domingo, 14 de junho de 2015

CRÔNICA (VM)


FUNCIONÁRIO CARA DE PAU 
Guerra contra a Espécie por Parte do
Prof. Henry e do Prof. Custódio
Vianney Mesquita*

A indiferença é a imoralidade da mente. (GIUSEPPE MAZZINI. YGênova, 22.06.1805 – Pisa, 10.03.1872).

São por demais comuns nas repartições públicas brasileiras as grosserias, evasivas e indiferenças expressas por servidores procurados pelas pessoas comuns, isto é, desacompanhadas do famigerado (e, ainda hoje vigente) pistolão, a fim de resolver questões em que ambos, demandante e demandado, são parte no assunto.

Este é um problema que configura ponto crucial no Plano de Metas dos Professores Doutores Henry Holanda Campos e Luís Custódio Almeida Silva, que – se espera – serão escolhidos reitor e vice-reitor da Universidade Federal do Ceará, em consulta no próximo dia 18 de junho de 2015, sexta-feira.


Às vezes, nem mesmo a saudação de bom dia ou boa tarde é respondida. Muita vez, se espera longamente e, não raro, se vai embora porque o amanuense, de cara amarrada para o cidadão, não larga o telefone, nem deixa de esgaravatar as teclas do smartfone; tampouco amata a fofoca solta entre os fulanos e fulanas do lado de dentro do balcão, e ainda inventa de ir ao banheiro ou mesmo trama ir merendar (verbo usado praticamente no Nordeste do Brasil), na esperança de o importuno visitante desistir de seu intento.

Nos ambientes de saúde pública, então, a cultura é a da submissão, da rudeza e incivilidade, desde o varredor ao diretor da unidade, onde, via de regra, o chefinho, intermediário, de cargo comissionado, é o chamado colhudo, tuxaua, “dono do pedaço”, senhor da situação, onde o médico gostaria de ser a metade do que o auxiliar de enfermagem pensa que é. O paciente pois, embora muito paciente, é destratado, havido como coisa, e, na sua desimportância, muito frequentemente, desiste do  objetivo, sem qualquer resolubilidade, pois, retorna para casa mais paciente ainda, mais doente, sem ver os impostos que paga revertidos em benefício do contribuinte por ele representado.

Desafortunadamente, em centenas de exemplos que se poderia rememorar, em certas demandas às repartições públicas, ainda é preciso invocar o há pouco mencionado pistolão, pessoa importante que recomenda, ou mesmo a mera referência a esta figura influente: “Sou primo da mulher do Reitor”; “sobrinho do comandante”; cunhado do delegado”; “primo terceiro do ex-cunhado do padrinho de fogueira do pró-reitor de Extensão”, seja lá o que for. Próximo ou por demais distante, importa é uma referência para o abre-te-sésamo.

Evidentemente, não há de pensar o leitor na ideia de haver dito este cronista que o comportamento sob escólio é a regra, mas a exceção, uma excepcionalidade que deprime e envergonha. TAMBÉM NÃO É UNILATERAL, pois o demandante desfeiteia o funcionário procurado, e, decerto, em muitas recorrentes ocasiões.

Na esteira dessa reflexão, reporto-me à Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas da UFC (denominação muito mal escolhida, haja vista a colisão “DIGESTÃO” – e chamei, na época, a atenção para isso) da Universidade Federal do Ceará, por exemplo, como saco de pancadas, sparring da U.F.C. inteira. Ali se desenvolve uma das tarefas mais ingentes da Humanidade – tratar com gente.

Nas mais das vezes, os funcionários de lá só recebem bordoadas - conquanto, aqui e acolá, também as distribuam, aliás, por gratuidade, quando, p. e., em certa ocasião, tratei de determinado assunto com uma “surdo-muda” de lá, pois nem falou nem ouviu nem sorriu nem chorou, não disse nem “arroz”, feita estátua, em atitude detestavelmente incivil, o que me deixou revoltado!

NINGUÉM, no entanto, vai à PROGEP para agradecer; “seu” ninguém! Nem quando a benesse é demais. Agora, tire um centavo, embora corretamente!

De tal sorte, sem dúvida, esta configura relação doentia, uma patologia uefeceana, que precisa ser combatida e extinta pelos novos dirigentes.

Talvez pelo cansaço, estresse, bornout ou qualquer coisa própria de quem lida com a nação de gente – e gente chata – eles se resguardem, se fechem em copas. Há poucos dias, fui a uma de suas unidades, dei “bom dia” duas vezes e sem resposta. Retirei-me e uma moça disse:

– Diga! (Isto é saudação?)

– Não digo nada. Lá quero conversa com gente assim ...! Uma delas, não sei se a chefe, pró-adjunta, talvez, me fulminou com o olhar. Comentei, depois, com o Pró-Reitor ...

Noutra circunstância, quando necessitava de um adesivo para meu carro, a fim de poder estacionar das dependências da Reitoria, me disseram para falar com o subprefeito Fulano. Fui procurá-lo.  

– Seu Fulano está?  Preciso lhe falar pessoalmente.

Por cima dos ombros, o servidor, com cara de poucos amigos, tampou com a mão a recepção do telefone e falou, com raiva:

– Não está. O que é?

Respondi:

– O sr. é o subprefeito Fulano”.

– Não.

–  Então não é com o senhor que quero falar!

De tal modo, como reconhecem ambos os postulantes, esse status quo não deve prosperar, pois se ressente da maximização da política de recursos humanos – hoje com servidores concursados e portadores de pós-graduação em sentido estreito (mestrado e doutorado), uma vez que prossegue em curso a falta de educação, tem lugar a ausência de compromisso com a instituição e vai avante a desconexão das partes em interesse para consecução dos grandes objetivos institucionais.

Somente, pois, uma vez revisionada esta política, os diversos segmentos institucionais poderão coabitar o terreno da honra e da decência no concernente, também, às vinculações interunuidades e comunidades de fora, com vistas a um relacionamento cidadão, principalmente ao se considerar ser a Universidade Federal do Ceará a instituição prima inter pares do ensino, pesquisa e extensão no Ceará.

Servidor de cara amarrada e demandante mal-educado não devem representar a Nação U.F.C., porquanto, em circunstância de progresso tão alentada, defeso é persistir a ocorrência desses ruídos, quando, desde a Carta Cidadã de 1988, as admissões sucedem por concurso, com pessoas preparadas, detentoras de certificados de mestrado e doutorado, as quais  deverão praticar atitudes civilizadas, decentes, solidárias e resolutivas.


*João VIANNEY Campos de MESQUITA é Prof. Adjunto IV da UFC. Acadêmico Titular das Academias Cearense da Língua Portuguesa e Cearense de Literatura e Jornalismo. Escritor e jornalista. Árcade fundador da Arcádia Nova Palmaciana. Membro do Conselho Curador da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura-FCPC-UFC.

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