ATÉ “O DONO DA
BOLA”
Por
Paulo Maria de Aragão*
É crença generalizada que todo eleito para função pública ou privada
absorve poderes alquimistas, não ao modo do Mágico de Oz, mas pendendo para o
Dr. Silvana, agindo à solta, nas suas ambições sinistras, devido à falta do
Capitão Marvel. O super-herói de histórias em quadrinhos seria o único capaz de
detê-lo e pôr termo ao tsunami da
corrupção e da violência que açoita o Brasil.
A onda gigante,
movida por conchavos, pressões e interferências políticas, é variada e desemboca
nas agremiações partidárias, clubes sociais, associações esportivas e
sindicatos. Nem o “dono da bola”, que
tem poder de mando nas peladas, fica de fora. A qualidade
representativa congressual é escamoteada, indene, com efeito, às reclamações sobre
o baixo nível do legislador, justificando o “dando é que se recebe”.
Desse modo, o
gerenciamento da administração confiada a governadores e prefeitos se submete à
maioria das casas legislativas estaduais e municipais. Delas, naturalmente,
emanam as clivagens e atritos na disputa por aquinhoar
parentes, amigos e correligionários de cargos públicos, tendo como moeda de
peso o voto e ainda o compadrio.
Até hoje,
cúpulas partidárias não se libertaram dessa herança histórico-cultural enquanto
descuram de diretrizes ideológicas. Certamente, as abstenções, a cada eleição,
somadas aos votos nulos e em branco, ultrapassando muito a votação de boa parte
dos candidatos majoritários, têm dado resposta contundente aos que apregoam a
obrigatoriedade do voto, por fascínio e exploração do poder hipertrofiado.
É deplorável que
as casas do povo permanecem identificadas com os ranços do corporativismo e fisiologismo.
Mais lamentável ainda é a legislação proteger o parlamentar renunciante para
que não se torne inelegível. É o preço que se paga para mantê-lo sob os céus do
Planalto, não importando os meios para que sejam alcançados esses fins, como
ensina Maquiavel.
*Paulo Maria de Aragão
Advogado e Professor
Membro do Conselho
Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira de Nº 37 da ACLJ
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