IMPORTÂNCIA DA
IMPRENSA DA UFC
NO REPASSE DO
CONHECIMENTO (I)
Assis Martins*
Este texto é parte do trabalho acadêmico de nossa
autoria, Origem e Desenvolvimento do Livro
e a Importância da Imprensa da Universidade Federal do Ceará no Repasse do Conhecimento,
defendida como requisito parcial para a obtenção do título de Tecnólogo em
Gestão da Educação Superior nessa instituição.
Pareceu-nos de bom alvitre reativar este trabalho
numa homenagem à Instituição que completa 60 anos e onde militamos durante mais
de vinte, como desenhista e programador de livros e capas de muitas
publicações.
A Imprensa Universitária da Universidade Federal do
Ceará é uma indústria gráfica concebida pelo espírito empreendedor do Prof.
Antônio Martins Filho, instalada logo após o ano de fundação da Universidade,
com a função básica de atender às necessidades administrativas, intervir na
área de produção de livros e periódicos e na divulgação de trabalhos
científicos.
Seu papel definiu-se, em primeira instância, em um
momento de baixa produção editorial no Nordeste, principalmente no Ceará, o que
a situou em um patamar de invejável posição.
A fase experimental de implantação, mesmo em condições físicas
improvisadas e com equipamentos incompletos, recebeu da Administração Superior
o aval para a conclusão e aprimoramento do seu projeto. Quando se fixou em
prédio próprio, concebido tecnicamente para o funcionamento de uma indústria
gráfica, inseriu-se de vez na efetiva editoração universitária brasileira.
As administrações que sucederam sua fundação e
implantação contribuíram, cada uma a sua maneira, quer em termos de
redirecionamento de objetivos, em redesenho do “leiaute” industrial ou na readequação
de bases tecnológicas para a consolidação do seu papel institucional.
A Lei que criou a Universidade Federal do Ceará foi
assinada no dia 12 de dezembro de 1954 pelo Presidente da República, João Café
Filho. O seu efetivo funcionamento começou a ocorrer no ano de 1955, oficialmente
instalada em sessão solene no dia 25 de junho no Theatro José de Alencar.
Naquela época, apesar de Fortaleza já ser um centro
cultural desenvolvido, não havia aqui uma editora capaz de dar atendimento ao
volume das produções literárias; além disso, como o livro não despertava grande
interesse à iniciativa privada, os investimentos no setor eram poucos.
Segundo o próprio Martins Filho – conforme relata nas
suas memórias – ele soube que estava à venda a Tipografia Lusitana, instalada
na Rua Major Facundo, cujo proprietário era Clóvis Carvalho Pereira. Dirigiu-se
ao local, onde deu uma olhada nas máquinas, equipamentos, tipagem disponível,
estoque de material etc. Após rodadas de negociação, ele e o proprietário
chegaram a um acordo: o total da compra ficou acertado em Cr$ 700 mil, excluído
o estoque de tintas e papel, que seria adquirido pelo preço da praça.
Uma comissão da Imprensa Oficial do Estado avaliou o
material, e a proposta foi levada para apreciação do Conselho Universitário,
que concedeu autorização para a compra, na sessão de 6 de abril de 1956.
Para o início do seu funcionamento, no dia 24 de
abril de 1956, foram arrendadas as oficinas da Editora do Instituto do Ceará. A
nova unidade passou por vários locais no primeiro ano de funcionamento:
inicialmente, no mesmo prédio da Tipografia Lusitana; depois, mudou-se para a
sede da atual Reitoria na Avenida da Universidade 2853, sendo instalada numa
garagem onde hoje funciona o Auditório Castello Branco. No dia 17 de julho de
1956, foi feito um crédito especial de Cr$ 620 mil para compra de uma máquina
(linotipo). Estava dada a largada!
No princípio, eram apenas sete funcionários, e, no
ano seguinte, já contava com vinte, dez contratados e dez tarefeiros. No dia 29
de agosto de 1958, a
Gráfica Piauiense foi adquirida por Cr$ 8 milhões, englobando tipografia,
clicheria e encadernadora. O equipamento ainda foi ampliado com máquinas
compradas à firma Assis Bezerra & Cia.
Sua produção aumentou com o aparecimento de várias
coleções como Pensamento Universitário,
Carnaúba, Biblioteca de Educação, Biblioteca de Cultura, Documentários de
Estudos e Pesquisas, Coleção de
Estudos Cearenses e muitas obras sobre Literatura, Direito, Educação,
Medicina, Folclore, História, Geografia etc. De grande importância foram os
convênios que possibilitaram as publicações das Revistas da Academia de Letras,
Academia Sobralense de Letras, Instituto Histórico, Grupo Clã e do Instituto
Cultural do Cariri (Itaytera-Crato).
