NILTO MACIEL,
LITERATO A MANCHEIAS
Observa-se hoje, nas
letras, uma crescente inflação de publicações, a qual segue exatamente a da
moeda, com a mesmíssima depreciação do papel produzido (Fernand Henri Vanderem.
* Paris, 1864; + 1939).
Já se expressou,
reiteradas vezes, a ideia de não ser bom para a higidez
da elocução inaugurar um escrito com asserção negativa. Desta feita, porém, não
há jeito, de sorte a pedir a indulgência dos estilistas para declarar-me
absolutamente favorável à opinião do dramaturgo, romancista e crítico francês,
autor de Querido Mestre e Os Dez Rios, manifesta à epígrafe.
Deploravelmente, é a mais insofismável verdade
a ocorrência de inchaço, em termos globais, da produção brasileira de versos
com pés realmente quebrados, crítica louvaminheira a obras defeituosas, ensaios
mambembes em escolas superiores e universidades, romances nos quais se fazem
pastichos, ou até meras cópias, imensos contos capengas e tantas outras
deformidades a deslustrarem o universo de nossas edições por via do discurso
escrito.
O ideal é a pessoa, a
fim de tal estádio contraproducente não prosperar, se prontificar na escola, no
estudo formal e/ou na doutrina da vida, para, uma vez aparelhada
convenientemente dos aportes requeridos pelas instâncias literárias, vir a lume
com escritos enxutos, corretos sob o
prisma da língua e respeitosos aos ditames de cada gênero, de modo a alcançar a
simpatia do leitor a fim de amanhar adeptos de suas promissoras composições.
Sucede, entretanto, de alguém, desprovido
desse trânsito, sem ralar pelos desvãos da experiência, pretender e, às vezes,
lograr ser admitido a sociedades literárias, científicas e artísticas,
deseixado do mínimo de suficiência com vistas a se emparelhar com seus pretensos
iguais – evento lamentável, decerto, ocorrente apenas em terras de muro baixo.
Coelho Neto, Lígia Telles, Francisca Júlia, Pedro Montenegro, Paulo Aragão, Roberto Pontes, Ângela Gutierrez |
Todo esse queixume
propedêutico serve para mostrar o exato lado contrário, no comentário da
sequência – a respeito deste polígrafo cearense, produtivo, consequente, culto
e veraz – o qual foi, em parte, publicado em A Arquitetura Verbal de Nilto Maciel, organizada por João Carlos
Taveira (Fortaleza: Imprece Editorial, 2012).
***
A sadia prática da
reflexão conduz-nos a ultrapassar os parcos limites do egoísmo, servindo para
lenimento da alma sofrida e robustez multiplicada para a vida sã.
Quando, então, voltada
para o espírito, mediada pela literatura de ficção em língua prosa, conforme se
expressa o gênero conto, sucede o deleite imaginativo, partilhado pelos
leitores, a propagarem as imensas possibilidades vocabulares sob as mais
diversificadas maneiras de interpretar, ensejando argumentos, os quais nem o
próprio autor houvera imaginado.
Esse prodígio do
pensamento, mimo do Criador somente à espécie humana, differencia specifica em relação aos animais inferiores, enleia e
refrigera os espíritos após o calor da faina, dilatando o horizonte do khrónos da vida.
Tais o mister da Arte,
o escopo das Letras e um dos seus melhores condutores – a história curta e
completa admitida pelo conto.
De produção custosa,
esse gênero, além de breve e exato, comporta apenas um conflito, ação única,
sem os esgalhos de enredos secundários e complementares aceitos pelos romances
e novelas.
De ordinário, se
vincula ao ambiente, limitado a um número diminuto de personagens, havendo de
ser o argumento cosido em determinada unidade de tempo. Dita imposição
estrutural elide do seu exercício autores ainda abstinentes desta prontidão
raciocinativa e expressiva, a qual concede ao conto a combinação bem dosificada
dos valores da intelecção e expressão solicitados pela obra de d’Arte.
Por envergar o hábito
dessas considerações, vede, pois, o leitor mais um trabalho de excepcional
qualidade do escritor baturiteense Nilto Maciel, ficcionista da melhor crase,
com visão nacional e, por isso, laureado nos gêneros novela, conto e romance,
dos quais é cultor e analista reconhecido.
Além de ser, também, contista de demarcada essência, agora
principalmente, após a edição de Contistas
do Ceará, se expressa definitivamente como um dos nossos melhores
historiógrafos literários.
Sânzio de Azevedo, Linhares Filho, João Neto, Batista de Lima, Giselda Medeiros, Neide Lopes, Reginaldo Vasconcelos, Dimas Macedo |
Consoante o fazem
Sânzio de Azevedo, Linhares Filho, João Soares Neto, Batista de Lima, Giselda
Medeiros, Neide Azevedo Lopes, Reginaldo Vasconcelos, Dimas Macedo e outros
mentores das letras locais, na apreciação de vários gêneros, Nilto Maciel, pelo
auspicioso fato de dominar tão difícil casta de Literatura, serve-se, ainda,
com muito agrado e propriedade peculiar às pessoas cultas, de registar em
livro, para estudos dos atuais e pósteros consulentes, os destacados contistas
cearenses, imprimindo mais nobreza às nossas estantes e concedendo mais
saliência axiológica às produções aqui edificadas. E, ainda mais, consoante
anota o Prof. Dr. Sânzio de Azevedo, à crítica trazida, ajunta antologia,
propiciando ao público ledor compadecer seus comentários analíticos aos
conteúdos expressos pelos compositores retratados.
É realmente uma
satisfação imensa poder o cearense contar com um historiógrafo literário
postado na dimensão de um Nilto Maciel.
É a Literatura do
Estado dignificando-se sempre mais. Como é agradável falar a assim!
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· Sem usar o monossílabo
que, em nenhuma das classes de
palavras nas quais esse vocábulo sói se classificar, homenageio o excepcional
cronista, insuperável pessoa humana e causídico da vanguarda nacional, o Secretário-Geral deste sodalício, REGINALDO VASCONCELOS, a quem dirijo toda a
minha reverência.
*Vianney Mesquita
Docente da UFC
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa
Escritor e Jornalista.
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