quinta-feira, 17 de abril de 2014

CRÔNICA (RV)

CITAÇÕES
Reginaldo Vasconcelos*


A Presidente Dilma Rousseff tem dito, contraditoriamente (ou não), que não vai permitir que os que denunciaram os atuais escândalos da Petrobrás desmoralizem a empresa, em desserviço do Brasil, e, ao mesmo tempo, que vai punir exemplarmente os “malfeitos” dos que estão denunciados. Ora, afinal, quem é que desmoraliza a estatal? Os malfeitores, ou quem os apontou?  

Aliás, a Presidente vai na mesma linha do seu grande mentor, Lula da Silva, que pediu desculpas à Nação pelo mensalão, dizendo-se traído pelos seus protagonistas, e, logo em seguida, que o mensalão não acontecera, mas fora inventado pelos seus opositores, envidando esforços junto ao STF para livrar da cadeia os “traidores” .


Isso me lembra o trecho de uma bela canção do baiano Caetano Veloso: “Você fala a verdade, e a verdade é seu dom de iludir”. A propósito, segundo os teólogos católicos, misturar o verdadeiro e o falso, como têm feito os políticos brasileiros,  é um dos principais atributos do demônio, que com isso consegue confundir e encantar os pecadores incautos .


Todo modo, essas contradições fazem crer que quando Lula fala em “traidores”, e Dilma se refere aos “malfeitos”, podem de fato estar se referindo aos companheiros que não fizeram bem feito as operações do “caixa dois” – caixa dois que, afinal, Lula afirmou ser normal em política, porque, segundo ele, “sistematicamente”, todo mundo faz.

Agora me vem uma outra citação memorável, do mágico Lord Cigano, personagem de José Wilker no filme By By Brasil. Ele afirma, com termos próprios, que “coisas sérias se improvisam, mas que sacanagem tem que ser bem organizada”. Claro. No campo da legalidade e da boa-fé erros e acertos se compensam, enquanto a ilicitude exige cuidados redobrados.

Faz sentido porque, em suma, por definição, os pecadores não têm Deus, e “se não tem Deus, é o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar, é todos contra os acasos” – agora parafraseando Guimarães Rosa, em Grandes Sertões, Veredas.  

Assim, nas "sistemáticas" operações de caixa dois, tudo vai muito bem enquanto tudo estiver sendo bem feito, até que alguém faça o malfeito mal feito, e dispare a ratoeira. Então, para os tuxauas do Governo, urge negar de público os malfeitos e execrar os malfeitores – afagando-os por trás, com muito jeito, para não provocar mais “fogo amigo”. 
         
*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ

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