domingo, 20 de abril de 2014

ARTIGO (VM)

PEQUENA DIMENSÃO
ENORME CONQUISTA
Vianney Mesquita*


Se tamanho fosse documento, o elefante seria o dono do circo (aforismo popular).


Recebi, de perplexo a prazenteiro, pois não tinha conhecimento da ideia, um presente assim sobrescritado, a modo de dedicatória: Ao amigo-irmão João Vianney, meus rabiscos – também seus – impressos Como Abraços.  16.04.14.G. Jesuino.

Prefaciador do meu primeiro trabalho em livro, a lume em 1984, com o selo das Edições U.F.C. – Coedição PROED/MEC (Sobre Livros – aspectos da editoração acadêmica), o escritor Geraldo Jesuino da Costa desobriga apresentação, mercê de sua presença diuturna nos motos artísticos de Fortaleza, nomeadamente na seara da Literatura e do Desenho de alta definição e sobrelevada verve criadora. Este labor incessável ele desempenha como quem reza – com a alma genuflexa, ao mesmo modo como dizia ensinar o Prof. Antônio Filgueiras Lima (* Lavras da Mangabeira, 21.05.1909 - + Fortaleza, 28.9.1965).

Enfronhado nas lides das Artes de modo geral, não só de moto próprio, mas também por compulsão produzida pelas solicitações diurnais de seus amigos e correligionários, após jubilar-se dos misteres docentes na Universidade Federal do Ceará – incluindo oito anos como diretor da Imprensa Universitária - Geraldo Jesuino faz piso diário, sol a sol, de sua oficina preparatória de edições librárias e afins (livros, revistas cientifico-literárias, folhetos, folders etc.), acolitado pela sua competentíssima sobrinha, a publicitária graduada Virna Jesuino, aliás, um dos segredos do sucesso do Ateliê da Treze de Maio.

 Ali ele consome seu tempo (insuficiente) abraçado entusiasticamente ao ofício de agente do saber, pela via de seus aprestos artísticos, impondo-se observar, por necessário, ser este um dote do Alto, contudo aprimorado pelo estudo ininterrupto e análise penetrante dos segredos das Artes. A isto estão associados os estudos formais desenvolvidos ao longo de sua existência acadêmica, emoldurada, por sinal, pela profusão de amigos e admirantes granjeados ao curso de sua atuação como docente, literato e artista.

Concernentemente ao tempo escasso, com ele toda a vida foi assim, pois permanentemente cercado, solicitado, exigido, afagado por quem necessita dos seus aparelhamentos intelectuais para conferir mais valor às obras a editar. Eu próprio contei com seu excepcional comentário, concedendo-se o desconto do talvez exagero seu em relação ao teor das palavras, debitado, se for este o caso, à amizade que mantemos há dilatados anos, quando da edição, em setembro do ano imediatamente passado, do meu derradeiro livro publicado – Arquiteto a posteriori – cuja programação visuoeditorial foi de sua assinatura. Confessadamente, sempre o aperreei, como o fazem Dimas Macedo, José Telles, Pedro Henrique Saraiva Leão, Augusto Rocha (magnífico o Carregador de Melancias), Carlos Henrique Ximenes e quase todo o orbe acadêmico-literário da Cidade. (“Deixem o Homem trabalhar !”)

Eis, por conseguinte a razão de minha perplexidade confessa na abertura destes escólios, exatamente pelo fato de ele haver providenciado tempo para escrever novo livro – Como abraços – ao lume do sol literário cearense, pela Imprece Editorial.

A obra contabiliza 64 páginas, 15 laudas a maior do que a UNESCO prescreve para uma produção editorial ser denominada livro (49 pp.), mas que o Prof. Dr. Felipe Jesuíno, no invejável texto das guarnições (peixinho é filho de peixe), inadvertidamente, chamou de opúsculo, quiçá apropriado do recato e da circunspeção do Pai escritor, fato deveras eticamente apreciável e merecedor de encômios.

No tocante à forma, sem me reportar ao tratamento dispensado aos preceitos gramaticais do Português, não somente em Como Abraços, as tiradas do Autor são de apurada inteligência, anunciativas das gemas valiosíssimas que logrou entesourar no decurso de suas multíplices circunstâncias literocientíficas.

Seus torneios apanham teores elocutórios deveras singulares, embelezados pela estesia poética branca, fato a conferir ao seu estilo o estatuto de escritor distinto, diferenciado, ao ponto de afluir à definição buffoniana consoante a qual Le style cest l’homme même.

Questão somenos, por fim, é, sem qualquer dúvida, a dimensão física da obra, porquanto é recorrente se mostrarem pequenas no tamanho e imensas na conquista.

Neste passo, entretanto, talvez não seja adequado me reportar ao anexim lusitano, segundo o qual As melhores essências se encontram nos menores vidros, pois os espíritos contraditórios poderão maldosamente complementar, alegando que também nesses recipientes se armazenam as mais eficientes peçonhas. Eles não evocam, todavia, a ideia de que os venenos servem para eliminar insetos e pragas das lavouras e das casas, como baratas, ratos, escorpiões e serpentes; e, também, que eles são passíveis de ir a óbito caso mordiquem a própria língua.
 
Prefiro, a modo de termo deste comentário, remontar, por exemplo, às proporções materiais da Constituição dos Estados Unidos da América do Norte e da carga conduzida por Cristóvão, o Gigante do Rio Orante, bem como ao título do excepcional poema If, do bengali Rabindranath Tagore (*Calcutá, 7.5.1861; +7.8.1941), de incomensurável valor literoartístico na Poética internacional.

Não conta a dimensão. Importa o valor que encerra.

Meus emboras ao Ceará culto e meu abraço ao Professor Geraldo Jesuino da Costa, ao regalar-nos com este mimo intelectivo, configurado neste outro livro seu – Como Abraços.

*Vianney Mesquita 
 Docente da UFC 
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa  
Acadêmico Emérito-titular da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo 
Escritor e Jornalista.

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