A BUSCA POR
SEGURANÇA
Rui Martinho
Rodrigues*
Segurança
é um sonho legítimo, irrenunciável, mas os caminhos para realizá-lo não são
muitos. A solução de problemas, aumentando a produtividade, é um deles. Irrigação,
escrita, fundição de metais, máquina a vapor, motor a explosão e informática
são frutos desse método.
Outro
caminho é a organização política e jurídica. A constitucionalização da ordem
política e jurídica é um dos meios pelos quais se busca segurança. Constituições
escritas, rígidas, amparadas pelo controle de constitucionalidade difuso e
concentrado (como a nossa); somada a legislação infraconstitucional, como a
trabalhista, a consumerista, a ambientalista; ao lado das leis processuais. Todas essas são
expressões do meio jurídico e político da busca de segurança.
A
subordinação dos governantes aos governados é a joia da coroa, neste caminho da
busca por segurança. Os princípios da legalidade, da reserva jurisdicional e
outros, relacionados com o princípio da divisão das funções do poder do Estado,
na forma de freios e contrapesos, são filhos da desconfiança dos governados
face aos governantes e têm por escopo a segurança jurídica, porque o poder
tende a expandir-se na direção do abuso, do arbítrio. A segurança jurídica é a
mãe de todas as formas de seguranças.
As providências citadas não promovem a segurança plena. A solução de problemas não
chega a todos. O ordenamento jurídico se limita a oferecer garantias aos direitos,
conforme a tríade composta pelo ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a
coisa julgada. Não alcança todos, pois o “Direito não ajuda a quem cochila”, nem aos desprovidos. A representação política, por sua vez, é imperfeita.
Outro
caminho é o Estado Provedor. Raoul Girardet, na obra “Mitos e mitologias
políticas”, expõe as entranhas míticas das doutrinas políticas, relacionadas a
volta a uma idade do ouro ou a um paraíso perdido em razão de uma queda.
Michael Oakeshott, na obra “Sobre a História”, no ensaio “A Torre de Babel”,
fala de um sonho de desfrutar um paraíso preexistente, sem o desafio da produção e da produtividade. Bastando conquistá-lo revolucionariamente. Ao
exortar os homens a construir a torre, Minrod fez o apelo: "não nos dispersemos,
permaneçamos unidos". Quase dizia que o povo unido jamais será vencido.
O
fortalecimento do Leviatã promete segurança. Muitos aceitam a proposta hobbesiana: trocar a liberdade pela
segurança do Leviatã. Isso destrói a segurança jurídica, sem a qual não resta
nenhuma segurança. Trocar a liberdade pelo bem-estar é perder as duas, dizia Milton
Freedman. O Leviatã não resolve os problemas de produção e produtividade, nem é
tão sábio, justo, virtuoso, ou capaz de anular as desigualdades entre os homens
e proceder à repartição fraterna dos bens.
O
nosso Estado não foi criado pela sociedade. A nossa sociedade foi criada pelo
Estado. A nossa federação não surgiu da união de estados, mas de um Estado
unitário. Tais origens nos tornam susceptíveis à ilusão da Torre de Babel. Os
fracassos das experiências que seguiram por este caminho não nos despertam. Somos
uma babel – não surpreende.
Professor – Advogado
Historiador – Cientista Político
Historiador – Cientista Político
Presidente Emérito da ACLJ
Titular da Cadeira de nº 10
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