sábado, 26 de abril de 2014

ARTIGO (RV)

O ÓPIO DO POVO
Reginaldo Vasconcelos*

Adaptando premissa dos pensadores iconoclastas alemães, no sentido de que a religião seria o ópio do povo, os marxistas brasileiros do século XX atribuíram o mesmo efeito inebriante ao futebol.

Quando essa assertiva foi timbrada, como forma de criticar a alienação política das massas, o ópio era tido como um balsamo, consumido como eficiente calmante e analgésico, e não como um tóxico viciante.

 
Bendita seja uma religião, que derrama no amargo cálice da humanidade sofredora algumas doces e soporíferas gotas de ópio espiritual, algumas gotas de amor, fé e esperança. (Heinrich Heine – 1840)

Com efeito, tanto a religião como o futebol podem mesmo servir como lenitivo opiáceo, quando de fato ajudam o homem a suportar a sua rotina, a superar as provações da vida, a  aceitar o seu destino – e isso não é nada censurável, a menos para o pensamento comunista, que elege a ideologia política como solução absoluta e universal.

Acontece que tanto a religião quanto o futebol se tornam realmente maléficos como os alucinógenos, quando o torcedor ou o fiel se transforma em adepto imoderado, perdendo a noção real sobre a verdadeira finalidade dos jogos e das preces, dos cultos e dos campeonatos.

Futebol não é coisa séria para os seus espectadores: é apenas uma brincadeira, com a função única de abstrair do mundo, de distrair, de alegrar. Futebol só é coisa séria para os seus profissionais, como os jogadores, os treinadores, os árbitros, os repórteres desportivos. Mas adquiriu o poder de representar o ilusório ideal de vida de contingentes numerosos.   


O CRAQUE DO POVO


Assim, foi-se o tempo em que o futebol era o ópio do povo – sendo o ópio aquele extrato natural da papoula de vocação medicinal. Hoje o futebol se tornou um vício perverso, que leva ao crime e à violência legiões de jovens torcedores, os quais colocam a paixão pelo time acima do estudo e do trabalho, da lei e da religião, da política e da família.

Então, a melhor analogia que se poderia fazer no presente com o futebol exclui o ópio e inclui o craque, essa droga moderna, artificialmente desenvolvida, exclusivamente para corromper e prejudicar, enriquecendo os que a fornecem e enlouquecendo quem consome.

Acompanhando campeonatos em ciclo contínuo, que se sucedem como parafusos de rosca sem fim, os torcedores  defendem bandeiras de caráter meramente visual – já que os times não têm mais identidade própria, pois os técnicos e jogadores de hoje são profissionais volúveis, autêntica mercadoria em contínua rotação.

Enfim, fazendo a fortuna dos que correm atrás da bola e daqueles que os administram, o futebol vem se tornando a pátria onírica de grupos sociais numerosos, que em vez de estarem servindo à Nação com trabalho profícuo e produtivo, estão destinando  preciosa energia a inócua paixão futebolística, em nome da qual matam e morrem.
                                    
*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ

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