O ORTÔNIMO, OS HETERÔNIMOS E A OUTRA
COISA, NA CALIGRAFIA DO POLÍGRAFO
LINHARES FILHO
Vianney Mesquita*
O que penso do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Linhares Filho |
José Linhares Filho,
de quem experimentei o prazer de assistir ao lançamento do broto intitulado Junto à Lareira Invisível, há poucos
meses, é lavrense (da Mangabeira), como ocorrem ser Dimas Macedo, Batista de
Lima, Josafá e Joel Linhares e Joaryvar Macedo, bem assim muitos autores de
renome, procedentes desta fonte prolígera de pessoas de letras, cultura e
ciência.
Tanto em razão de sua
diversa e qualificada produção na poesia, ensaio e noutros gêneros de escritura,
como, em particular, em decorrência dos estudos empreendidos em profundez
acerca de Pessoa e Miguel Torga (Adolfo Correia da Rocha), LF é produtor
apreciado, estudado e policitado no Brasil, Portugal e nas várias nações
lusofônicas, razão por que constitui nome de referência terciária no ecúmeno
literário nacional e mesmo ultrapassando os limiares patriais do idioma
português.
Na releitura do
mencionado clássico da ensaística literária, restou mais cristalina ainda (a
leitura repetida tempos após é procedida sempre noutra perspectiva) a ideia de
que descobrir lances novos, por exemplo, na produção de literatos da grandeza
de Machado de Assis, Eça de Queiroz, José de Alencar, Fran Martins ou Fernando
Pessoa não constitui labor no alcance das pessoas comuns, porquanto, se pensa,
desarrazoadamente, suas obras já restam eficientemente dissecadas pelos mais
eminentes analistas.
Desta sorte,
depreende-se a noção de que a Arte, na sua acepção melhor, não é tão estreita
ao ponto de se esgotarem valores latentes, e sempre haverá no seu recôndito
entretons ainda intocados e que somente poderão ser devassados pela argúcia do
estudioso exigente e fiel à pesquisa para descodificação perfeita da mensagem.
Fernando Pessoa |
Linhares Filho
estabelece as relações entre o ortônimo e os heterônimos Alberto Caeiro, Álvaro
de Campos e Ricardo Reis; exprime singularmente as posições de Caeiro e Reis,
bem assim o relacionamento de Campos-Caeiro; formula coerentemente as soluções
idealista e realista no contexto pessoano, explicando, no que chamou solução
realista, o infinito de Pessoa, o impossível de Reis e o realismo de Campos.
Vianney Mesquita e Rui Martinho Rodrigues em Portugal, ao lado da estátua de Fernando Pessoa |
O experimento
literocientífico sob exame, por conseguinte, malgrado assunto espreitado amiúde
por teóricos de toda parte, é uma vertente exata para quem tencionar proceder a
incursões mais demoradas pela obra de Fernando Antônio Nogueira de Seabra
Pessoa, em decorrência da absoluta originalidade das suas proposições.
Glória e paz e
parabéns e vida longa ao excelso ensaísta e enorme cristão, ocupante de uma
cadeira (a de Luís Antônio da Rocha Lima) na Academia Cearense de Letras, o
lavrense José Linhares Filho!
*Vianney Mesquita
Docente da UFC
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa
Escritor e Jornalista.
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