MAIS UMA VEZ
A HISTÓRIA SE REPETE
Rui Martinho Rodrigues*
Desde a nossa independência temos
dívida interna e externa. O crédito atende a três importantes funções: é alavanca
do desenvolvimento; instrumento de política monetária; e socorre nas situações
emergências. Por isso, governos sensatos procuram preservar o crédito público,
honrando compromissos: pacta sunt
servanda. Contrair dívidas irresponsavelmente, sem que tenha havido guerra,
nem catástrofe natural de proporções incontroláveis, investimentos inevitáveis
ou de grande significado, porém, configura grave erro.
O crédito tem ainda um pequeno
problema: precisa ser remunerado e pago. A remuneração leva o nome de “juros”.
A nossa história é repleta de
episódios de descontrole da dívida, seguidos de dolorosos ajustes monetários,
monotonamente repetidos. Repetimos os erros de contrairmos dívida em condições
injustificáveis e culpar os investidores que adquirem os títulos do Tesouro
Nacional pelo nosso descontrole monetário.
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Investimos pouco e mal. Abalamos o
nosso próprio crédito com discursos contrários a quem, atendendo ao apelo do
nosso governo, comprou títulos da nossa dívida, como se estivéssemos dizendo
“me dá um dinheiro aí seu canalha”.
Repetimos o erro da leniência para com
os gestores das nossas finanças, enquanto condenamos aqueles que nos socorrem
com empréstimos.
Parece, a cada episódio, que nunca
mais precisaremos contrair dívida, podendo por isso desprezar os credores; que
a gestão das finanças públicas foi muito correta e a culpa de tudo é dos
“rentistas”; parece que nunca vimos este filme e estamos ao inteiro dispor dos
discursos mais insensatos; que se saquearmos os nossos credores eles
continuarão nos financiando sem entrar em bancarrota. É como se quiséssemos
desfrutar de bem-estar só até acabar o dinheiro dos outros, a exemplo de tantas
experiências históricas.
Temos uma dívida que cresce
descontroladamente. Desta vez, porém, não fizemos investimentos, contrariamente
ao sucedido nos governos Vargas, Kubitschek e Geisel, quando a infraestrutura
de energia, transporte e a indústria de base foram contempladas com pesados
investimentos. Nossa dívida ainda é, relativamente ao PIB, menor do que a das
economias desenvolvidas.
Mas a situação do primeiro mundo não é
bom exemplo; e a renda do brasileiro, sendo menor, não suporta os mesmos
encargos que os europeus, japoneses e americanos. Nossas necessidades no campo
da infraestrutura de transporte, energia e dos serviços públicos essenciais,
como saúde e educação, ainda são muito maiores. Administrar bem o crédito
público é muito mais importante para nós.
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