sexta-feira, 12 de maio de 2017

ARTIGO - Leitores Polidos Intelectuais Urbanos (VM)


LEITORES POLIDOS
INTELECTUAIS URBANOS*
Vianney Mesquita**



O agradecimento é a memória do coração (Lao-Tse. China. Entre os séculos VII ou VI, a.t.p. - Antes do tempo presente).


No mês de março recém-passado (2017), desenvolvi pequena investigação acerca do emprego de A Gente, com vistas a demonstrar seu uso exagerado em todos os quadrantes de fala, transferido para a configuração escrita, avesso à aplicação correta indicada pela língua portuguesa, e como dicção substitutiva – de modo refalsado – de eu, nós, se, ninguém etc.

Mencionado ensaio envolveu cinco segmentos como sujeitos da pesquisa, quatro dos quais programas de rádio e televisão, mais uma homilia da Igreja Católica (J.H.S.). Está publicado nos jornais eletrônicos das Academias Cearense da Língua Portuguesa e Cearense de Literatura e Jornalismo, bem como no blog “Textos de Vianney Mesquita”, com a postagem espontaneamente dirigida pela professora Aíla Sampaio, docente universitária (UNIFOR) e escritora de renome no Ceará, imortal pertencente à Academia Cearense da Língua Portuguesa.

Encontra-se no prelo, para edição, pela Revista Essentia, da Universidade Estadual Vale do Acaraú, a qual comumente acolhe minhas produções, tendo como editora a professora Maria do Socorro Araújo Dias (experimentei a honra de revistar sua dissertação de mestrado e a tese de doutorado, ambas sustentadas na Universidade Federal do Ceará).

TODAS as pessoas às quais remeti o relatório (antes de o levar ao lume) – e isto é de relevo informar – opinaram, por telefone ou carta eletrônica, a respeito dessa busca, muitas das quais concederam aditamentos e sugeriram acertações de itinerário, em apropriado complemento aos propósitos do escrito, conforme foram os casos dos professores Myrson Melo Lima (UECE e IFCE), Teobaldo Campos de Mesquita, José Liberal de Castro e Ítalo Gurgel (UFC), a respeito de quem, e juntamente a outros, à frente, volto a referenciar.

Os professores Dimas Macedo (UFC-ACL) e Giselda Medeiros (ACL – ACLP), Régis Kennedy Gondim Cruz (ACLJ), Luciano Maia (UNIFOR-ACL-ACLJ), Aíla Sampaio e Révia Herculano (ACLP), bem como o escritor Assis Martins (ACLJ) e o engenheiro-agrônomo e linguista Pedro Eymard C. Mesquita (Arcádia Nova Palmaciana), e ainda a professora Maria Lívia Marchon, partícipes da nossa apurada sociedade intelectiva, pois imortais desses sodalícios cearenses, através da rede mundial de computadores, exprimiram o agrado pelo estudo exercitado, quando lhe acataram o enredo e votaram pelo seu sucesso.

Teobaldo Campos Mesquita (UFC-UVA-Acad. Cearense de Engenharia), a seu turno, colaborou com os consertos de letras maiúsculas em malformação e detectou impropriedades nas notações bibliotécnicas e bibliográficas, como autor e regente de teores metodológicos da pesquisa na Universidade; e ainda intermediou a publicação na Revista da UVA, há momentos referida.

Ítalo Gurgel, colega imortal da Academia Cearense da Língua Portuguesa e citado no decorrer do artigo Diacronia, Desleixo Linguístico ou Emprego Idiomático Inocente? (A Gente no Lugar de Eu, Se, Nós, Ninguém etc), por sua ordem, fez reparos na troca de títulos por mim perpetrada em escritura sua referenciada no texto sob relação, havendo, antes, louvado a iniciativa de relatar o exígua investigação em instante oportuno, haja vista a usança sobrantemente pronunciada nos dias atuais.

Mesmo estando a palavra dicionarizada, o arquiteto, historiador, docente e linguista Liberal de Castro (UFC – Instituto do Ceará) estranhou, com razão, o emprego do verbo normatizar, de saúde linguística minguada em decorrência de má ou de nenhuma proveniência glossológica, fruto de um descuido dos dicionaristas, conduzindo-me a substituí-lo por normalizar.

O professor Myrson Melo Lima, mencionado no início destes comentários, mais uma vez, entre tantas e quantas, me demonstrou amizade, e o carinho particular ao sábio, inserto nele ingenitamente, ao me dirigir letra, reproduzida, em parte e noutro corpo gráfico, logo à frente. Ele é referência terciária em língua portuguesa no Ceará, derradeiro reduto onde o consulente deve procurar desfazer dúvidas, nosso pleno do STF da Língua, meu consultor padrão-ouro, a quem sempre indago quando das incertezas e hesitações de aplicação do código lusitano; e me responde de imediato, jamais deixando para depois.

Amigo Vianney,

Li com vivo interesse sua pesquisa, digressões e comentários acerca do emprego da expressão a gente no lugar de eu, nós, se, ninguém etc.

Pareceu-me bastante informativo e oportuno e admirei-lhe, mais uma vez, o zelo pela divulgação dos estudos sobre os mecanismos da língua e pelo emprego correto e adequado das palavras e expressões do nosso rico e belo idioma.

Vejo que seu apuro pelo vocabulário se revela em cada publicação e o faz como verdadeiro artesão que domina com maestria e raro talento os desafios da escrita do bom texto.

