terça-feira, 15 de abril de 2014

ARTIGO (RMR)

DATAS E INTERPRETAÇÕES
Rui Martinho Rodrigues*

A deposição do Presidente, em 1930, teve participação de civis e militares, apoios na sociedade dos governadores Getúlio Vargas, do Rio grande do Sul; Antônio Carlos de Andrada e seu sucessor, Olegário Maciel, em Minas Gerais; e João Pessoa, na Paraíba.

Nomearam-se interventores em todos os estados e municípios; fecharam-se o Congresso, assembleias, câmaras municipais; se exilou e prendeu; censurou-se a imprensa e se torturou; revogou-se imediatamente a Constituição então vigente; instalou-se um governo provisório absoluto que se prolongou até 1934, quando se constitucionalizou o País.

O ano de 1937 foi um prolongamento de 1930, que durou até 1945. Instituiu-se a Justiça Eleitoral, a CLT, a Previdência Social. Industrializou-se. Organização social, estrutura fundiária, modo de produção, desigualdades, elite, tudo foi preservado. Houve aumento do poder dos militares.

Os governadores do RS, PR, SP, MG, GB, e BA apoiaram o golpe de 1964. Os outros permaneceram silentes. A maioria da imprensa apoiou 64, pediu a destituição do Governo. Houve passeatas nesse sentido, ao lado das manifestações em sentido contrário. Não houve intervenção nos estados, exceto Pernambuco, depois Goiás. Câmaras, assembleias e Congresso não foram fechados permanentemente. Houve cassação de mandatos. A Constituição Federal de 1946 não foi imediatamente revogada, recebeu um ato adicional destinado a vigência transitória, sem número, pois deveria ser único. Mais tarde houve nova Constituição e mais atos institucionais.

Os governadores que apoiaram  o golpe de 64 foram 6; em 1930 foram 3. Em 64 só Pernambuco resistiu. Em 30, todos os Estados, afora os três que se sublevaram, apoiavam o Governo. Os presidentes de estados que apoiaram a revolução de 30 foram eleitos a “bico de pena”. Os de 64 foram eleitos de modo mais representativo. Mantiveram, um e outro, as estruturas de classes e fundiária; 64 criou a previdência rural; unificou a previdência; aprofundou a substituição de importações e a industrialização iniciada em 30. Prisões, exílios e torturas estiveram presentes em 30 e em 64. O crescimento econômico foi comum aos dois períodos.

O regime de 64 decidiu deixar o poder; o de 30 saiu forçado, em meio ao "queremismo"; 30 apadrinhou publicações, distribuiu prebendas aos intelectuais; 64 só nomeou técnicos e apadrinhou cabos eleitorais, descuidou da promoção de filmes e livros e não cooptou intelectuais.

Os militares venceram a luta armada e perderam a batalha ideológica. Foi o silêncio dos vencedores. Prevaleceu a imagem de heroísmo dos vencidos e torpeza dos vencedores. Os vencidos recebem indenizações, ganharam dividendos eleitorais.


Não se diz que houve açodamento, irresponsabilidade, incompetência dos que se lançaram à luta armada. Poucos dizem que a luta armada não foi uma reação a 64, como Gorender: "Ofende a minha honra revolucionária afirmar que só agi em resposta ao golpe". 


Dênis de Morais cita focos de guerrilha em preparação, cursos de guerrilha no exterior, prévios a 64. Outros dizem algo parecido, mas não são divulgados. Datas e interpretações guardam relação.




*Rui Martinho Rodrigues
Professor e Advogado
Presidente da ACLJ
Titular de sua Cadeira de nº 10

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