INFUNGÍVEL
Reginaldo Vasconcelos*
Recebo
das mãos de Wilson Ibiapina, diretamente de Brasília, acondicionado em elegante
caixa de exata dimensão, envolta em fita dourada amarrada por um laço, o que se
podia imaginar serem chocolates finos. Todavia, revelado o conteúdo, semelha
ser um livro – mas já de plano indicando algo vintage.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8rlGNZCvbBf9-p-FBlHpZczbSW2BGtjaVLPZvDY-SGPgtMobA-y2J2YHcnhl7eBFnZU5TH1qPoHRrGMHOBQ4XOg6cQCIBDLf1_OV9DSWSl6luiRdhvIhFcRxlGoNWg3zLCo752G1MWmLv/s320/TR%25C3%258AS+CONTOS.jpg)
Bartolomeu Rodrigues é o nome do conduto iluminado pelo qual os duendes da mais delicada inspiração fizeram fluir o conteúdo e a forma dessa contida obra de 165 páginas, em catito formato dezenove por doze, de capa dura em cuchê marmóreo, com direito a fita de marcação e à pintura magenta que caracterizava os antigos breviários, contornando a parte externa do miolo do tomo.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx5o9Y8kkpz9QZVy_h4tvck8lid6_avBKVA4FfDD_caAWu0zU8pLWbbhbUyCGSFoKvER4hFnu8VUoyF9ZjShIjfwduEwYXrUMiFNBAtlgnOZ9epjNnShOYzkSHAunm_1XPPkV2s_lW_ZcM/s200/TR%25C3%258AS+CONTOS+II.jpg)
Mas
ao consumir o conteúdo – os contos “Laje dos Gatos”, “A Invasão dos Sapos” e “Se
eu morrer, Você Vai Ficar Triste?” – tenho a sensação de que não era de todo
falsa a primeira impressão que tive ao receber de presente aquela caixa e seu
mistério. O que se continha nela não deixa de ser, por analogia sinestésica, três finos
bombons de cacau – um mais amaro, um mais trufado, um mais amanteigado. Com a
vantagem de que, no caso do livro, um bem de natureza durável, o seu consumo é
infungível.
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