deus, com muita saúde, somos assaltado
por uma pausa de profundo silêncio e solidão sem deixar de refletir, no
entanto, na tortura maior que pode estar ou não a caminho, espelhada no
esquecimento e abandono pela perda da utilidade... Certamente, a Deus querer,
não será assim ...
Viva, porém, a vida!
Assim queremos continuar vivendo os dias, os
meses, os anos ou as décadas que o Criador nos reservou.
COMENTÁRIOS:
Distintíssimo
o texto de Arnaldo Santos, um experto em Comunicação, Ciência Política,
Sociologia e, agora, demonstra mais uma vez que também trata bem a literatura,
haja vista esta crônica de alevantado apreço, no concernente à linguagem
literária e às tiradas estilísticas de alçado grau.
Abraço-o
efusivamente nesta sua data genetlíaca, achando-se já anoso com somente 62
anos. Imagine-se.
Agora,
um favor lhe vou pedir: nunca mais faça aniversário num dia de segunda-feira!
Faça o favor!
Amplexo
acochado, Arnaldíssimo!
Vianney
Mesquita
Parabéns! Sempre um Grande Homem!
Ellaine Motta
Distintíssimo o texto de Arnaldo Santos, um experto em Comunicação, Ciência Política, Sociologia e, agora, demonstra mais uma vez que também trata bem a literatura, haja vista esta crônica de alevantado apreço, no concernente à linguagem literária e às tiradas estilísticas de alçado grau.
ResponderExcluirAbraço-o efusivamente nesta sua data genetlíaca, achando-se já anoso com somente 62 anos. Imagine-se.
Agora, um favor lhe vou pedir: nunca mais faça aniversário num dia de segunda-feira! Faça o favor!
Amplexo acochado, Arnaldíssimo!
Vianney Mesquita
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ResponderExcluirParabéns! Sempre um Grande Homem!
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