domingo, 6 de abril de 2014

ARTIGO (VM)

À POETISA, BIÓLOGA E MICROBIÓLOGA, PROF.a. Dr.a. REGINE LIMAVERDE FERNANDES VIEIRA
                                            Vianney Mesquita*

Não falemos de poemas morais ou imorais; os poemas são bem ou mal escritos. É só (Oscar Fingel O’Flahertie Wills Wilde. *Dublin, 16.10.1854;+Paris, 30.11.1900).

O homem nada mais é do que aquilo que sabe (Francis Bacon. *Londres, 22.01.1561; +09.04.1626).

Recebi, com muito agrado, porém atrasado 16 dias – por conta de moto paredista dos funcionários dos Correios – convite para o lançamento de mais um livro da escritora cearense, com visão nacional, Regine Limaverde, intitulado Canção do Amor Inesperado, a público no dia 27 de março imediatamente transato, no Ideal Clube, ao qual, pela razão há pouco expressa, não compareci.

Dantemão, quando o apreciar, me satisfarei por demais com tecer comentários, decerto laudativos - a julgar pelo que já conheço das obras de sua colheita - cuja qualidade é indiscutível, bastando vincular sua estampa intelectual à correspondente fecunda biobibliografia, interdisciplinar por excelência, no terreno de várias matérias de que cuida, em desenvolvimento do ofício de mestra apreciada e literata produtiva.

Contabilizo prazenteiramente, como recheio do meu ativo fixo de amizades, há longos anos – com prescrição aquisitiva em 1987, portanto, há 27 anos – a ligação cordial com o Prof. Dr. Gustavo Hitzschky Fernandes Vieira (já na Dimensão Elevada) e sua mulher, a docente-imortal a respeito de quem ora comento, quando ele foi pró-reitor de Assuntos Estudantis do reitor de então, Prof. Dr. Raimundo Hélio Leite, tendo eu como assessor especial e, por um tempo, chefe do gabinete desse dirigente maior da Universidade Federal do Ceará.

Raimundo Hélio Leite
De efeito, datam desse período meu conhecimento e as relações francas com a acadêmica Regine Limaverde, por último, salvante engano, há uns dois anos, quando ela foi admitida à Academia Cearense da Língua Portuguesa, para apossar-se de uma das cátedras daquela Casa, por vacância obituária.

Seu ingresso na A.C.L.P., como não poderia ser diferente, ocorreu sob os gabos plurais do universo academicial cearense, incluindo, evidentemente, meus aplausos, pelo fato de ela ecumenicamente ser havida e certificada como intelectual de escol, cientista de renome, figura componente da fina flor da sociedade culta do Estado, estatuto o qual ninguém mais do que eu reconhece, aprecia e enaltece, consoante procedo, redundantemente, nesta oportunidade.

Ocorre que, quando de sua candidatura, protestamos, com civilidade e na seara da cidadania – eu e outros titulares de assentos – contra o modus faciendi das admissões, ao reverso da razão e até do Estatuto, por se tratar de sodalício especialmente jungido às temáticas da Língua e da Literatura, de sorte a serem exigíveis condutas bem específicas, com vistas a se procederem às substituições.

Argumentos nossos vencidos e raciocínios desconsentidos por democrática maioria, conquanto – repiso – a contrapelo da normalidade do razoável, eu e outros acadêmicos deliberamos nos afastar, por um tempo, das atividades do Silogeu, até que se instalasse um estado de serenidade a nos propiciar o ensejo de boa convivência, uma vez pensadas pelo tempo as contusões então curtidas, já então submetido o desencanto do revés.

Penso não ser civilmente acertado vir a público pormenorizar debacles e dissensões internas, acolitando, neste passo, a filosofia da “roupa suja lavada em casa”, de sorte que peço escusas aos consulentes pelo fato de, quando da narração dos eventos, não os haver contado na clareza e linguagem domésticas, porém, apelo para o provérbio italiano, segundo o qual A buon intenditor poche parole significato. Assim, logro não aderir ao expediente do fuxico.

O móvel, porém, deste expediente é referir a dois fatos, os quais se compensam, zerando a partida, conforme delineio na sequência.

Na invitação para o mencionado lançamento de livro, está grafado pela escritora Regine Limaverde: Vianney, que tal fazer as pazes comigo?  Devo dizer que me assustei, porque não atinava jamais para a noção de que ela se agastara comigo. Em tempo algum, fiz absolutamente nada contra ela, não procedi a campanha contrária a sua admissão à Academia Cearense da Língua Portuguesa; ao contrário, vibrei com a possibilidade e espalhei, a torto e a direito, o meu contentamento pelo fato. Foi estupefato que recebi essa sugestão do apaziguamento de quizila por mim desconhecida. Decepção!

O outro elimina totalmente seu desafeto, configurado na oportunidade de desfazer o qui pro quo, a má-interpretação de sua parte, no ensejo de fazer estas notas.

Neste azo, deixo, pois, bem evidentes o apreço e a benquerença nutrida por ela há tantos janeiros, e reitero a opinião, múltiplas vezes expressa, de que a reconheço como mulher de cultura e arte acima da nossa média intelectiva, digna de figurar em todo ambiente onde sejam categoricamente expendidas as manifestações do mais supremo humano saber, na poesia, no conto, na língua-prosa, na ciência – em seus experimentos in anima vili ou in anima nobili – bem assim em QUAISQUER gêneros onde estejam manifestas as fulgurações do pensamento artístico e científico-tecnológico.

Minha expectativa é, pois, a de reaver a paz num episódio bélico de cuja realidade me reputava estrangeiro. Espero ter feito a paz sem preparar a guerra, consoante expressou, no O Príncipe, um dos mais célebres florentinos.


“Tome cinco”, Regine!





*Vianney Mesquita 
 Docente da UFC 
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa  
Acadêmico Emérito-titular da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo 
Escritor e Jornalista.


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