segunda-feira, 15 de junho de 2015

ARTIGO (CB)

DESSALINIZAÇÃO DA 
ÁGUA DO MAR
Cássio Borges*

A Revista Veja de 20 de maio trouxe interessante matéria sobre o tema da dessalinização da água do mar, com a seguinte indagação: “Seria uma saída para o Brasil?”. A própria revista descarta essa solução para a cidade de São Paulo, “a maior e a mais rica cidade do país, onde há meses seus  moradores convivem com torneiras secas”, pois  “além dos altos custos do processo: mais caro do que tirar o sal da água do mar é levá-lo morro acima – a capital paulista está localizada a longínquos 760 metros de altura do nível do mar”.

O caso de São Paulo nos adverte de que este tipo de solução deve ser pensado, mas para regiões não muito distantes do litoral, como é o caso da Região Metropolitana de Fortaleza, e de outras cidades litorâneas como Recife, por  exemplo, apesar de sua proximidade do Rio São Francisco, um solução economicamente mais viável.

Há poucos dias, eu chamava a atenção, em artigo publicado no Blog do jornalista Eliomar de Lima, de que a cidade de Jaguaretama, situada dentro da bacia hidráulica do Açude Castanhão, a apenas 20 quilômetros de sua margem, estava  sem água.  Portanto, o problema não é só produzir água. É muito importante também levar em consideração o custo do seu transporte para os distantes locais e elevadas altitudes, onde ela esteja sendo necessária.  

Para se ter uma ideia, a usina referida pela Revista Veja na Califórnia vai produzir 190 milhões de litros de água por dia, ou seja, 190 mil metros cúbicos, equivalente a 2,2 m3/s. O custo desse empreendimento, segundo a revista, é da ordem de 1 bilhão de dólares, ou seja, algo em torno de 3 bilhões de reais. Acredito que a construção da  Barragem do Castanheiro, no Rio Salgado, em Lavras da Mangabeira, lógica e evidentemente é muito mais viável, a um custo em torno de R$ 500 milhões, podendo ter sua vazão regularizada em cerca de 9 m3/s, valor este mais ou menos equivalente ao que é consumido na Região Metropolitana de Fortaleza.

Mas a incompetência falou mais alto e esse importantíssimo açude foi descartado pela Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Ceará. Como pensar em dessalinização da água do mar se ainda se tem um potencial de açudes a explorar? A minha opinião é que primeiramente deveremos recorrer às reservas sustentáveis de que dispomos.


* Cássio Borges
Jornalista e Engenheiro
Especialista em Recursos Hídricos e Barragens
Ex-Diretor do DNOCS
Membro da ACLJ


Nenhum comentário:

Postar um comentário