Para se ter noção do crescimento da gráfica, em 1980,
contava com cinco linotipos, cinco impressoras automáticas, seis máquinas para
confecção de impressos e seis equipamentos para corte, dobragem, costura e
grampeamento. Completando o parque gráfico, uma clicheria completa e um
equipamento de off-set para
composição, gravura e impressão. O quadro de pessoal era composto de sessenta e
nove servidores, entre mestres, artífices e auxiliares administrativos de
serviços diversos.
A sua sede atual foi inaugurada numa solenidade
especial com a presença de autoridades e intelectuais, no dia 25 de maio de
1967, quando recebeu o nome do seu idealizador, o reitor Antônio Martins Filho.
Citando ainda suas Memórias, ele diz: “...Se tivesse sido possível, a
implantação da Imprensa teria ocorrido no mesmo dia da instalação da
Universidade. Não creio seja preciso lembrar que o bem maior da instituição é a
produção da cultura e do saber, e que a publicação de livros, revistas e
periódicos é a expressão, por assim dizer, de nossas realizações e criatividade
em todos os campos da inteligência. Produzindo muito, como produz, a Imprensa
nada mais é que o reflexo das atividades globais da Universidade”.
NOTA
No próximo texto mostraremos as obras mais
importantes editadas no período áureo (1956 – 1967), quando já tinham sido
impressos cerca de 300 livros, e aproximadamente,
80 periódicos, além de folders, cartazes, material de suporte administrativo,
dentre outros).
NOTA DO
EDITOR:
Neste
primoroso artigo o Prof. Assis Martins faz referências saudosas à Imprensa
Universitária da UFC, um polo gutembergueano a catalisar e a materializar em
livros, por anos a fio, a produção intelectual dos cearenses, da mais vária
inspiração lírica e de todas as vertentes científicas – gráfica da qual, em
artigo anterior, postado neste Blog em dezembro do ano passado, o Prof. Vianney
Mesquita lamenta a desativação das “rotativas”. Vai abaixo o excerto do texto,
para contemplação conjunta dos assuntos correlatos.
..................................................................................................
“De trato próprio, nos seus faustos, saboreei as
delícias da Imprensa Universitária da U.F.C., fundada pelo Magnífico Reitor
Antônio Martins Filho – “tipógrafo aos 11 anos” (e sob a direção,
antiteticamente responsável, determinada e surreal, de Anselmo de Albuquerque
Frazão), onde o vaivém de autores dos mais diversos saberes – de que é feita a
U.F.C. – era imenso e constante, sempre sob as vistas e praticamente
dependentes dos decisos terminantes desse Reitor Perpétuo (1904-2002), cuja
opinião pacificava por definitivo qualquer pendência, ao conceder ao assunto
foro de verdade e garantia de vigência.
Ali editei o primeiro livro, em 1984 (Sobre
Livros – aspectos da editoração acadêmica), e outros mais, artigos em
periódicos científicos da Instituição – Revistas de Letras, Direito,
Comunicação Social, Educação em Debate, Jornal Universitário etc – além
de acompanhar, feito Secretário-Executivo das Edições UFC,a
produção científica levada ao lume por essa Academia, no tempo áureo do Reitor
Professor Paulo Elpídio de Meneses Neto (21.06.1979 a 20.06.1983),
instituidor do mencionado selo.
Hoje esta marca perfaz 36 anos, e procede, com
absoluto êxito, em todos os rincões do Brasil onde comparece a cultura,
presentemente sob a mão direita estabilíssima do Professor Antônio Cláudio Lima
Guimarães, o qual recorre a outras casas impressoras de Fortaleza para imprimir
seus volumes, ao preterir, por pretextos vários, a IU – UFC.
Lastimavelmente, se ofuscou e, num átimo, realmente
desapareceu a relevância educativa, cultural e científica da outrora
nacionalmente poderosa e efetiva Imprensa Universitária – pois hoje não faz
sequer um folder – premida, entre outras razões, mormente de
natureza administrativa, pelos ditames dos órgãos oficiais de controle federal,
cujas determinações impedem o funcionamento a pleno emprego desse organismo
ancilar e indispensável de uma Universidade de vanguarda, sempre à frente de
muitas outras suas coetâneas no campo produtivo das ciências e de sua
distribuição, a bem da Humanidade, por via da sua elaboração gráfica.
Vai-se rematando, pois, o seu enredo – comentado
nas reflexões dos dois primeiros parágrafos deste escrito – de sorte a se lhe
agilitar o óbito, quer por incapacidade gerencial, pelo mencionado capricho dos controllers oficiais,
desazo da direção maior – Administração Superior – incúria dos funcionários, ou
mesmo a conjunção de tantos motos conducentes à morte anunciada de um instituto
de tão alevantadas intenções e promotor de tantos resultados, desde sua
criação, há exatos 61 anos. Falta pouco, a julgar pelo jeito como as coisas se
encaminham, para o terminal Requiescat in pace!”. (Vianney Mesquita in Expressão Gráfica – Sorbonne Cearense
da Manifestação Visuoeditorial)
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