sábado, 21 de janeiro de 2017

NOTA ACADÊMICA - Visita à Unifor


ACADEMIA CEARENSE
DE
LITERATURA E JORNALISMO
VISITA
COLEÇÃO DE ARTES PLÁSTICAS
DO CHANCELER AIRTON QUEIROZ
NO
ESPAÇO CULTURAL
DA
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA




Na noite de ontem, 20 de janeiro de 2017, uma comissão de acadêmicos da ACLJ, dentre os mais interessados em artes plásticas, participou da segunda visita guiada da nossa Instituição à Coleção Airton Queiroz, no Espaço Cultural Unifor, a primeira delas realizada no ano de 2013.



Compunham o grupo visitante (da direita para a esquerda):
 
O bibliófilo José Augusto Bezerra, Presidente Emérito da Academia Cearense de Letras e Membro Benemérito da ACLJ;


O marchand de artes plástica Sávio Queiroz Costa, primo do Chanceler Airton Queiroz, que por seu turno é nosso Membro Benemérito;


O jornalista e radialista Vicente Alencar, Membro Titular da ACLJ e da Academia de Letras e Artes do Nordeste - Alane;


O jornalista, sociólogo, apresentador de televisão e analista político Arnaldo Santos, Membro Titular Fundador da ACLJ;


O jornalista, advogado e artista plástico Reginaldo Vasconcelos, Presidente da ACLJ;

 
O Prof. Rui Martinho Rodrigues, jurista, mestre em sociologia, cientista político e historiador, Presidente Emérito da ACLJ;


O Prof. Geraldo Jesuino, escritor, artista plástico, editor, Membro Titular Fundador da ACLJ e da Alane






O cronista e blogueiro Altino Farias, empresário e engenheiro civil, mantenedor de uma galeria de arte na Aldeota, Membro Titular Fundador da ACLJ;



O advogado e pesquisador do sionismo Adriano Vasconcelos, Membro Titular e Fundador da ACLJ.






O grupo de acadêmicos foi recebido pelo Prof. Thiago Braga, Chefe da Divisão de Arte, Cultura e Eventos da Unifor, e acompanhado durante a visita por três eficientes monitores, as jovens Domingas e Rachel, e o estudante do curso de jornalismo Rodrigo Costa, neto do ilustre jornalista Sérgio Costa.









A visita teve o aspecto atípico de que os visitantes apresentavam detalhes de seus conhecimentos e de sua experiência pessoal em relação a cada uma das valiosas peças de artes plásticas do acervo que lhes era apresentada, a propósito ou em acréscimo ao que informavam os monitores.

Por exemplo, o termo técnico “arrependimento”, enfatizado pelo acadêmico Sávio Queiroz, relativamente a imagens realizadas originalmente pelos pintores, que desistiam delas e pintavam outras sobrepostas, na mesma tela, sendo que, com o tempo, sombras das pinceladas anteriores tornam-se perceptíveis na obra definitiva.

Como também a observação feita sobre os traços judaístas em obras de mestres do passado de ascendência judaica, como Marc Chagall, tema do interesse e de conhecimento mais profundo do acadêmico Adriano Vasconcelos, estudioso da cultura, da história, da língua e principalmente da diáspora do povo de Israel, atingindo inclusive o Brasil e particularmente o Ceará.

Bem assim o comentário sobre o processo íntimo de observação de obras de arte, de caráter personalíssimo, feito pelo acadêmico Reginaldo Vasconcelos, notadamente a arte abstrata, que cada um deve interpretar à sua maneira. Reginaldo narrou a indagação feita certa feita por um comandante militar, em relação à escultura que ele fez para o quartel, denominada “Poesia Bélica de Penedo”.

Não é através de uma análise cartesiana dos seus elementos que se aprecia um quadro, uma escultura ou  uma instalação artística, mas das sensações que o conjunto provoque na espírito do observador, que deve manter a mente livre para absorver, de forma gestáltica, os seus componentes semióticos.

Nesse diapasão, a monitora Rachel pediu que cada um dos acadêmicos visitantes desse a sua interpretação da pintura “Un Petit Mouton”, de Miguel Barceló, para colher as interpretações mais variadas.

