A VOZ DAS URNAS
Rui Martinho Rodrigues*
As
eleições francesas, as americanas, consultas populares sobre a paz com as FARC e a
saída do Reino Unido da União Europeia apresentaram resultados
surpreendentes. Partidos tradicionais, lideranças estabelecidas, ideologias e
imprensa apresentaram-se desacreditados. Mais do que isso: o eleitorado votou
contra toda esta lista. Trump não venceu.
Quem
perdeu foi a grande imprensa americana, que era toda contra ele; quem perdeu
foram os partidos, inclusive o Republicano, derrotado nas prévias. Na eleição
francesa quem perdeu foram os grandes partidos. Novos líderes e novas
agremiações estão na ordem do dia dos eleitores.
Alguns
rumos temidos também não se confirmaram. O avivamento da paixão nacionalista,
embora forte, não se mostrou dominante. A Frente Nacional, na França, malgrado
tenha tido uma votação sem precedentes, sofreu uma derrota esmagadora.
Trump,
nos EUA, venceu, mas não convenceu, não teve maioria nos votos populares nem
tem a aprovação dos cidadãos para o que está fazendo. Outras eleições na Europa
apresentaram resultados semelhantes aos da eleição francesa. Partidos, líderes
e formadores de opinião perderam o contato com o público.
O
monopólio da doutrinação ou desinformação foi quebrado. Escolas e imprensa têm
agora a concorrência da internet. A maioria silenciosa encontrou sua tribuna. A
satisfação das aspirações é inalcançável. Nunca houve tanto conforto material e
tanto acesso aos serviços essenciais, contrariamente ao vaticínio da teoria da
pauperização, mas nunca houve tanta insatisfação.
Câmaras
sempre presentes; registros eletrônicos indeléveis; acordos de cooperação
internacional obrigando os paraísos fiscais prestar informação sobre transações
suspeitas; e o fortalecimento do direito premial, estimulando a colaboração dos
réus, tudo isso tornou impossível esconder as práticas criminosas.
Os
políticos, porém, ainda não entenderam isso. Habituados a um modo de governar
criminoso, agora não sabem o que fazer, nem para escapar à ação da Justiça, nem
para continuar na política. Buscam a impunidade, mas não está fácil destruir a
Lava Jato. Buscam legalizar as práticas delituosas, mas até o constrangimento
internacional obstaculiza este roteiro.
A democracia,
por outro lado, não possui instrumentos legais para se defender das maiorias
criminosas. Este é o impasse.
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