segunda-feira, 28 de abril de 2014

CRÔNICA (WI)

Já faz é tempo que moro aqui
Wilson Ibiapina*

Foi o físico Rodger Rogério que me trouxe do Rio para Brasília, em 1970. Nessa época, os físicos cearenses José Evangelista Moreira, Josué Mendes Filho, Flávio Torres, Newton Teophilo, Cesar Bezerra, a exemplo de Rodger, faziam mestrado e davam aulas na UnB.


Rodger Rogério, José Evangelista Moreira, Josué Mendes Filho, Flávio Torres
Minha ideia era passar uma temporada e retornar ao Rio, ou voltar para o Ceará, como fizeram alguns que estudavam na UnB. Fui trabalhar na sucursal do Correio do Povo, jornal dos gaúchos, e logo depois na TV Globo.

A comunidade cearense só crescia. Encontro o Fernando César Mesquita, que me arranjou o primeiro emprego, e outros amigos começam a chegar. Augusto Pontes, Fausto Nilo, Fagner, Lustosa da Costa, Rangel Cavalcante, Dário Macedo, Tomás Coelho, Álvaro Augusto Ribeiro. 

Augusto Pontes, Fausto Nilo, Fagner, Lustosa da Costa, Rangel Cavalcante, Dário Macedo, Álvaro Augusto Ribeiro, Fernando César Mesquita
Fui fazendo novas amizades. Dizem que quem chega a Brasília passa por três fases: deslumbramento, rejeição e amor. Quando me dei conta, já estava nessa fase de apego à cidade, onde casei e nasceram meus filhos e neta. Brasília tem os pioneiros, os candangos, que chegaram no tempo da construção, e os brasilienses, os que nasceram aqui. Faço parte da leva de candangos.


Não vi Brasília nascer, mas peguei na mão dela para atravessar as largas avenidas quando ela tinha dez ano. Alcancei os redemoinhos de vento que levantavam a poeira amarela a alturas que se perdiam de vista. Hoje aos 54 anos, a cidade continua recebendo levas de nordestinos.

Mas agora o padrão de imigração é diferente, como lembra o piauiense Clodo Ferreira, professor da UnB e compositor. São os políticos, que ao fim do mandato, não voltam mais para seus estados de origem. São os jovens aprovados em concursos, ou que chegam para completar a formação.

Hoje, já somos mais de 600 mil nordestinos vivendo no Distrito Federal. O que tem mais é piauiense. Eles são 152 mil. Depois vêm os maranhenses: 143 mil. Em seguida, 136 mil baianos e, em quarto lugar, os 97 mil cearenses. Moram, também, no DF 34 mil pernambucanos; 31 mil potiguares; 7 mil alagoanos e 6 mil sergipanos.

É como diz o Correio Brasiliense, principal jornal da cidade, fundado e dirigido por nordestinos: “Nós não apenas deixamos o Nordeste, como fincamos nossas raízes por aqui”. Na matéria de capa “O Nordeste mora aqui” a revista do Correio afirma que, além de ajudar a construir Brasília, os nordestinos, com suas tradições e referências, tornam a cidade muito mais interessante.”


*Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação
em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ


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