quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

ARTIGO - Trump é Direita ou Esquerda? (RMR)


TRUMP É DIREITA OU ESQUERDA?
Rui Martinho Rodrigues*


Donald Trump é contra a globalização, o livre comércio, o intervencionismo pelo qual os EUA se imiscuíram nos conflitos por toda parte. Disse que o Japão e a Coreia do Sul deveriam cuidar da própria defesa, fazendo suas próprias armas nucleares. Renunciou ao papel de polícia da proliferação nuclear. É protecionista. Pratica a intervenção nas decisões das empresas, coagindo montadoras de automóveis a mudar investimentos do México para os EUA. Adota teses mercantilistas do século XVII. É nacionalista. É esquerda?

Nacionalismo era coisa de direita. Com a guerra fria passou a coisa de esquerda, para servir de arma contra os EUA. O livre comércio e a globalização eram satanizados pela esquerda. Com o Brexit, Trump e assemelhados na Europa passaram a ser defendidos por quem os combatia. Agora, quem defende o livre comércio e a globalização é Xi Jinping, dirigente do Partido Comunista Chinês. A mudança não é da essência do nacionalismo. Este continua uma paixão irracional como qualquer outra. Já foi descrito como o último reduto dos canalhas. Mudou a exploração que se faz dele.

A determinação de dirigir a economia privada sempre foi uma prática da direita, que queria mandar sem estatizar; e da esquerda, que queria mandar estatizando. Hoje, a maior parte da esquerda já não quer estatizar, só quer mandar e trocar apoios por benesses, e mais alguma coisinha.

A renúncia ao papel de polícia do mundo subitamente deixou de ser uma reivindicação da esquerda. Agora é ameaça do Trump. O fim da pax americana é um lamento, anuncia o agravamento dos conflitos regionais.

Norberto Bobbio, na obra “Esquerda e direita”, admite a existência da dicotomia, depois de demonstrar que nenhuma bandeira política é exclusividade de um ou de outro agrupamento. Democratas, autoritários, totalitários, nacionalistas, cosmopolitas, românticos, tudo isso e muito mais estão dos dois lados.

Bobbio, porém, reafirma a existência dos dois polos. Não porque um defenda mais a liberdade e o outro a igualdade, nem afirma que um seja mais inclinado a uma Antropologia filosófica otimista e outra à pessimista, nem que um seja favorável aos oprimidos e outro contrário, pois isso seria uma falácia ad hominem, confundindo os diferentes caminhos para o mesmo objetivo com defesa e oposição em face da meta citada.

Bobbio reconhece a dicotomia, por ser, na prática, reconhecida. Não se importa com o fato de que as inúmeras bandeiras políticas não se dividem uniformemente em dois blocos. Quem é contra a pena de morte não é obrigado a ser a favor do aborto; nem quem é a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo está obrigado a ser contrário a posse de um meio de defesa.

Getúlio e Peron eram direitistas. Depois de mortos foram transformados em esquerdistas. Nos anos trinta do Século XX os nossos intelectuais, em geral, eram direitistas. Subitamente converteram-se à esquerda. A dicotomia é falsa. O que existe é esquerdo-direitismo. Trump é isso, na versão populista. Passa por cima dos partidos e instituições. Comunica-se direto com as massas.



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