PEQUENA
DIMENSÃO
ENORME CONQUISTA
ENORME CONQUISTA
Vianney
Mesquita*
Se tamanho fosse documento, o
elefante seria o dono do circo (aforismo popular).
Recebi, de perplexo a prazenteiro, pois não tinha conhecimento da ideia,
um presente assim sobrescritado, a modo de dedicatória: Ao amigo-irmão João Vianney, meus rabiscos – também seus – impressos Como Abraços. 16.04.14.G. Jesuino.
Prefaciador do meu primeiro trabalho em livro, a lume em 1984, com o selo
das Edições U.F.C. – Coedição PROED/MEC (Sobre
Livros – aspectos da editoração acadêmica), o escritor Geraldo Jesuino da
Costa desobriga apresentação, mercê de sua presença diuturna nos motos
artísticos de Fortaleza, nomeadamente na seara da Literatura e do Desenho de
alta definição e sobrelevada verve criadora. Este labor incessável ele
desempenha como quem reza – com a alma
genuflexa, ao mesmo modo como dizia ensinar o Prof. Antônio Filgueiras Lima
(* Lavras da Mangabeira, 21.05.1909 - + Fortaleza, 28.9.1965).
Enfronhado nas lides das Artes de modo geral, não só de moto próprio, mas também por compulsão
produzida pelas solicitações diurnais de seus amigos e correligionários, após
jubilar-se dos misteres docentes na Universidade Federal do Ceará – incluindo
oito anos como diretor da Imprensa Universitária - Geraldo Jesuino faz piso
diário, sol a sol, de sua oficina preparatória de edições librárias e afins
(livros, revistas cientifico-literárias, folhetos, folders etc.), acolitado pela sua competentíssima sobrinha, a
publicitária graduada Virna Jesuino, aliás, um dos segredos do sucesso do
Ateliê da Treze de Maio.
Ali ele consome seu tempo
(insuficiente) abraçado entusiasticamente ao ofício de agente do saber, pela
via de seus aprestos artísticos, impondo-se observar, por necessário, ser este
um dote do Alto, contudo aprimorado pelo estudo ininterrupto e análise
penetrante dos segredos das Artes. A isto estão associados os estudos formais
desenvolvidos ao longo de sua existência acadêmica, emoldurada, por sinal, pela
profusão de amigos e admirantes granjeados ao curso de sua atuação como
docente, literato e artista.
Concernentemente ao tempo escasso, com ele toda a vida foi assim, pois
permanentemente cercado, solicitado, exigido, afagado por quem necessita dos
seus aparelhamentos intelectuais para conferir mais valor às obras a editar. Eu
próprio contei com seu excepcional comentário, concedendo-se o desconto do
talvez exagero seu em relação ao teor das palavras, debitado, se for este o
caso, à amizade que mantemos há dilatados anos, quando da edição, em setembro
do ano imediatamente passado, do meu derradeiro livro publicado – Arquiteto a posteriori – cuja
programação visuoeditorial foi de sua assinatura. Confessadamente, sempre o
aperreei, como o fazem Dimas Macedo, José Telles, Pedro Henrique Saraiva Leão,
Augusto Rocha (magnífico o Carregador de
Melancias), Carlos Henrique Ximenes e quase todo o orbe acadêmico-literário
da Cidade. (“Deixem o Homem trabalhar !”)
Eis, por conseguinte a razão de minha perplexidade confessa na abertura
destes escólios, exatamente pelo fato de ele haver providenciado tempo para
escrever novo livro – Como abraços – ao
lume do sol literário cearense, pela Imprece Editorial.
A obra contabiliza 64 páginas, 15
laudas a maior do que a UNESCO prescreve para uma produção editorial ser
denominada livro (49 pp.), mas que o Prof. Dr. Felipe Jesuíno, no invejável
texto das guarnições (peixinho é filho de peixe), inadvertidamente, chamou de
opúsculo, quiçá apropriado do recato e da circunspeção do Pai escritor, fato
deveras eticamente apreciável e merecedor de encômios.
No tocante à forma, sem me reportar ao tratamento dispensado aos preceitos
gramaticais do Português, não somente em Como
Abraços, as tiradas do Autor são de apurada inteligência, anunciativas das gemas
valiosíssimas que logrou entesourar no decurso de suas
multíplices circunstâncias literocientíficas.
Seus torneios apanham teores
elocutórios deveras singulares, embelezados pela estesia poética branca, fato a
conferir ao seu estilo o estatuto de escritor distinto, diferenciado, ao ponto de
afluir à definição buffoniana consoante a qual Le style cest l’homme même.
Questão somenos, por fim, é, sem qualquer dúvida, a dimensão física da
obra, porquanto é recorrente se mostrarem pequenas no tamanho e imensas na
conquista.
Neste passo, entretanto, talvez não seja adequado me reportar ao anexim
lusitano, segundo o qual As melhores
essências se encontram nos menores vidros, pois os espíritos contraditórios
poderão maldosamente complementar, alegando que também nesses recipientes se
armazenam as mais eficientes peçonhas. Eles não evocam, todavia, a ideia de que
os venenos servem para eliminar insetos e pragas das lavouras e das casas, como
baratas, ratos, escorpiões e serpentes; e, também, que eles são passíveis de ir
a óbito caso mordiquem a própria língua.
Prefiro, a modo de termo deste comentário, remontar, por exemplo, às
proporções materiais da Constituição dos Estados Unidos da América do Norte e
da carga conduzida por Cristóvão, o Gigante do Rio Orante, bem como ao título
do excepcional poema If, do bengali Rabindranath Tagore
(*Calcutá, 7.5.1861; +7.8.1941), de incomensurável
valor literoartístico na Poética internacional.
Não conta a dimensão. Importa o valor que encerra.
Meus emboras ao Ceará culto e meu abraço ao Professor Geraldo Jesuino da
Costa, ao regalar-nos com este mimo intelectivo, configurado neste outro livro
seu – Como Abraços.
*Vianney Mesquita
Docente da UFC
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa
Escritor e Jornalista.
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