Alguém achou que fosse a reprodução de um bordado, outro que seriam espumas marinhas, enquanto a Arnaldo Santos a imagem lhe pareceu reproduzir areias de uma duna em movimento. Na verdade, segundo o título em francês, o autor se teria inspirado na brancura da lã de um carneiro.

Mais interessante, Rachel transmitiu a informação de que as figuras gordas das obras figurativistas de Fernando Botero Angulo, grande artista plástico colombiano, teriam sido todas elas inspiradas no corpo da doméstica que lhe servia de ama em sua infância. 

Isso suscitou o trecho do livro de memórias do acadêmico Reginaldo Vasconcelos, intitulado "Personagem", o qual, sem saber ainda desse detalhe histórico sobre Botero, usa os traços boterísticos para descrever uma antiga empregada da família, quando ele próprio era menino, coincidentemente.

A ACLJ agradece o convite da Reitoria da Unifor, que mandou uma van conduzir a comissão de acadêmicos no Espaço Tenda Árabe, sob os auspícios da Magnífica Reitora Fátima Veras, acadêmica honorária da instituição, pela prestimosa diligência da sua assessora direta, a Profa. Cristina Praça. 

Agradece ainda ao Vice-Reitor de Extensão da Unifor Randal Pompeu e sua equipe, e principalmente ao Chanceler Airton Queiroz, grande benfeitor das artes plásticas no Ceará, detentor da Dignidade de Membro Benemérito, a casta acadêmica mais elevada na ACLJ.

A ACLJ, com o incentivo e o apoio de seus Membros Beneméritos, vem compondo a sua Galeria Pictórica dos Patronos Perpétuos, retratando grandes nomes do jornalismo, da educação, das belas-artes e do beletrismo cearenses do passado, que ao ser concluída será objeto de exposições itinerantes em diversos espaços culturais e estudantis de Fortaleza.

  

INSPIRAÇÃO DE BOTERO

No mesmo período, um ou dois anos à frente – talvez fosse o tempo em que minha mãe dava aulas na escola de datilografia de minha avó – ficavam em nossa casa durante as tardes duas caboclas, uma delas encarregada dos serviços domésticos, a outra cuidadora de crianças, meu irmão Adriano e o primo Áttila, que eu, aos sete anos, já sou considerado independente. 
A primeira, mais madura, passada dos vinte, uma matrona mameluca, corpulenta, cinturada, pernas grossas, busto e quadris fartos. Esta medrara nas areias do Mucuripe, na colônia de pescadores, criada com os frutos do mar do Rostro Hermoso. Tinha longa cabeleira ondulada de cigana. A outra, mais jovem, mais magra, mais morena, oriunda dos cajueirais pré-sertanejos, ou dos pés-de-serra próximos, exuberavam no decote do vestido os peitos grandes. 
Tomei-me de paixão pela mais velha, que enchia os meus sentidos de delícia – as formas rotundas de Botero, o cabelo bem untado com óleo do coco, a voz meiga, o perfume barato, que a mim rescendia à melhor fragrância de Paris. Não lembro mais o nome dela, mas lembro o nome do bairro exposto na legenda do ônibus que a levava todo dia – Varjota – das primeiras palavras que li, na euforia alfabética pueril. 
Certo dia as duas iniciaram uma brincadeira corporal, que consistia em tentar levantar o vestido uma da outra, sendo que somente eu havia em casa, a quem pudesse interessar a exibição. Se o jogo consistia em cada uma buscar revelar as intimidades feminis da oponente, entre correrias, risos e gritinhos, eu era a somente plateia e portanto a meta única da lúdica impudicícia. 
Por fim, a mais jovem e mais frágil perdeu a peleja porque a outra lhe puxou o decote e fez entrever uma das mamas, comemorando em seguida com ofegante gargalhada. A perdedora sentou-se contrafeita, quase chorosa, mas em seguida, como para desvalorizar a vitória da outra ou demonstrar superação, baixou as alças do próprio vestido e me apresentou o busto inteiro, os dois pomos mais claros de fremente gelatina, enfeitados pelo chocolate dos mamilos.

Excerto do Capítulo “Súcucos diversos”,
do livro autobiográfico “Personagem”, de

Reginaldo Vasconcelos

                                                             

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