OS INOCENTES DE
PASADENA
Por Paulo Maria
de Aragão*
Em 1º de abril de 2014
Em 1º de abril de 2014
Diz a lenda dos
índios da Amazônia que um pesado tronco de árvore caiu sobre a carapaça de um
jabuti (famoso por sua resistência) que andava pela floresta, deixando-o
imobilizado. Resignado, restou-lhe aguardar o apodrecimento do cepo. Então,
livre do embaraço, o quelônio seguiu, lépido e fagueiro, o seu caminho.
Porém, na densa selva política, o cenário é outro.
Delinquentes sem a resistência do jabuti, nem moral para enfrentar a opinião
pública, buscam abafar infindos delitos pelos desvãos do deslembrar, às vezes indisfarçáveis.
Por que, só oito anos depois, se revelou o prejuízo bilionário da
Petrobras na compra da refinaria de Pasadena? Tamanha
soma não desculpa a “omissão de parecer técnico e juridicamente falho”, como
quer a presidente.
Ninguém sabia de nada? Claro que sim! Denúncias em ano eleitoral dão
rendimentos nas urnas. A verdade é inescondível por mais que a encubram. No
caso, uma legenda “fulaniza” o escândalo: não há inocentes. Responsáveis, beneficiários
dessa história poderão escapar pelas mesmas filigranas jurídicas e pela interferência de alquimista,a exemplo dos “mensaleiros”.
A Petrobras, o sonho de Vargas, sempre foi a bandeira dos movimentos
nacionalistas. Desde os tempos do Liceu do Ceará, escuto que a “Petrobrás é nossa”, “A Petrobrás é intocável”. Hoje, discutível é que continue intocável, pois até vergamos
com a invasão de suas instalações na Bolívia por Evo Morales, na era Lula, quando
aquele ainda fez este engolir desaforos e lições de moral.
A estatal é nosso orgulho,chafurdada ou não por desmandos e superfaturamentos. Surpreende o calar dos protestos
que faziam coro nas ruas. É triste saber que o seu valor de mercado, que já a
fez a décima segunda maior do mundo, caiu
para o centésimo vigésimo lugar, segundo o jornal inglês Financial Times. O resumo da ópera: nem o tronco da árvore apodreceu, nem se guardou o silêncio
quanto à desastrada compra da refinaria de Pasadena pelos inocentes.
*Paulo Maria de Aragão
Advogado e Professor
Membro do Conselho Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira de Nº 37 da ACLJ
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