O ESCÂNDALO
Reginaldo Vasconcelos*
Numa
rota doméstica banal cai no mar o avião particular que transporta um dos homens
mais visados da atualidade brasileira, o juiz que julgará centenas de componentes da cúpula da República,
envolvidos no maior escândalo de corrupção da vida do País, um dos mais
momentosos na História Universal.
Morre
assim esse personagem de repente, dias antes de homologar delações feitas
contra políticos poderosos, por portentosos empresários, e naturalmente o fato
levanta fundadas suspeitas de atentado contra ele.
A
lei das probabilidades aponta para a eventualidade de que figurões magoados com
a cadeia por ele decretada, e tantos outros que estão caminhando na prancha
rumo ao castigo e à desgraça, tenham contribuído de alguma maneira para o fato.
A
começar pelas hipóteses mais simples, de que algum sicário fanático das hostes
criminosas tenha sabotado o avião, ou lhe dado orientações erradas a partir de
uma torre de controle, ou que dinheiros imundos hajam rolado para financiar o perverso
desatino.
O
piloto era devidamente habilitado e por demais experiente na rota e no aparelho
que voava, e este, se garante, era moderno e seguro, em perfeita ordem, com
todas as revisões em dia, o que afastaria a possibilidade de falhas
humanas e mecânicas.
Ressalva-se
que chovia no momento, e que não havia um copiloto – mas contra isto há o
argumento de que este seria útil, porém não necessário, tanto assim que não era
obrigatório. Também se tem dito que chuva não derruba aviões, pois do contrário
todos os dias cairiam vários em volta do Planeta. É voz comum que não havia
vento – este sim, agudo perigo em momento de pouso e decolagem.
Então
se revelam as gravações de bordo – ainda não trazidas a público – em que o
piloto nada relataria de anormal no seu organismo, em seu psiquismo, ou na
máquina que conduz. E, de súbito, CRECHE! – o parelho mergulha no mar, matando
por traumatismo e afogamento os viajantes.
Mas
se diz que o campo de pouso não é dotado de aparelhos, obrigando à operação
visual, e o teto de voo estava baixo – mas isso não era fato novo naquela
região, que nem por isso jamais foi interditada, e desde sempre é intensamente
utilizada pelo tráfego privado.
Particularmente,
eu não acredito no acaso, porque não aceito ser meramente casual a minha
própria existência, desde o encontro fortuito em que um jovem casal cruzou
olhares numa tarde dos anos 40 e pouco tempo depois resolveu fazer família.
Tudo
pode ter acontecido com o avião de prefixo PR-SOM, semelhante ao PT-IOL do
Banco do Nordeste, no qual por vezes eu sobrevoei o Estado do Rio. Tudo pode
ter acontecido, menos um fato aleatório, independente do grave contexto humano em
que ele incide, e das consequências sociais que ele provoca.
Quando
o Voo 168 da Vasp colidiu com o Serra da Aratanha, em 1982, matando os 137
ocupantes, principalmente o nosso Chanceler Edson Queiroz, tão absurdo parecia
o fato que muito se disse e até hoje há quem acredite em suicídio do piloto.
Sim.
Todo dia um depressivo se mata em algum lugar, e nada obsta que um deles esteja
eventualmente diante de um manche aviatório e resolva chocar este mundo, e se
fazer acompanhar no outro mundo por um séquito de pessoas, somando a desgraça
alheia à sua tragédia pessoal.
Certamente
este não é o presente caso, tendo em vista o quadro absolutamente saldável em que
o piloto Mazinho se encontrava, um homem feliz e querido de todos, profissional
prestigiado e sem vocação a camicase, o qual foi tão vítima do acidente quanto
os seus comorientes.
Mas
nada me demove da ideia de que as forças do mal que infelicitam o Brasil
presentemente tenham se conjugado no éter para obumbrar os olhos lúcidos do
inditoso aviador, e para fazer trepidar seu pulso firme, a fim de produzir o
desastre e mover o escândalo.
“É inevitável
que venha o escândalo, mas ai daqueles por quem venha o escândalo”, segundo
o Cristo advertiu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário