sábado, 27 de junho de 2015

NOTA FÚNEBRE

MORRE J. CIRO SARAIVA
*Wilson Ibiapina


A imprensa do Ceará está de luto. Morreu Ciro Saraiva, aos 76 anos.

Hoje cedo, ao abrir o computador deparei-me com este Email:

Prezado Wilson Ibiapina,

Sou neto do Jornalista J. Ciro Saraiva. Venho por meio deste comunicar-lhe o falecimento do meu avô Ciro Saraiva nesta madrugada de sábado. O velório ocorrerá a partir das 14 horas na Ternura, Aldeota - Fortaleza, e o sepultamento está previsto apenas para amanhã de manhã, no Cemitério São João Batista.

João Ciro Saraiva de Oliveira, mais  conhecido como Ciro Saraiva, nasceu em Quixadá. Começou na imprensa em 1953, no jornal O Estado. Depois trabalhou no Correio do Ceará, O Povo e Tribuna do Ceará. Foi radialista na Ceará Rádio Clube, na Dragão do Mar e na Radio Uirapuru.

Trabalhou na TV Cidade e na TV Ceará.  Foi secretário de Comunicação dos Governos Manuel de Castro e Gonzaga Mota e fez parte da equipe de marketing da vitoriosa campanha de Tasso Jereissati ao governo do Ceará, em 1986.

Em 2011  lançou o livro "No Tempo dos Coronéis”, em que relata os principais fatos da política cearense durante a época do regime militar, do Governo de Parsival Barroso, em 1960 à campanha de Tasso Jereissati, em 1986. Depois escreveu "Depois dos Coronéis". Recentemente, vivia para fazer orações, escrever seus livros e tratar da saúde.

Era diabético e  fazia a hemodiálise para ajudar no funcionamento dos rins, problema que o matou nessa madrugada. Nos últimos anos deixou a religião católica, tornou-se  evangélico. Ele foi também O REI MOMO DO CEARÁ.

Do livro Dinastia de Momo, 
do Jornalista Francisco Felix
Quem encontrava ultimamente  o circunspecto jornalista Ciro Saraiva era incapaz de imaginar que este senhor que gastava bom tempo de sua vida em orações e em leitura da Bíblia, foi um dia o mais espirituoso, alegre e divertido Rei Momo da história do carnaval de Fortaleza.

Essa passagem na vida do brilhante escritor, ele procurava esquecer por achar o carnaval cada vez mais longe do povo, que essa “explosão cultural popular virou coisa de rico marcada pela ferocidade do sexo, pela droga e pelo dinheiro”, conforme ele assinala em seu livro “No Tempo dos Coronéis”. 

Mas tudo começou por causa do incidente que ocorreu no Country Club de Fortaleza, onde hoje funciona hoje o restaurante Serigado, comandado pelo cronista esportivo Sílvio Carlos.

Era o carnaval de 1961. O juiz de menores, Cândido Couto, recebeu denúncia de que menores estavam participando da festa do Country, a segunda-feira mais animada do carnaval cearense. O juiz mandou que a polícia fosse lá retirá-los da festa. A tropa chegou no momento em que o Rei Momo Irapuan Lima e sua corte visitavam o clube.

Edilmar Norões, que fazia parte da corte como cronista carnavalesco, lembra da cena. Algum gaiato gritou para a polícia não prender o Rei Momo. Irapuan Lima, indignado bradou: “O Rei é imprendível!”. A Polícia abriu fogo no salão. O fotógrafo Vieira Queiroz, do Correio do Ceará, foi baleado e o Rei teve que pular o muro para escapar dos tiros.

Depois dessa confusão o Rei Momo abdicou. O presidente da Crônica Carnavalesca, Chico Alves Maia, entrou em campo para encontrar seu substituto.

Para alegria geral a escolha recaiu sobre um jornalista gordinho, recém-chegado de Quixeramobim. Com o nome de Cirão I, o novo Rei Momo se vestiu de Nero e saiu às ruas, segundo ele, com “a disposição de tocar fogo no Carnaval de Fortaleza”. Seu grito de guerra era “Vivo o Cão”.

Um dia, num baile no clube Iracema, Cirão sobe no palco e, ao lado do comandante da Região Militar e do ministro Expedito Machado, proclama no microfone: “O Rei, o Ministro e o General! Viva a irresponsabilidade!”.

Foi, sem dúvida, o mais animado e debochado Rei do Carnaval cearense. Sua performance aumentava a alegria dos foliões. Só ia pra casa com o sol raiando.

Não fez como aquele rei Momo do passado que foi destituído em plena segunda-feira de carnaval. Foliões, que voltavam de uma festa às 6 horas da manhã, flagraram o Soberano de pijama e comprando pão numa padaria.

A Rainha que acompanhava Cirão, Irani, era muito bonita e chegou a provocar uma crise de ciúme na casa dele. Entre a Rainha do Carnaval e a Rainha do Lar, o Rei optou pela Rainha do Lar. Inventou que estava doente e como já era 1965, em plena ditadura militar, ele saiu-se com essa: “Só volto ao carnaval quando houver condições de fazer alegria no Brasil”.

Do livro Dinastia de Momo, do Jornalista Francisco Felix
No carnaval seguinte o Rei já era o Javeh.

Ultimamente, o jornalista e escritor Ciro Saraiva vivia para Jesus, não ousava sequer repetir o brado de guerra que ele usava para incentivar seus súditos. Considerava uma injuria a Deus.

Na verdade, nunca mais apareceu um Rei Momo tão espontâneo, carismático que nem ele. O poeta Rogaciano Leite sentenciou um dia: “No Ceará só existiram dois reis: Luisão e Cirão. O resto é palhaço”.

Eu acho que o melhor mesmo foi o Cirão Primeiro e Único. Que Deus o tenha.

*Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ


NOTA DO EDITOR:

O jornalista Ciro Saraiva, em cargos de direção e de editoria que ocupou em veículos de comunicação de Fortaleza, concedeu a primeira chance na imprensa aos acadêmicos acelejanos Arnaldo Santos e Reginaldo Vasconcelos, então iniciando respectivamente como radialista profissional e como jornalista colaborador. 

Na imagem, Ciro Saraiva acompanha o trabalho do diagramador Paiva, na paginação da coluna Vida Moderna, assinada por Reginaldo Vasconcelos, no suplemento semanal TC Revista que editava no extingo jornal Tribuna do Ceará, em 1980.

Ciro foi alvo de homenagem por ocasião da mais recente Assembleia Geral Ordinária da ACLJ, no auditório da ACI, em 23 de abril deste ano, quando lhe foi outorgada a Comenda Governador Parsifal Barroso. 

Já com a saúde muito debilitada, ele foi representado na solenidade por seu neto, Jonas Sampaio, que recebeu a medalha e o diploma em seu nome, das mãos do Acadêmico Benemérito Igor Queiroz Barroso.

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