OS BACORINHOS
Totonho Laprovitera*
Totonho Laprovitera*
No Sítio Santa Rita de Cássia, seu Zé resolveu criar
alguns bichos. Além da animação que eles levariam ao lugar, alguns deles ainda
tornar-se-iam saborosos manjares.
E assim fez. Entre a matança de uma ou outra galinha
caipira, a ser preparada à cabidela para o almoço dominical, o velho gato da
casa a tudo observava ronronando pela cozinha.
E via-se e ouvia-se, passeando pelo terreiro, os
órfãos pintinhos ciscando e piando, os capotes com seus estridentes e
repetitivos fraquejares – tofraco!, tofraco! – o alvo carneiro e seu balir, e a
vaquinha Mimosa que, mugindo, parecia esperar a hora da ordenha.
Ouvia-se, ainda, o grasnar dos patos, o ruflar das
asas do peru gorgolejando, o relinchar do jumento, o trilar dos canários, o
martelar da araponga e, entre o farfalhar das árvores, o sabiá gorjeando.
Faltava, porém, o grunhido dos porcos. E foi quando Seu Zé resolveu adquirir
alguns bacorinhos.
Foi à feira e comprou oito. Depois, repartiu o pão: dos oito, deu quatro ao caseiro Bastião. A intenção era clara: sendo dono da metade dos bacorinhos, Bastião iria dedicar-se muito mais aos bichinhos.
– Na semana que vem, pode esperar, vou trazer uma
ração especial pra eles – disse o caprichoso seu Zé.
Na sexta-feira, lá estava o patriarca da família
Dias. Embora já escuro, era mais ou menos umas seis e meia da tarde, partiu
rumo à pocilga pra conferir os suínos. Acompanhado do serviçal residente da
propriedade rural, seu Zé empunhando uma lanterna pôs-se a contar a leitegada:
– É, seu Zé, o senhor tem razão, também não tô
conseguindo enxergar.
– Só tem quatro mesmo... – Reforçou
um dos seus genros.
– Ô, Bastião, onde estão os
outros quatro?
– Ah, seu Zé, num tão aí mesmo, não.
– Bastião, e
estão aonde?
– Sei lá, seu Zé, já faz mais de três dias que eu
vendi os meus!
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