segunda-feira, 29 de junho de 2015

CRÔNICA (VM)


O FRAZÃO E O BRÁS
Vianney Mesquita*


Podemos convencer os outros com as nossas razões, porém somente os persuadimos com os motivos deles. JOSEPH JOUBERT. (YMontignac, 05.05.1754 – Villeneuve-sur-Yonne, 04.05.1824).


Durante certo tempo em que o cratense Anselmo de Albuquerque Frazão, convidado pelo reitor, dirigia um dos órgãos suplementares da U.F.C. – a Imprensa Universitária – trabalhavam no ateliê de desenho da Casa os profissionais Assis Martins (cronista assíduo deste jornal), Elísio Cartaxo, José Raimundo Monte – o Büí (falecido em acidente de motocicleta), e o Brás, este cujo nome completo me escapole da lembrança, já meio enfastiada de tanta solicitação.

Também militava ali, como parte de sua ação acadêmica, o Professor Geraldo Jesuino da Costa, acadêmico titular desse Sodalício, ao chefiar a edição gráfica das revistas da Instituição, editar o Jornal Universitário, desde o tempo do reitor Professor Paulo Elpídio de Meneses Neto, orientar seus estudantes na disciplina Editoração, ministrada para o Curso de Comunicação Social, bem assim desenvolver outras ações paralelas e afins. Posteriormente, sob os reitores Professor Antônio de Albuquerque Sousa Filho e Roberto Cláudio Frota Bezerra, exerceu por 12 anos múnus como Diretor da então excepcional Casa Publicadora, a qual, hoje, porque os órgãos de controle do País não permitem, está semelhante ao “H” da Brahma – não serve para coisíssima nenhuma!

A tantos artesãos de uma arte maior, adiciono a incomparável figura do Alberon Soares, pintor e gravador da melhor felpa, muito recentemente desaparecido, cujos inteligentes e espirituosos chistes o faziam admirado ainda mais por parte de quem o conhecia, ajuntando-os, em complemento, aos seus dotes de artista das telas e gráfico a mancheias, antes das grandes fulgurações da Informática, divisora da já envelhecida taxinomia das Artes Gráficas em duas grandes fases diametralmente opostas – antes e depois do computador.

Esse pugilo de grandes artistas, pois, quase diariamente era engrandecido pela comparência do Prof. Dr. José Liberal de Castro, da vizinha Arquitetura, onde entrava na discussão do futebol, rememorava as estórias engraçadas da Universidade e relatava, quase sempre com muita pimenta, os registos valiosíssimos do seu recheio casuístico, minucioso ao extremo.

Jamais me esqueço de uma vez ter ouvido do Alberon o fato de ele haver lido o convite para os 15 anos da Rosa Frazão – sobrinha do Anselmo, que também trabalhava da IU e não era mais essa juventude toda – reproduzido na seção O Povo há 50 Anos, mantida no periódico de Demócrito Rocha e Paulo Sarasate; dizia ter sido ela a bibliotecária que normalizou o Código de Hamurabi.

Frazão é homem reto, verdadeiro, autêntico, sem evasivas enganosas nem justificativas matreiras, porém, às vezes, como marca de sua personalidade, meio ríspido, mas de uma severidade que termina na graça, resvala para o gracejo. Há pouco tempo, saía da Agência do Banco do Brasil da Reitoria, muito sério, reclamando das máquinas do Estabelecimento, que apenas soltavam dinheiro para quem tivesse saldo...

A proeminência destas linhas está, porém, neste fato derradeiro. Trata-se do caso das férias concomitantes, ordenadas pelo Frazão, de Assis Martins, Elísio Cartaxo e Büí, deixando o Brás sozinho no ateliê, fato que o aborreceu por demais.

No segundo ou terceiro dia do isolamento do Brás, o Frazão adentrou a sala, desejou “bom dia”, sem resposta do funcionário. Tentou, outra vez debalde, entabular conversa.

Então, Frazão pensou consigo: “Tem mouro na costa”!

Indagou, pois: – o que está acontecendo, rapaz?

Seu Frazão, como o senhor me faz essa maldade de me deixar aqui sozinho, com tanto trabalho, isolado! Faz medo até alma!

– O que isso, Brás! A gente pensa que faz um giro e faz é jirau! Olhe: pelo fato de não ter direito ainda a férias, quis deixar você sozinho, por vários motivos: não tem quem lhe encha o saco; seu café é servido ligeiro, porque não tem outras pessoas; você pode cantar e assobiar à vontade, sem atrapalhar ninguém. Por fim, você pode até p....., que não há quem diga que foi você. Além do mais, a catinga é sua ...

O jeito que teve foi rir... E gargalharam ambos.


*João VIANNEY Campos de MESQUITA é Prof. Adjunto IV da UFC. Acadêmico Titular das Academias Cearense da Língua Portuguesa e Cearense de Literatura e Jornalismo. Escritor e jornalista. Árcade fundador da Arcádia Nova Palmaciana. Membro do Conselho Curador da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura-FCPC-UFC.

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