“NÃO SINTO SAUDADE
DO FUTURO”*
Wilson Ibiapina**
Lembrando o filósofo jornalista Francisco
Augusto Pontes, Chico Pontes na UnB e famoso Augusto em
Fortaleza: “A felicidade dos outros me deixa de saco cheio. Papai
Noel”.
Recém chegado a Brasília, perguntei se ele já conhecia a
cidade: “Não, ainda estou nas primeiras letras”.
O compositor Ednardo, nosso contemporâneo, lembra que
“Augusto é autor de mais de 200 letras", apenas umas 12 músicas
onde contribuiu com suas letras e genialidade, são conhecidas do público ou
gravadas, entre as quais: Carneiro e Água Grande em parceria com Ednardo;
Lupiscínica em parceria com Petrúcio Maia; O Lago e A Mala em parceria com
Rodger Rogério; Velho Demais e Sopa de Saudade e Palmito em parceria com Zeca
Bahia; e outras inéditas com um dos fundadores da Tropicália, o baiano Piti que
estava residindo em Fortaleza com o qual fez a parceria Caminho do Mar.
Também realizou parceria com os compositores do grupo
piauiense residente em Brasília: Climério – Pelada; E Clésio – Folia ou Pressa;
e existem outras com o Clodo e também O Mundo Mudar e Pancada do Mar em
parceria com Rodger Rogério.”
Segundo Ednardo, a frase “Vida, vento, vela – leva-me
daqui” inspirou e foi usada por Fagner e Belchior na composição Mucuripe.
Outra, “Eu sou apenas um rapaz, latino americano, sem dinheiro no banco e nem
parentes importantes”, foi fundamental para Belchior construir sua famosa
canção.
Paulo Linhares, que substituiu Augusto Pontes como
Secretário de Cultura do Ceará, no governo de Ciro Gomes, escreveu num artigo:
“O texto da música Carneiro, imortalizada por Ednardo, é a mais perfeita tradução
do campo cultural cearense: “Amanhã se der carneiro/vou mimbora daqui pro Rio
de Janeiro. As coisas vem de lá... E vou voltar em vídeo tapes e revistas
multicoloridas. Pra menina meio distraída repetir a minha voz: Que Deus salve
todos nós e Deus salve todos vós”.
Segundo Paulo Linhares, “o impasse da vida artística
digna num Estado pobre; a centralização da indústria cultural sudestina; a
vontade humana, demasiadamente humana de conquistar plateias; a súplica
cearense por uma salvação tardia. Tá tudo na letra Carneiro”.
Quando juntava gente demais na mesa do Bar do Anísio, na
beira mar, em Fortaleza, ele dizia: “Quando a mesa cresce, a cultura
desaparece”.
Nos coquetéis de lançamento de livro era “A cultura em
álcool imersa, logo dissipa e dispersa”.
* Frase de
Augusto Pontes
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação
em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário