MANIPULAÇÃO
DAS MASSAS?
Rui Martinho Rodrigues*
Fala-se em manipulação das massas, quando se
perde eleição. Quem vence não duvida da consciência política do povo. Falaram
mal das pesquisas eleitorais, desprezando o direito à informação. Os críticos passaram
a vencedores... e as críticas cessaram. A lei da ficha limpa restringiu as
escolhas do eleitor. Imposição da ética.
Só os sabichões têm consciência política. E o povo?
Só se votar como eles querem.
Eleição não é o caminho para assegurar o
triunfo da “verdadeira consciência”. É o reconhecimento de que os juízos de
valor e a complexidade da política nivelam por baixo iletrados e “esclarecidos”.
O voto do erudito e o do apedeuta têm o mesmo valor.
Os sabichões erram iludidos com os sofismas
dos pensadores de renome internacional.
O que diziam sobre globalização e livre comércio? Era neocolonialismo.
Agora se opõem a quem quer acabar com a globalização e o livre comércio.
Quatrocentos milhões deixaram a miséria na
China; duzentos milhões na Índia. Isso não conta. Nem conta o declínio da
mortalidade infantil, o aumento da esperança de vida e dos anos de
escolaridade, o acesso aos bens e serviços. A teoria da pauperização foi
convenientemente substituída pela tese do “consumismo”.
É preciso negar tudo para propor o mudancismo
a qualquer preço. A Filosofia quer compreender o mundo, mas é preciso mudar o
mundo! Sem compreendê-lo? Eis o fundamento do totalitarismo (Hannah Arendt).
Relativistas, os “esclarecidos” falam em consciência
verdadeira e em ética, se... a cobrança recair sobre o adversário. Caso
contrário, falar em ética passa a ser “moralismo udenista”. Dizem não ser
relativistas, defendendo apenas o conhecimento relacional. O ponto de vista
seria a vista de um ponto, como se tudo fosse apenas opinião.
Mas a Matemática e a Física são cheias de
constantes, inclusive na teoria da relatividade, que considera a velocidade da
luz uma constante independente de qualquer referencial. Ressalte-se que a
Física tem objeto material, não é puramente formal, como a Matemática; e as
verdades lógicas não são relacionais. As verdades objetivas também não, quando
se trate de um juízo de existência referido a um fato singular.
A ciência limitada às conjecturas e
refutações, de que falava Popper, é aquela das teorias, não de simples juízos
de existência referido a fatos singulares. A verdade moral também não é
relacional. A redução de todo conhecimento à condição de simples perspectiva ou
relação leva ao relativismo, expresso na vulgata dos campi como “verdade de cada um”, relacionada à subjetividade.
A manipulação foi problematizada pela eleição
do Trump, a derrota do acordo de paz na Colômbia e o Brexit. Ela é eficaz
quando diz que todos têm direito a tudo sem esforço, sem perseverança ou algum
mérito; que ninguém fracassa, a culpa é do “sistema”; a solidariedade deve ser
feita às expensas de terceiros; ou que ninguém erra, a culpa é da sociedade
injusta; que somos virtuosos e a inveja é a nobre defesa da igualdade. A paixão
nacionalista também pode ser um caminho exitoso para manipulação.
O desmascaramento vem quando os sabichões levam
os seus países à ruina e os santarrões se mostram corruptos.
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