VIANNEY MESQUITA
Um Prócer da Língua
Luciano Maia*
Lendo Esboços
e Arquétipos – língua – ciência – literatura, do Prof. Vianney Mesquita
(Fortaleza: Expressão, 2016), inteiramo-nos de que o descaso das instituições
de ensino no Brasil não fez esmorecer o trabalho daqueles que se dedicam ao
estudo dos fatos linguísticos, com uma percuciente abordagem dos aspectos
científicos relevantes que o tema envolve. O estudo, o conhecimento e, por
consequência, o amor à nossa língua é atributo que deve ser exaltado em nossos
dias, tão escassos de estudos revestidos de competência e seriedade e,
portanto, de alto valor.
O Prof. Vianney Mesquita é já bastante
conhecido e reconhecido em seu labor, por quantos se interessam pelas coisas da
cultura e da arte. Ainda nos surpreende, entretanto, numa escansão do soneto,
desde a sua invenção/criação/descoberta, no século XII, até agora.
Interessantíssimo é o soneto de sua autoria Insânia lúcida”, escrito ainda em 1965 e
aposto como objeto de estudo nesse livro, peça, como ele mesmo nos informa,
“produzida de maneira adrede
(grifamos), isto é, em tarefa procedida intencionalmente para a então
matéria Língua Portuguesa (...)”. O título do soneto já nos dá a indicação
de um oximóron, aliás o tema do poema, inserido na primeira parte do livro –
língua.
Em seguida, oferece-nos explicações sobre o
emprego do advérbio adrede, que pode
tomar a forma adredemente e até de adrede, como nos aponta, inclusive
com a citação de autores de prestígio que utilizaram essas variantes. O
advérbio, segundo alguns dicionaristas, provém do latim ad rectus. Os mais destacados dentre os lexicologistas, porém,
afirmam provir do germânico at reth,
de onde at red (por conselho). Chegou
ao português pelo espanhol adrede.
A segunda e terceira partes do livro Esboços e Arquétipos... dedica-se à
ciência e à literatura, em que são objeto de apreciação vários autores
cearenses. Por último, temos uma literatura passiva, isto é, sobre o autor.
Desejo ressaltar as páginas que Vianney
Mesquita dedica a Espiroá, livro de
Augusto Rocha: a sua leitura me induziu a buscar esse livro, que ainda não
conheço, mas que, pelas referências de Vianney Mesquita, merece ser lido, mercê
de “constituir artefato imponente da literatura nacional”.
Soneto Oximóron
INSÂNIA
LÚCIDA
Vianney
Mesquita*
Na expungida visão de quem jaz vivo,
Cego visório o meu exício ensaio,
Sombrio e claro, derrotado e gaio,
Prossigo morto e retrocedo ativo.
A tempo igual, benigno e mui nocivo,
Eis que me alço e instantemente caio.
E olhando bem de frente – de soslaio –
Das afeições de inimigos privo.
Cadáver esperto, cego feito lince,
Conquanto ao mesmo instante assente e pince,
É minha insânia lúcida que exorta:
Deixa-me, então, que eu rime em verso branco,
Em semelhante destro e esquerdo flanco,
Doutas bobagens que o papel suporta!
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