DOMINGO QUASÍMODO
23 de abril de 2017- Domingo da Misericórdia (*)
Vianney Mesquita**
Perante a prova suprema – a da Morte – a fé
dos apóstolos havia perigosamente oscilado. Para o homem, a Morte é o
desabamento, é o vácuo, e no vácuo nada se reconstitui. Para Jesus Cristo, no
entanto, Morte foi um princípio – morrera: era, pois, homem. Ressurgiu: é, por conseguinte,
DEUS. (IGINO
GIORDANI. ¤Tivoli, 25.09.1894; †Rocca di Papa, 18.04.1980).
Hoje,
23 de abril de 2017, flui o Domingo da Misericórdia, coincidente com o
derradeiro dia (o de número oito) da Oitava do Tempo Pascal, que perdura por
sete semanas, desde o Domingo de Páscoa (ou da Ressurreição) ao Dia de
Pentecoste, palavra significativa de cinquenta, pois perfará a cinquentena, de
hoje a 50 dias, contando-se desde a descida do Espírito Paráclito sobre os
Apóstolos.
Sob
o ponto de vista histórico, é adequado, também, externar o fato de se haver definido
outro ritual para a Missa, em 1969, ora vigente, a instâncias do Concílio
Vaticano II, que pedira sua revisão, em ato promulgado pelo Sumo Pontífice
Giovanni Battista Montini, restando conhecido como Missa de Paulo VI.
Convém
acrescentar, em complemento, a informação de que, com origem na edição da Bula Quo Primo Tempore – “Desde os
Primeiros Momentos” – de Pio V (Antonio Michele Ghislieri),
consoante às orientações do Concílio de Trento, tinha curso a Missa no Rito Romano ou Missa Tridentina, celebrada
em latim, com o sacerdote de costas para os fiéis, tendo, pois, perdurado de 1570 a 1962, procedente do
Breve de São Pio, há pouco mencionado, isto é, até a segunda edição da grande
Assembleia Vaticana (o Concílio Ecumênico Vaticano I se deu de 8 de dezembro de
1869 a 18 do mesmo mês de 1870).
Em
adição, também, cumpre exprimir o fato de que, ainda hoje, em várias paróquias anglicanas
da Grã-Bretanha – onde a Igreja ânglica foi separada (não fundada, como se diz,
erroneamente) por Henrique VIII – o Sacrifício da Missa é oficiado em código
linguístico do Lácio, de acordo com os lineamentos do Concílio de Trento (cidade
do Tirol italiano), realizado de 1545 a 1563, sem obediência ao rito missiológico editado por Paulo VI.
Ao
vigorante Domingo da Oitava, também, se chama, nomeadamente noutros países e em
línguas correspondentes, Domingo da Pascoela, ou Pequena Páscoa (do aramaico pashã = passagem), como prolongamento da
Ressurreição, até derivar no dia de Pentecostes.
Interessante
(e curiosa, também) é a antiga denominação de Domingo Quasímodo, expressão de emprego anterior ao Decreto Pontifical de
1969, radicada – coerentemente, é bom
exprimir – no introito da Celebração Eucarística da Misericórdia, configurada
na antífona do Salmo 117, ao evocar a Ressurreição de Jesus, conforme
comentarei mais à frente.
A
dicção Domingo da Divina Misericórdia alude
à compaixão de Cristo a São Tomé, o Dídimo (do Grego = gêmeo), o qual, mesmo sem crer ao não ver, foi por Jesus perdoado. O
vocábulo “misericórdia” procede do Latim miser
+ cordis, isto é, mísero (em
estado lastimoso, indigente, digno de penúria) + coração. (CUNHA, A. Geraldo da. Dicionário
Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1997) .
Como
se sabe, esse Apóstolo não acreditou, ab
initio, na Ressurreição, dEla só ficando convencido quando o Mestre
apareceu outra vez e lhe mostrou nas mãos os sinais abertos, segurou-lhe as
mãos e introduziu os dedos de São Tomé na injúria dos pregos. O Dídimo seguiu,
arrependido e contrito, a pregar o Evangelho aos Partos, povo de procedência
indo-europeia, e na Índia. Ele foi martirizado em Calamina (hoje Mylapore),
perto de Madras (atual Chennai, capital do Estado indiano de Tamil Nadu, quarta
cidade do País, com cerca de 6 milhões de habitantes).
No
decurso da história, São Tomé Gêmeo é o protótipo dos que somente creem em algo
após terem isto examinado de alguma maneira, como ele pegou, a instâncias de
Jesus, as feridas do Cristo. Teve, entretanto, vida de santo por demais intensa
e miraculosa, havendo sido, talvez, o único dos doze discípulos de Jesus a
assistir à Assunção de Maria Santíssima.
O
dia de São Tomé, ou São Tomás (nome procedente dos arameus), é festejado em 21
de dezembro, venerado que é o (ainda) inexplicado Gêmeo nos países católicos do
Ocidente, bem assim no Oriente, máxime na Índia e na Síria, também lugares onde
operou prodígios.
Retorno
ao introito do Salmo 117 – que concedeu nome ao Domingo Quasímodo – proferido na Missa da Oitava, principiado com a frase: QUASI MODO geniti infantis, racionabile, sine
dolo lac concupiscites ut in eo crescatis
in salutem. Em tradução livre, significa: Tal como (ou “ao modo
de”)crianças recém-nascidas, desejai o leite espiritual puro, para que, por
ele, possais crescer para a salvação. (I Pe – 2,2).
(*)
Penso que, entre outros pretextos de natureza circunstancial, tenha
representado peso na mudança o fato de o adjetivo QUASÍMODO haver restado mais
conhecido e popularizado na acepção de monstrengo,
de pessoa quasimodal, consoante a
personagem Quasímodo, do celebrado romance do escritor Vitor Hugo, Nossa Senhora de Paris, editado em 1881.
Esse protagonista, feio e corcunda, sineiro da Catedral de Nossa Senhora, na
Capital francesa, fora abandonado, consoante o enredo do Escritor, ainda
criança, em um domingo de Páscoa, e adotado pelo arquidiácono, da inventiva de
Vitor Maria Hugo, na Sé de Paris, chamado Claudio Follo.
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