FOLHA DE DEZEMBRO
Vianney Mesquita*
A memória é carteira da velhice: é preciso enchê-la. (APOLÔNIO DE TIANA – Y15 – †100 d.C.).
Vez
por outra, felizmente, ao contrário de ocorrerem reminiscências tristes, sucede
a rememoração de lances divertidos, o que me faz retroceder e folgar com certas
passagens, pois, quando acontecidas, me tocaram de encanto e quedaram armazenadas
no disco rígido da lembrança.

Equipe
de primeira linha nos diversos escalões institucionais e corpo de servidores da
melhor estirpe a UFC possuía – como se verifica ainda hoje – especialmente no
Gabinete, cujo Chefe, o competentíssimo e saudoso Prof. Antônio Valdinar de
Carvalho Custódio, sabia dirigir com o máximo de empenho e de responsabilidade
funcional.
Ele
e eu éramos obrigados ao mínimo de horas-aulas. Mesmo assim, desempenhávamos ao
maior contento o expediente, nesse tempo ainda bastante burocrático, de sorte a
não haver qualquer folga, sendo necessário, porém, nas mais das vezes, chegar
cedo e sair mais tarde.
Era
grande e prazenteira a movimentação de pró-reitores, diretores de centros,
faculdades e órgãos suplementares, além de, com repetida frequência, pessoas da
comunidade, os quais, antes de serem recebidos pelo Magnífico, ficavam na
antessala, muitas vezes a conversar comigo, ao mesmo passo em que eu realizava
as redações de documentos, os mais sérios quanto hilários temas, que
aproveitávamos para motejos e caçoadas, fazendo
hora com deus-e-o-mundo.


Noutra
ocasião, havia chegado – como aportavam à beça – um livro de universidade
estrangeira (Espanha) com programas de graduação e pós, a tinta ainda nova,
exalando um cheiro de cola bastante desagradável.

De
outra volta, achamos de dar de presente-surpresa de aniversário ao Reitor Hélio
Leite um volume reunindo escritos de sua autoria sobre assuntos educacionais,
que se intitulou, conferido por mim, Educação
– Temas para Refletir, editado pela Imprensa Universitária caseira. Em
visita à I.U., a fim de acompanhar a edição, topei uma folha de castanholeira
imensa, jamais vista. Colhi e postei-a sobre minha carteira de trabalho, sendo
fruto de indagações de quem passava ali.
Dezembro
já era alto e o derradeiro a transitar, às 11h45min (fome grande!) para
adentrar sua sala, vinha da Faculdade de Medicina, após despacho meio conflituoso
com o Diretor – o Prof. Dr. Francisco Valdeci de Almeida Ferreira – de sorte
que estava meio aborrecido. Era o Reitor Hélio Leite, que foi logo indagando: – Que
folha é essa, tão grande?! – A isso respondi: – É a folha de dezembro. Seguiu, de cara amarrada, até a entrada da
sua porta, lado oposto da sala. De lá, falou: – Vai haver muita demissão aqui! [...].
No
outro dia, o Magnífico retornava do Centro de Humanidades, onde se houve bem no
encontro com o Diretor, Prof. Roberto Oliveira. Havia uma folha pequena, por
mim de estudo trazida e também de Terminalia
catappa, como era a outra. Troçando, logo indagou: – E
essa folha, agora? – Repondi-lhe: –
É a folha suplementar.
Gargalhou
e entrou o Gabinete Reitoral.
Escritor e Jornalista.
Professor adjunto IV da Universidade Federal do Ceará.
Árcade titular e fundador da Arcádia Nova Palmaciana;
acadêmico titular das Academias Cearense da Língua Portuguesa e
Cearense de Literatura e Jornalismo.
Membro do Conselho Curador
da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura, da U.F.C.
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