Embora afirme, no introito, que o experimento não se sujeita à metodologia científica e se apresente deseixado de exigência universitária, verifica-se a preocupação com a fundamentação sólida, embasada em um corpus rico e variegado, que registra à saciedade o fenômeno em foco e respalda com segurança para o leitor as deduções da pesquisa.

O texto não me parece acessível a um grande contingente de leitores, quase sempre desprovido de conhecimento mínimo de linguística e de familiaridade com a linguagem mais trabalhada e formal do jargão acadêmico [...].

Exprimindo, antes, o fato de ele haver sugerido, com a decência particular a sua esmerada educação, algumas permutas de vocábulos e dicções, quase todas acatadas, explico, por oportuno, essas adversões do Prof. Myrson, ao lhe dizer sobre a não sujeição rigorista à metodologia científica, porque trouxe, antes do momento propício, o resultado do inquérito com os cinco sujeitos da demanda, sucedimento pouco comum em trabalhos desse jaez, pois normalmente esta é providência derradeira, bem depois de lavrados, sob o espectro teórico, os elementos basilares de uma busca, vazados nos sistemas em curso, com o fito de justificar os caminhos para o aporte dos resultados.

Com relação à dificuldade e até impossibilidade de recepção, pelos leitores menos aparelhados de saberes, dos conteúdos do artigo sob exame, minha resposta sobrou expressa mais ou menos na ideia de, em tempo algum, haver sido eu acessível, sob o prisma estilístico, a grande mundo de ledores. Peguei o vezo de entrar por cima, resultando no atingimento de público minúsculo e elevadamente qualificado (em relação ao geral). Sou muito criticado por esta ocorrência, entretanto no âmbito do recato e na seara da camaradagem. Foi, contudo, o jeito como me perfiz. Inês é morta. Desta sorte, conquanto à demanda de baixar a bola, não alcanço bom produto. Não há mais remédio, tendo de me conformar com chegar apenas a leitores mais aprestados, como, por exemplo, os da aleia do prof. Myrson, de meus consultores aqui mencionados, componentes da Universidade e membros dos silogeus acadêmicos.

No concernente à mingua de exigência da Academia para efetivar a curta demanda, não me reportei à ideia de desobedecer às trilhas metodológicas, pois somente tencionei exprimir a noção de ter sido a citada pesquisa procedida sem vinculações universitárias, porquanto efetivada de motu proprio, na circunstância de servidor jubilado por tempo de trabalho, descometido, assim, de maiores misteres escolares, muito embora entenda salutar, vez por outra, colaborar com o conhecimento, mesmo à sorrelfa, desobrigado das instâncias acadêmicas.

O professor Rafael Sânzio de Azevedo (UFC-ACL), um dos intelectuais brasileiros mais celebrados no universo da língua portuguesa, autor eclético (diversos gêneros) e, também, meu consultor padrão-ouro, endereçou-me o bilhete sequente, por caminho eletrônico.

Amigo Vianney,

Apesar de muito cheio de trabalhos, consegui ler seu estudo que, ao contrário do que você diz, não é pequeno e despresumido, mas um longo ensaio fruto de longas pesquisas, e que honra a memória do nosso Rogério Bessa.

A propósito, lembrou-me um episódio prejudicado pela minha atual falta de memória. Manuel Bandeira, não sei em que livro, falando dos versos Água corrente, água corrente! / Teu destino é igual ao destino da gente, de Olegário Mariano, declarou que jamais um parnasiano matriculado usaria a gente em prosa séria. Alberto de Oliveira, no entanto, considerado por alguns como o parnasiano mais radical, diz, em “Vaso Chinês”: Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a, / sentia um não sei quê com aquele chim / de olhos cortados à feição de amêndoa. (Sonetos e Poemas).

Jamais me senti creditado de tanto cartaz!

Por dever de fidelidade e obrigação cidadã de retorno, sobra a mim adequado demarcar, depois de suspender a redação deste comentário para continuar noutra ocasião, o acontecimento de meu ensaio haver recebido o aprovo, também, dos drs. Antônio Custódio de Matos Neto, José Washington Veras Barbosa e Sáris Pinto, em complemento à lista de pessoas habituadas, de berço, a praticar a boa educação e exercer a polidez, no decurso de tempos tão bicudos e de ensimesmamento notório, quando a grossura é a moeda de câmbio e a pseudo-relevância econômica serve de chave para desobstruir a maioria dos pórticos e alargar todas as portas.

Faço questão de propalar o hoje quase inusitado comportamento desses intelectuais, pois, além de se dignarem a ler e apreciar o relatório, subtraindo um bom retalho do seu tempo consumido em múltiplos afazeres, sugestionaram achegas relevantes a fim de a pesquisa poder aportar ao seu objetivo de demonstrar, nas mais das vezes, a impropriedade de aplicação do artigo-substantivo A Gente.

Sem dúvida, decorrem de tais procederes uma taxativa manifestação de finura e atenção ao tema pesquisado e a privativa expressão de urbanidade, no caso, relativamente à pessoa deste escriba, postado em situação comum, asserindo, com efeito, valor e verdade ao temário ali relatoriado, ocorrência a me lisonjear sobremodo.

Ainda existe isto, sim...! 

(*OBS. Este texto não tem a palavra que - salvante os textos das pessoas citadas).


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