O FRAZÃO E O BRÁS
Vianney Mesquita*
Podemos convencer os outros com as nossas razões, porém
somente os persuadimos com os motivos deles. JOSEPH JOUBERT. (YMontignac,
05.05.1754 – †Villeneuve-sur-Yonne, 04.05.1824).
Durante
certo tempo em que o cratense Anselmo de Albuquerque Frazão, convidado pelo
reitor, dirigia um dos órgãos suplementares da U.F.C. – a
Imprensa Universitária – trabalhavam no ateliê de desenho da Casa os
profissionais Assis Martins (cronista assíduo deste jornal), Elísio Cartaxo,
José Raimundo Monte – o Büí (falecido em acidente de motocicleta), e o Brás,
este cujo nome completo me escapole da lembrança, já meio enfastiada de tanta
solicitação.
Também
militava ali, como parte de sua ação acadêmica, o Professor Geraldo Jesuino da
Costa, acadêmico titular desse Sodalício, ao chefiar a edição gráfica das
revistas da Instituição, editar o Jornal
Universitário, desde o tempo do
reitor Professor Paulo Elpídio de Meneses Neto, orientar seus estudantes na
disciplina Editoração, ministrada
para o Curso de Comunicação Social, bem assim desenvolver outras ações
paralelas e afins. Posteriormente, sob os reitores Professor Antônio de
Albuquerque Sousa Filho e Roberto Cláudio Frota Bezerra, exerceu por 12 anos
múnus como Diretor da então excepcional Casa Publicadora, a qual, hoje, porque
os órgãos de controle do País não permitem, está semelhante ao “H” da Brahma –
não serve para coisíssima nenhuma!
A
tantos artesãos de uma arte maior, adiciono a incomparável figura do Alberon
Soares, pintor e gravador da melhor felpa, muito recentemente desaparecido,
cujos inteligentes e espirituosos chistes o faziam admirado ainda mais por
parte de quem o conhecia, ajuntando-os, em complemento, aos seus dotes de
artista das telas e gráfico a mancheias, antes das grandes fulgurações da
Informática, divisora da já envelhecida taxinomia das Artes Gráficas em duas
grandes fases diametralmente opostas – antes e depois do computador.
Esse
pugilo de grandes artistas, pois, quase diariamente era engrandecido pela
comparência do Prof. Dr. José Liberal de Castro, da vizinha Arquitetura, onde
entrava na discussão do futebol, rememorava as estórias engraçadas da
Universidade e relatava, quase sempre com muita pimenta, os registos valiosíssimos
do seu recheio casuístico, minucioso ao extremo.
Jamais
me esqueço de uma vez ter ouvido do Alberon o fato de ele haver lido o convite
para os 15 anos da Rosa Frazão – sobrinha do Anselmo, que também trabalhava da
IU e não era mais essa juventude toda – reproduzido na seção O Povo há 50 Anos, mantida no periódico
de Demócrito Rocha e Paulo Sarasate; dizia ter sido ela a bibliotecária que
normalizou o Código de Hamurabi.
Frazão
é homem reto, verdadeiro, autêntico, sem evasivas enganosas nem justificativas
matreiras, porém, às vezes, como marca de sua personalidade, meio ríspido, mas
de uma severidade que termina na graça, resvala para o gracejo. Há pouco tempo,
saía da Agência do Banco do Brasil da Reitoria, muito sério, reclamando das
máquinas do Estabelecimento, que apenas soltavam dinheiro para quem tivesse
saldo...
A
proeminência destas linhas está, porém, neste fato derradeiro. Trata-se do caso
das férias concomitantes, ordenadas pelo Frazão, de Assis Martins, Elísio
Cartaxo e Büí, deixando o Brás sozinho no ateliê, fato que o aborreceu por
demais.
No
segundo ou terceiro dia do isolamento do Brás, o Frazão adentrou a sala,
desejou “bom dia”, sem resposta do funcionário. Tentou, outra vez debalde,
entabular conversa.
Então,
Frazão pensou consigo: “Tem mouro na costa”!
Indagou,
pois: – o que está acontecendo, rapaz?
–
Seu Frazão, como o senhor me faz essa
maldade de me deixar aqui sozinho, com tanto trabalho, isolado! Faz medo até
alma!
–
O que isso, Brás! A gente pensa que faz um giro e faz é jirau! Olhe: pelo fato
de não ter direito ainda a férias, quis deixar você sozinho, por vários
motivos: não tem quem lhe encha o saco; seu café é servido ligeiro, porque não
tem outras pessoas; você pode cantar e assobiar à vontade, sem atrapalhar
ninguém. Por fim, você pode até p....., que não há quem diga que foi você. Além
do mais, a catinga é sua ...
O
jeito que teve foi rir... E gargalharam ambos.
*João VIANNEY Campos de MESQUITA é Prof. Adjunto IV da UFC. Acadêmico Titular das Academias Cearense da Língua Portuguesa e Cearense de Literatura e Jornalismo. Escritor e jornalista. Árcade fundador da Arcádia Nova Palmaciana. Membro do Conselho Curador da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura-FCPC-UFC.
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