sábado, 13 de maio de 2017

CRÔNICA - A Origem de Cabeça Chata (WI)


A ORIGEM DO NOME
"CABEÇA CHATA"
PARA IDENTIFICAR CEARENSE
Wilson Ibiapina*


Segundo Leonardo Mota, folclorista, jornalista, advogado e escritor, foram os piauienses e maranhenses que nos batizaram de cabeças-chatas durante a guerra pela independência, que é por onde vou começar essa história. Dia 13 de março a batalha do Jenipapo completou 194 anos.

Poucos sabem dessa briga, que foi decisiva para a independência do Brasil. Ela ocorreu às margens do riacho Jenipapo, no Piauí. Piauienses, maranhenses e cearenses enfrentaram as tropas do major João José da Cunha Fidié, comandante das tropas portuguesas encarregadas de manter o norte da ex-colônia fiel ao Reino de Portugal.

Dom João VI, de volta a Portugal, reconheceu que a independência do Brasil era difícil de conter-se. Aí achou de preservar o norte, reunindo Pará, Maranhão e Piauí como colônia portuguesa. Enviou então para Oeiras, capital do Piauí, o major Fidié.

Os brasileiros, sem armas de guerra e sem experiência, perderam a batalha, mas ajudaram a mudar o destino da tropa portuguesa, que foi aquartelar-se em Caxias, no Maranhão. Lá, piauienses e cearenses fizeram um cerco, obrigando o major Fidié a se render, preservando a unidade nacional.

Para que a independência se fizesse em terras piauienses foi preciso a ajuda dos cearenses. Eram homens simples, vaqueiros e roceiros humildes praticamente com a coragem e a cara. Receberam uns bonés, achatados, grandes que, segundo Leonardo Mota (o Leota) deram origem ao apelido de “cabeças-chatas”, alcunha que nunca mais nos largou. Há quem diga que temos a cabeça chata porque dormimos em rede.

Leota lembra que em São Paulo acham que o achatamento de nossas cabeças vem do fato de, desde criancinha, nossas mães darem pancadinhas na nossa cabeça, estimulando-nos: “Cresça, meu filho; cresça para ir ganhar dinheiro em São Paulo”...

Leonardo Mota dizia que temos um consolo: o mal é de muitos. “Na Europa, os alsacianos são os cabeças-quadradas (têtes carrées) e os naturais de Calais são os cabeças-de-areia (têtes sableuses).

Essa história está no livro Cabeças-Chatas, de Leonardo Mota, editado pela Casa do Ceará em Brasília, em que ele traça o perfil de alguns cabeças-chatas como Paula Nei, Capistrano de Abreu, Quintino Cunha e o jangadeiro Francisco José Nascimento, o Dragão do Mar, um dos líderes da abolição dos escravos no Ceará, que se antecipou ao Brasil em mais de quatro anos.



COMENTÁRIO:

Um fato que o nosso Leota suprime, ao especular sobre a nossa legendária bracocefalia (do qual ele certamente sabia), é que os índios encontrados nas praias cearenses eram chamados de “cambebas”, do tupi, “cabaças chatas”. Canga=cabeça; peba=chata.

Outrossim, creio que não prospera essa lenda de que o apelido se devesse ao formato das boinas, mas certamente à dificuldade de encaixá-las nas cabeçorras alencarinas. Não faz sentido que a cobertura do tal fardamento fosse exclusivamente para os cearenses, se a tropa improvisada era multiestadual.

Contudo, para mim, a característica dos autóctones não explica totalmente o formato predominante dos crânios cearenses, porque não me consta que grandes personalidades locais de todos os tempos, de rostos largos e pescoços curtos, tivessem ascendência indígena.

O conúbio do guerreiro branco com a bugra dos lábios de mel nunca saiu da ficção romântica. A miscigenação não marcou as nossas primeiras famílias – salvo nas camadas mais humildes da população.

Reginaldo Vasconcelos
    

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