SURREALISMO,
CÃO E MONSTRO
Totonho
Laprovitera*
De
quando em vez eu me pego matutando sobre a razão de, na Fortaleza dos anos
1970, tantos artistas terem feito desenhos surrealistas em bico de pena, que,
por sinal, eram de elevada qualidade artística.
É
certo que, para dar vazão aos sonhos e informações do inconsciente, no
surrealismo o artista apaga a ideia da lógica instituída pelos padrões
comportamentais e morais impostos pela sociedade e acende a sua infinda
criação. Talvez, seja esse um dos caminhos para a resposta dessa minha
inquietação.
Aí,
eu lembro que no inconsciente do meu processo criativo, entre sonhos, fantasias
e emoções avessos à lógica, muito me influenciaram na expressão da minha
produção surrealista as histórias do Cão da Itaoca e do Monstro da Lagoa Verde.
Quando
íamos passar o final de semana em nosso sítio Guajiru, na Parangaba da década
de 60, seguíamos pela estrada do Gado, que cruzava a antiga Itaoca, e assim
eu conheci o lugar.
A
Itaoca ficou famosa pelas assombrações do coisa-ruim, tocando o terror em uma
misteriosa casa, onde tirava os móveis do lugar, virava cadeira de cabeça pra
baixo e fazia prato e talher voarem! Nada ficava quieto no lugar. Para despachar
o tal capeta, levaram à casa um macumbeiro do Maranhão e até um padre pra
exorcizá-la, mas, de nada adiantou. O arcano continuou até o tempo lhe aplacar.
Não
se sabe se a história do Cão da Itaoca foi ou não invenção de alguém, mas, o
certo é que a lenda ainda persiste no imaginário do povo de lá.
Posteriormente,
lendo o jornal, no tempo em que as edições diárias só saíam às ruas no período
da tarde, eu fiquei fascinado quando vi estampado em manchete de primeira
página a crida aparição do Monstro da Lagoa Verde. No corpo da matéria, até
retrato-falado da aberração tinha. Os que descreviam o monstro afirmavam com
todas as letras que, em tamanho e ferocidade, o bicho dava de cascudo e chulipa
no escocês monstro do Lago Ness.
Mas,
como nem tudo para sempre é, o monstro viveu a sua fama até ser abatido por um
grupo de desocupados da região, que pastorava todo o dia a Lagoa Verde.
Atendendo ao chamado de resgate, os gloriosos bombeiros constataram que o
“fabuloso” monstro não passava de um mixuruca jacaré, medindo pouco menos de
meio metro.
E
assim, rimando, eu tomei gosto pelas coisas surreais em meus incontáveis
desenhos iniciais.
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